Topo

Leia a íntegra do segundo bloco do debate presidencial na Globo

Do UOL, em São Paulo, no Rio e em Brasília

28/10/2022 22h53Atualizada em 28/10/2022 23h01

O último debate do segundo turno das Eleições Presidenciais de 2022, entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), acontece nesta sexta-feira (29) na Rede Globo.

O segundo bloco começou com o tema do combate à pobreza e à fome no país, mas logo outros temas acabaram misturados. Os dois debateram sobre benefícios trabalhistas, corrupção, reforma agrária, reforma trabalhista e Constituição.

Bolsonaro chamou de censura a decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) contra o Grupo Jovem Pan, e foi ironizado por Lula.

Leia aqui a íntegra do segundo bloco do debate:

[William Bonner]: Nós estamos de volta com o debate para presidente da República. E, no bloco anterior, durante o exercício de direito de resposta do candidato Lula, o candidato Bolsonaro pediu também direito de resposta, mas não foi concedido. O nome do candidato nem foi citado, portanto, vamos em frente. Nesse bloco, os candidatos vão debater temas que escolherem entre os seis que o jornalismo da Globo propôs e que estão no painel entre os dois candidatos ali à frente. Cada candidato vai ter cinco minutos para falar sobre o tema escolhido. Pelo sorteio, nesse bloco, o primeiro a escolher um tema e a fazer a pergunta é o candidato Lula. Candidato, qual vai ser o tema da pergunta que o senhor vai fazer? Por favor.

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Vou falar sobre a questão previdenciária.

[William Bonner]: Essa questão não está ali, candidato.

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Que eu estava procurando o nome, desculpa.

[William Bonner]: Respeito à Constituição, equilíbrio das contas públicas, meio ambiente, combate à pobreza.

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Combate à pobreza.

[William Bonner]: Combate à pobreza. Relembrando, então, cinco minutos pra cada um dos candidatos, o senhor faz a pergunta sobre combate à pobreza para o candidato Bolsonaro.

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Eu só queria lembrar ao povo brasileiro que eu tive a alegria e o prazer de governar esse país ajudado pelo povo brasileiro. E nós vivemos um dos momentos auspiciosos da história desse país. O povo brasileiro tinha o dinheiro para comprar comida, o povo brasileiro tinha dinheiro para trocar de fogão, para trocar de geladeira, para trocar de máquina de lavar roupa, o povo brasileiro tinha dinheiro pra viajar, para dentro do Brasil e para fora do Brasil. Nós pegamos um governo que tinha 40 milhões de pessoas que viajavam de avião. Quando deixei a Presidência, eu tinha 108 milhões de pessoas que viajavam de avião. Hoje esse país tá empobrecido. Hoje vi uma manchete no jornal Folha de S.Paulo que tem 24 milhões de pessoas que não têm o suficiente para comer em casa. Eu gostaria de dizer e perguntar ao presidente por que o povo ficou tão miserável depois que ele assumiu a Presidência?

[Jair Bolsonaro]: Então, vamos lá. Dados do Ipea, Luiz Inácio. Ipea. Você não bota na mesa que teve uma pandemia, que teus governadores obrigaram o povo a ficar em casa empobrecendo o país. Dados do Ipea. Quando assumi em 2019 tínhamos 5,1% de pessoas na extrema pobreza. Mesmo com a pandemia, estamos agora com 4%. Diminuiu comigo o índice da pobreza. E dizer também que segundo o Ipea, a pobreza quem ganha até 1,9 dólares por dia. Ou seja, 10 reais por dia. O Auxílio Brasil paga 20. Então quem está com necessidade, tem gente passando necessidade, é só se cadastrar no Auxílio Brasil, Lula. Dá pra entender? Se fosse para se cadastrar no Bolsa Família, ia começar ganhando 40 reais por mês. E daí? O que você me diz sobre o Ipea, Lula?

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Sobre o Ipea não digo nada. Só digo que perguntei o seguinte: Por que tem 24 milhões de pessoas, hoje, na manchete da Folha, mas o que nós sabemos é que tem 33 milhões de pessoas passando fome que não têm o que comer em casa. Eu queria saber quando é que o presidente vai resolver esse assunto. Porque ainda o povo está na fila do osso, comendo carcaça de frango, e o preço do alimento básico do povo está muito caro. É só ir no supermercado para ver.

[Jair Bolsonaro]: Lula, minha fonte é o Ipea. O teu é a Folha de S.Paulo. Pelo amor de Deus, Lula. Folha de S.Paulo? Estão aqui os dados. Eu passei o Auxílio Brasil, o teu tempo acabou com 13 milhões de pessoas. Temos 20 milhões hoje. Porque não tem mais fila. Se paga no mínimo 600 reais por mês. No teu tempo era 190, em média. Segundo o Ipea aqui, se tem gente passando fome? Tem, não há dúvidas de que tem. Você gosta de chutar números. Lembra quando você falou lá fora, "No Brasil tem 30 milhões de crianças abandonadas na rua". Você é especialista em mentir e chutar números. No nosso governo quem estiver passando necessidade procura, bate na porta alguém, esse alguém te ajuda a cadastrar sem passar pela Prefeitura. Passa a receber, no mínimo, 600 reais por mês. Aí sim uma ajuda que dá para compensar muita coisa.

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Não respondeu o problema. Eu quero saber? eu quero saber: apesar dos 600 reais, tem 33 milhões de pessoas passando fome, e a Folha de S.Paulo hoje publica que tem mais 24 milhões que não têm comida suficiente em casa. Se não tem outro assunto, vamos mudar de assunto. Se não sabe responder, vamos mudar de assunto.

[Jair Bolsonaro]: Eu te mostrei com dados do Ipea. Pega essas pessoas que estão passando fome, entra em contato com elas, que nós botamos no Auxílio Brasil. Dá 20 reais por dia. Dá 600 por mês. Se fosse o Bolsa Família ainda, aí tu podia falar, aí tinha razão: pessoal passando necessidade, fome. O nosso governo, segundo o Ipea, quem ganha até dez reais por dia tá abaixo da linha da pobreza. Nós estamos oferecendo 20 por dia! Para de mentir, Lula! Pelo amor de Deus, para de mentir.

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Eu vou pedir, porque eu vou dizer que aqui só tem um mentiroso chamado... Não vou dizer o nome para ele não ter direito de resposta. Eu vou repetir outra vez o que eu já falei: quem mente nesse país o senhor sabe quem é. O senhor sabe quem é. Então, toda vez que mentir, eu vou pedir direito de resposta, porque esse é um programa para dizer a verdade, e eu estou dizendo o seguinte: tem 33 milhões de pessoas passando fome nesse país. E hoje a Folha alega que tem 24 milhões de pessoas que não conseguem comprar alimento. A minha pergunta é a seguinte: quando é que vai resolver isso? O Bolsa Família eu já falei, era um conjunto de políticas públicas que fez esse país ser um exemplo no mundo de política social. Sabe, se você não lia, se você não queria saber, paciência. Tem alguém pedindo para você repetir lá, repete.

[Jair Bolsonaro]: Chegou em um impasse aqui, não é? Eu dou dados do Ipea, falo que, segundo o Ipea, é dez reais; até dez reais, quem ganha esse valor está na linha da pobreza, nós estamos oferecendo o dobro para sair da linha de pobreza, e ele fica patinando. A saída está aí: Auxílio Brasil, que toda a bancada do PT na Câmara votou contra a criação do Auxílio Brasil! Ou seja, você é favorável, Lula, que o povo passe fome. Você é favorável que o combustível fique lá em cima para você chegar no poder e posar de salvador da pátria. Longe disso, tu é um grande farsante, Lula! Começa pela escolha do seu candidato a vice.

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Olha, se ele não sabe responder, eu vou dar uma dica para ele: vocês fizeram uma reforma da Previdência em 1919. Você tem noção— Por acaso o Guedes te orientou o que é que vocês fizeram com o aposentado? Vocês sabem que vocês reduziram a quantidade de dinheiro que a pessoa pensionista recebe? Você sabe que aumentaram o tempo da mulher para se aposentar? Você sabe que vocês reduziram o dinheiro de se aposentar de um trabalhador que trabalha o tempo inteiro? Se o Guedes não te falou, no intervalo liga para ele para ver por que o povo está passando fome. É porque o aposentado também está passando fome, porque o aposentado também não teve aumento de salário mínimo. É isso que está acontecendo nesse país que você deveria saber! É o mínimo que a tua equipe econômica deveria te dizer. E, aliás, eu queria te lembrar que quem falou de 13º e férias foi o teu deus, o Guedes.

[Jair Bolsonaro]: Ah, começou a responder?

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Ele que falou. Ele que falou.

[Jair Bolsonaro]: Então dá para acabar com 13º e férias por projeto de lei? Está na Constituição, cláusula pétrea. Você foi constituinte, Lula, para de mentir! Tu foi constituinte! Está no Artigo 7º dos direitos, cláusula pétrea, não tem como mexer! E o Guedes não falou isso, não.

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Por favor, entra no Google. Pede para a tua assessoria entrar no Google e ver se o Guedes não disse que ia acabar com o 13º e férias. Aliás, o que ele diz, você acredita.

[Jair Bolsonaro]: Bem, realmente fica difícil conversar com um elemento cuja máxima é mentir o tempo todo, enganar. Essa tática de férias e 13º, quem é mais velho aí, entra no Google. 2002, o PT fez campanha em cima disso, amedrontando a população que o Congresso ia acabar com o 13º, com férias, licença gestante e hora extra. Em consequência, fizeram uma grande bancada, lá, de deputados. Fizeram, sim, fizeram. Mas não prosperou nada disso. A mentira se viu lá na frente, e você fez a pior gestão da tua história. O seu governo foi campeão em corrupção, Lula, nada mais além disso. E falar em aposentado, especialidade em roubar aposentado é tua. Veja como é que estão os aposentados da Caixa Econômica Federal, da Petrobras e dos Correios. Tem um desconto extra enorme até 2030, porque vocês roubaram os fundos de pensões deles, e se eles não fizessem desconto até 2030, teria quebrado a previdência deles e eles estariam sem aposentadoria hoje em dia.

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Eu vou dizer uma coisa aqui para o Presidente falar, para ver se ele muda de assunto. O benefício para as pessoas portadoras de deficiência passou de pouco mais de 30 dias para pessoa receber para 446 dias. O benefício de acidente de trabalho passou de 25 dias para 212 dias. O amparo social ao idoso passou de 11 dias para 228 dias. Um trabalhador que poderia se aposentar com 2 mil reais hoje se aposenta com 1.300. E uma pensionista se aposenta com mil se a pensão fosse dois mil. É isso que vocês fizeram de reforma. Ou seja, é sempre, é sempre, é sempre em cima do povo pobre, do povo trabalhador. É por isso que o povo está com fome. É por isso que os 600 reais não resolveram.

[Jair Bolsonaro]: Continua chutando números. Chutando números. O que nós fizemos foi muita reforma, sim, muito marco regulatório, que criou emprego no Brasil, deu condições ao Brasil prosseguir nesse caminho da prosperidade. Diferente do teu, Lula, onde só existia corrupção. Para de chutar número, Lula!

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Prosperidade para quem? Isso é o que precisamos saber. Talvez para a família Bolsonaro. Porque comprar 51 imóveis com 26 milhões, a dinheiro, aí sim teve prosperidade. Porque o povo não está conseguindo sequer comprar carne.

[Jair Bolsonaro]: Cinco segundos, peço direito de resposta. Acusou a minha família.

[William Bonner]: Temos três segundos, candidato Lula. Bom, o candidato Lula pediu quatro direitos de resposta, o candidato Bolsonaro pediu um direito de resposta, nenhum deles foi concedido. Vamos seguir em frente então. Agora é o candidato Bolsonaro quem vai escolher um dos cinco temas remanescentes na nossa tela para fazer uma pergunta ao candidato Lula.

[Jair Bolsonaro]: Respeito à Constituição.

[William Bonner]: Respeito à Constituição. O senhor pode começar. Cada candidato tem direito a cinco minutos para debater esse tema. O senhor começa.

[Jair Bolsonaro]: Há três anos e dez meses, eu jogo dentro das quatro linhas da Constituição. A minha carta à democracia é a Constituição. Quantas vezes matei no peito decisões das mais absurdas, mas não saí das quatro linhas da nossa Constituição. Lula, você defende invasão de terras, lá do João Pedro Stédile, Zé Rainha. Você defende invasão de propriedade aqui na cidade, do Boulos. Isso é respeitar a Constituição, Lula?

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Eu vou falar aqui agora. O cidadão diz que respeita a Constituição. Ele vive todo santo dia ameaçando o ministro da Suprema Corte. Ele vive ameaçando fechar, ele vive ameaçando que não vai respeitar decisão, vive xingando pessoalmente os ministros da Suprema Corte. Ele não tem respeito pela Constituição. E parece que o que ele tem é algum militar chefe dele que, de vez em quando, fala para ele: "Para de ameaçar. Para de ameaçar". Porque ele não respeita a Constituição, faz muita coisa por fora da Constituição, ofendendo tudo o que é pessoa, coisa que um presidente da República não pode fazer.

[Jair Bolsonaro]: Liberdade de expressão. A rádio Jovem Pan foi calada pelo ministro Alexandre de Moraes e o TSE. Mas quem entrou com a ação contra a Jovem Pan foi o teu partido, Lula. Foi o teu partido que entrou com uma ação no TSE para calar a rádio Jovem Pan. E você vive dizendo em controlar a mídia, em amordaçá-la. Repita aqui, Lula, o que tem falado por aí sobre liberdade de expressão. Repita.

Juristas de direito eleitoral dizem que a liberdade de imprensa foi preservada, já que a legislação prevê que candidatos não podem ser tratados de forma desigual por empresas com concessão pública.

[Luiz Inácio Lula da Silva]: A Jovem Pan, por acaso, é aquele seu canal de televisão? O que os advogados do PT entraram foi com pedido de isonomia. Sabe o que é isonomia? É de igualdade de direito de resposta.

[Jair Bolsonaro]: Não, Lula. Entraram para, entre outras coisas, para que não pudesse falar que você tinha sido descondenado, que você é chefe de organização criminosa. É isso que entraram. E o TSE atendeu.

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Olha, organização criminosa ele sabe quem é chefe. Ele sabe o tipo de gente que ele tem no Brasil. E o povo sabe, porque o povo conviveu comigo. É por isso que o povo me deu a vitória no primeiro turno. Porque o povo sabe que se tem um cara que sabe cuidar do povo aqui, sou eu, que sabe cuidar das crianças, sou eu. Que sabe cuidar do trabalhador, sou eu. Ele não sabe. Ele não sabe, ele vive ofendendo as pessoas, ofendendo todo mundo. É importante ter claro, você não tem respeito pela Constituição. O que você tem é medo. Mas respeito você não tem.

[Jair Bolsonaro]: Lula, vamos voltar ao tema propriedade privada que está na Constituição. O que tu falou aí não tem nada a ver com a Constituição. A propriedade privada é garantida pela Constituição. No teu Governo, Lula, o MST, o teu MST, do teu amigo João Pedro Stédile e José Rainha, em média, ao longo de oito anos, faziam 20 invasões por mês. No meu governo, passou a ser cinco. Por que invadiam tanto a propriedade privada e produtiva no teu tempo e você não reclamava e não advertia Stédile e Zé Rainha?

[Luiz Inácio Lula da Silva]: É só você informar para o povo que quando os Sem Terra ocupava uma terra improdutiva, quem dizia se a terra era improdutiva ou não, quem desapropriava era órgão do governo chamado Incra. Portanto, não vejo nada demais. E queria dizer um número. Guarda esse número. Nos meus oito anos de governo, eu disponibilizei 51 milhões de hectares de terra para os sem-terra, para a Contag, para o pequeno produtor, que são praticamente quatro milhões e meio de pequenos produtores até 100 hectares que produzem 70% do alimento no Brasil. Essa gente, na verdade, fez um bem para o Brasil, e essa gente está produzindo hoje muito para o Brasil e vão produzir muito mais.

[Jair Bolsonaro]: Lula, olha só como você é mentiroso. Eu dei títulos para mais de 420 mil assentados. Por que que você não dava título? Porque você usava esse pessoal para invadir terras por aí. Eu dei liberdade a essas pessoas. Lula, só nesse ano, os oito meses desse ano, no meu governo, eu entreguei mais título da Reforma Agrária do que você em oito anos do seu Governo. Você nunca se preocupou com os assentados. Você usava esse pessoal assentado para invadir terras por aí, levar terror ao campo. Isso que você fazia. Lula, quantos títulos você entregou de propriedade no teu Governo? Responde aí.

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Quem entrega título, na verdade, é um órgão do governo chamado Incra. O que eu fiz foi disponibilizar terra para produzir comida nesse país. E se voltar e tiver terra improdutiva e tiver gente querendo trabalhar no campo, essa gente vai ter o direito de trabalhar no campo.

[Jair Bolsonaro]: Não respondeu. Eu dei mais título do que você e Dilma juntos. Ponto final. Eu tratei com dignidade o assentado, que era usado por você para invadir terras por aí. Levar o terror aos campos do Brasil. E quando eu dou título para essas pessoas, 420 mil, 80% para as mulheres, eu dou com dignidade. Essas pessoas passam a integrar a agricultura familiar. Passa a ter acesso a banco. Se sente realmente um cidadão. Sabe que aquilo que ele fizer na tua terra ficará para os seus filhos e netos. Isso é dar dignidade e tratar com respeito o homem do campo. Não é criar assentamento e depois usar o pessoal para invadir fazendas improdutivas por aí.

[Luiz Inácio Lula da Silva]: O candidato se lembra desse discurso? Eu vou ver um trecho aqui. "Não adianta uma multidão de brasileiros subnutridos sem condições de servir a seu país. Conclui o então deputado, que oferece que seja distribuído pílula de aborto para a sociedade brasileira em 1992", quando era Deputado. Falou isso ou não?

[Jair Bolsonaro]: 30 anos atrás?

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Falou isso ou não?

[Jair Bolsonaro]: Não confunda pílula do dia seguinte. Não confunda. Você tá pegando um jornal aí... Negativo. Abortivo é Cytotec. É pílula do dia seguinte. É isso? Outra coisa, 30 anos atrás? Eu posso mudar. Agora, você há poucos dias falou claramente que aborto é uma questão de saúde pública. Que as madames iam fazer aborto lá fora. Aqui dentro, as mulheres faziam outras coisas. Você é abortista, Lula. Você é abortista convicto. E você sempre trabalhou com isso. As suas ex-ministras de Direitos Humanos trabalharam nisso. Então, você é abortista. Pegou matéria de 30 anos atrás, nem lembro mais do que se tratava 30 anos atrás. Pega discurso da Câmara, já que é discurso, pega a fita e mostra. Lula, assuma que você é abortista, Lula, que não tem qualquer respeito com a vida humana.

Diferentemente do que disse Bolsonaro, Lula afirmou em outubro ser contra o aborto e que o tema não é da alçada de um presidente, mas do Legislativo.

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Eu vou dizer uma coisa. Primeiro, eu sou contra o aborto, e as minhas mulheres eram contra o aborto. Minha mulher é contra o aborto. E eu respeito a vida porque eu tenho cinco filhos, oito netos e uma bisneta. Portanto, se você quiser jogar a culpa do aborto em alguém, jogue em você mesmo, porque em mim não cola. Em mim não cola.

[Jair Bolsonaro]: Não vou trazer aqui o caso da primeira mulher dele, porque... eu quero respeitar essas pessoas, respeitar a filha que nasceu naquele momento. O Lula muda agora, diz que não é abortista, porque tem eleição. Assim como o seu candidato ao Governo do Rio de Janeiro virou contrário à liberação das drogas. Lula, tu é abortista. Tu é favorável à liberação das drogas; o que é mais grave: você é favorável à ideologia de gênero! Você não pensa na família e nem nas crianças, Lula?

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Olha, eu só queria dizer pra vocês o seguinte: eu acho que está chegando o momento de a gente discutir alguma coisa com mais seriedade. Eu estou aqui para discutir o seguinte: o que é que a gente vai fazer nesse país. E eu vou começar, a partir do próximo bloco, falar de programa de governo. Eu vou dizer o que eu vou fazer, que tipo de política de desenvolvimento que eu vou fazer, que tipo de investimento eu vou fazer, que tipo de política para atrair investimento externo e externo direto para esse país, que tipo de política a gente vai fazer de financiamento, que tipo de política a gente vai fazer para convencer os empresários brasileiros a investir. Eu acho que é isso que você está esperando e é isso que vou fazer para que a gente possa tirar proveito dessa noite.

[Jair Bolsonaro]: Tem um vídeo de Lula em 2003 dizendo que mentiu durante a campanha e, quando assumiu, teve que fazer tudo completamente diferente do que falou lá atrás. Você vai cair nessa conversa de novo? Lula, para de mentir, vai para casa, Lula!

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Eu, sinceramente, queria pedir desculpas à Rede Globo de Televisão, porque esse comportamento insano é o que vem governando o Brasil praticamente há quatro anos. Todo mundo sabe dos rompantes dele, todo mundo sabe das ofensas dele, todo mundo sabe das agressões dele à mulher, as agressões a um quilombola, as agressões a jornalista, todo mundo sabe, todo mundo lê e todo mundo vê na televisão. Agora, aqui, em um debate, eu imaginava que ele se assenhorasse do cargo que ele exerce e estivesse fazendo alguma proposta para o futuro.

[William Bonner]: Candidato Lula pediu cinco direitos de resposta e foi concedido um. O senhor tem um minuto, o seu direito de resposta, candidato Lula, a partir de agora.

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Olhe, eu fiz uma pergunta sobre fatos da reforma da Previdência. A reforma da Previdência prejudicou os aposentados, aumentou o tempo de serviço, tirou aposentadoria por tempo de contribuição e prejudicou sobretudo a pensionista, que vai receber metade agora. E o trabalhador aposentado, a partir de agora, ele vai ganhar menos do que ele ganhava, porque mudou a base de cálculo. Eu só perguntei isso para ele, e ele deveria responder com o mínimo de tranquilidade, com o mínimo de respeito ao aposentado e à pensionista, e não ficar gritando, berrando como se estivesse em casa. Isso você pode fazer na sua casa; em um estúdio de televisão, com tanta gente olhando, sabe? Com a sua família olhando, com a minha família olhando. É preciso ter respeito. Se comporte como Presidente da República que você ainda o é. Se comporte. Tenha o mínimo de postura.

[William Bonner]: Obrigado, candidatos. Fim do segundo bloco do debate, nós voltamos daqui a pouco— Ah, sim: o candidato Bolsonaro pediu um direito de resposta; não foi concedido. Nós voltamos daqui a pouco.

*Participaram desta cobertura: Em São Paulo: Ana Paula Bimbati, Beatriz Gomes, Felipe Pereira, Herculano Barreto Filho, Isabela Aleixo, Juliana Arreguy, Letícia Mutchnik, Lucas Borges Teixeira, Stella Borges, Saulo Pereira Guimarães e Wanderley Preite Sobrinho. No Rio de Janeiro: Lola Ferreira. Em Brasília: Camila Turtelli, Leonardo Martins e Paulo Roberto Netto. Colaboração para o UOL: Amanda Araújo e Pedro Villas Boas.