Voto secreto e futebol: o clima a 24 horas da eleição em bairros de SP e RJ
A véspera do segundo turno das eleições foi marcada por manifestações explícitas de apoio aos presidenciáveis —como bandeiraços e distribuição de adesivos— assim como refletiu a apreensão de eleitores em se posicionar em meio ao acirramento da disputa em bairros de São Paulo.
No Rio, houve torcedores do Flamengo —campeão da Libertadores da América na tarde de hoje— que se posicionaram com adesivos do seu candidato sobre a camisa do time e gritos de apoio.
Houve aglomeração de militantes fazendo bandeiraço em prol do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Grajaú, bairro da zona sul paulistana onde Lula ganhou com mais de 60% dos votos no primeiro turno.
Na avenida Dona Belmira Marin, uma das mais movimentadas do bairro, um grupo de apoiadores se reunia para pegar ônibus rumo à avenida Paulista, para acompanhar o ato de encerramento da campanha de Lula. "Faz o 'L'", gritava um deles para os passageiros de um coletivo.
Os relatos de desentendimentos eram pontuais, mas moradores que conversaram com o UOL citaram a tensão.
"Estamos vivendo um momento de polarização agravada pelo ódio e pelo enfrentamento de pessoas que não aceitam as diferenças. Mas são raros os casos de pessoas com uma postura mais agressiva", diz o professor Humberto Oliveira Santos, 55, do Movimento Popular de Saúde Capela do Socorro.
"Às vezes, tem gente que grita 'Bolsonaro', mas ninguém nos agride. Tem muita gente do PT aqui no Grajaú", diz Mabel Chavez Garcia, 43, com adesivos colados na roupa e uma bandeira do partido.
Filiada ao PT há mais de 20 anos, ela disse ter acordado às 8h para entregar panfletos pelas ruas da região.
Perto dali, também se viam cartazes com o rosto de Tarcísio de Freitas, candidato do Republicanos ao governo de SP, e do presidente Jair Bolsonaro (PL), com pessoas paradas perto de um semáforo.
Um veículo identificado com bandeiras do Brasil e fotos de Bolsonaro e Tarcísio chegou a passar por ali reproduzindo o Hino Nacional em uma caixa de som acoplada no teto do veículo.
Mobilização bolsonarista no Tatuapé. No viaduto Carlos Ferraci, no Tatuapé, zona leste da capital, um grupo de dez apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) provocou a reação de motoristas que passavam pela radial Leste.
No primeiro turno, Bolsonaro teve 48,98% dos votos dos moradores do Tatuapé.
Ao avistar a bandeira do Brasil, a maioria dos condutores buzinava e acenava em apoio à manifestação. Mas houve quem passasse fazendo o "L" de Lula com a mão para fora do carro.
Três viaturas da Polícia Militar chegaram no local. Os policiais orientaram o grupo a retirar as faixas e bandeiras com conotação política. Eles recolheram o material e ficaram apenas com as bandeiras com as cores do Brasil.
No Rio, política e futebol. Na Cinelândia, centro do Rio, em um restaurante onde foi montada uma tenda para os torcedores que assistiram à vitória do Flamengo, bandeiras de Lula se misturaram às do campeão da Libertadores.
Após a vitória por 1 a 0 contra o Atlético-PR, chegou a ser puxado um coro com o jingle do candidato "ô lê, ô lê, o lê, ô lá, Mengo, Lula". O local é um tradicional ponto de manifestações da esquerda na capital fluminense.
Assim como na Cinelândia, o clima era pacífico na praça Varnhagen —na Tijuca, zona norte— que reuniu torcedores do Flamengo para a final.
A maioria identificada com adesivos de Lula chegou a fazer um coro exaltando o candidato, especialmente quando uma carreata passou pelo local.
Com relação aos bolsonaristas, as manifestações foram mais discretas —apareceram, por exemplo, em um momento que uma repórter de TV entrou ao vivo para falar sobre o ambiente.
A dentista Mila Borba e as advogadas Vanessa Aragão e Carla Bevaferi —as três rubro-negras— disseram que um rapaz se recusou em um primeiro momento a tirar uma foto delas por conta dos adesivos do petista, mas o Fla acabou unindo todos.
"O menino não quis tirar a foto. Perguntou se era Flamengo ou Lula. Dissemos Flamengo e fizemos o L", disse Vanessa. "O pessoal depois do jogo puxou o coro de fora Bolsonaro. A Carla é do PT, eu votei no Ciro em 2018. Queria uma terceira via para apaziguar isso. Mas acima de tudo sou anti-Bolsonaro", falou Mila.
'Uma guerra'. Em Piraporinha, também na zona sul paulistana, a reportagem viu uma van com mais de cem adesivos com fotos de Lula e Haddad. Havia adesivo também nas bancas de pastel e caldo de cana.
"Eu voto no PT, mas essas eleições já viraram uma guerra. As pessoas não gostam de discutir política com quem pensa diferente", disse a atendente Ana Luiza Brito da Silva, 18.
Apesar do ambiente tranquilo, a eleição ainda parece ser uma espécie de tabu nas conversas entre quem transita por ali.
A feirante Áurea Julião, 63, que vende comida típica baiana na praça em frente à avenida M'Boi Mirim, prefere nem revelar a sua escolha política. "O voto não é secreto? Eu não gosto de falar de política, porque isso dá problema. Você não acha?", pergunta.
Eleitor de Jair Bolsonaro, o autônomo Fernando Rodrigues Araújo, 70, diz ser minoria. "Aqui, só tem PT. Se eu ficar falando muito do Bolsonaro, dá discussão."
"Eu vou votar no Lula, mas procuro não falar muito disso. Prefiro simplesmente votar do que discutir", diz a faxineira Antônia Carla da Jesus, 44.
Clima tranquilo em escola onde PMs foram baleados. Em frente à Escola Estadual Deputado Aurélio Campos, na Cidade Dutra, também na zona sul de SP, o clima era de tranquilidade. Foi lá onde dois policiais militares foram baleados por homens em uma moto no primeiro turno, em 2 de outubro.
A motivação ainda é desconhecida, mas não se tratou de crime de natureza política.
Após o episódio, chegou a ser cogitada a transferência do ponto de votação, segundo pessoas ligadas à direção da escola ouvidas pelo UOL Notícias. Mas a possibilidade foi descartada devido ao entendimento de que tinha sido "um caso isolado."
Segundo os moradores, a circulação de viaturas da PM se intensificou após o ataque. "No primeiro turno, o pessoal falou que não era para sair de casa por causa dos tiros. Foi a primeira vez que presenciei esse tipo de situação aqui", disse a diarista Maria das Graças, 59, que mora há três décadas na região.
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