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Na véspera da eleição, disputa em janelas se acirra e causa brigas no Rio

Do UOL, no Rio

29/10/2022 21h11

Com a disputa entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) pela Presidência da República e a proibição de placas dos candidatos em postes e outros equipamentos urbanos, as janelas de prédios se tornaram o grande ponto de disputa política no Rio de Janeiro. A exposição de bandeiras, toalhas e adesivos têm provocado brigas entre vizinhos e problemas nos condomínios.

Em bairros como a Tijuca, na zona norte do Rio, é difícil encontrar um prédio em que nenhuma janela traga manifestações políticas. Os partidários de Lula exibem materiais da campanha petista e bandeiras do PT. Já os bolsonaristas usam bandeiras do Brasil, muitas com o rosto do presidente.

A disputa política nos condomínios nem sempre é pacífica. Há diversos relatos de desentendimentos entre vizinhos ou ações consideradas autoritárias por parte das administrações. É o caso da dentista Carolina Meirelles, que mora em um condomínio em Campo Grande, na zona oeste carioca.

Eleitora de Lula, ela decidiu colar um adesivo do petista em uma mesa na varanda de seu apartamento após notar que diversos moradores expunham bandeiras do Brasil, sinalizando apoio a Bolsonaro. Carolina relata ter sido surpreendida por uma notificação do síndico determinando a retirada.

"Quem recebeu a notificação foi a minha irmã. Ele não deu justificativa nenhuma, só pediu para retirar [o adesivo]. Quem repassou para ela foi um funcionário do condomínio, que disse que o síndico não quer. Bateram lá e pediram para tirar porque o síndico não quer", conta ela. "Coloquei na mesa justamente para não dar motivos por conta das regras do condomínio e mesmo assim tive que tirar."

Carolina não recebeu informações sobre notificações a outros moradores com posicionamento político de direita, mas diz acreditar que eles não tenham sido repreendidos da mesma forma.

"Tinha outro vizinho com bandeira escrita 'Fora Bolsonaro' que provavelmente foi notificado também, pois retirou da varanda. Não sei [se os bolsonaristas foram advertidos], mas provavelmente não, visto que tem várias espalhadas pelas varandas", reclama ela.

O mesmo cenário ocorre até mesmo em condomínios de classe média-alta. Uma moradora do Cidade Jardim —um dos mais famosos condomínios da Barra da Tijuca, na zona oeste— passou pelo mesmo tipo de situação. Como o bairro é um dos maiores redutos bolsonaristas no Rio, ela não se identificou por medo de represálias.

"Vendo aquele monte de bandeiras do Brasil nas janelas, resolvi colocar uma bandeira do PT para me manifestar. No dia seguinte, meu marido recebeu uma ligação do condomínio."

Ela admite que a prática de fato é contra as regras, mas afirma acreditar que a norma só é utilizada contra quem manifesta apoio a Lula.

"Na convenção [do condomínio], tem que não pode ter bandeira, mas você sente que é tudo feito muito em cima da hora para evitar esse momento [de apoio a Lula]", avalia ela.

"Questionamos a administração do condomínio e eles falaram que bandeira do Brasil era diferente por causa da Copa do Mundo, que não era manifestação política. Mas tem várias bandeiras do Brasil com a foto de Bolsonaro no meio."

A moradora, que é militante de esquerda, se diz frustrada com a situação. "É uma coisa boba, mas é toda hora uma agressão no seu direito de expor sua posição. As pessoas denunciam, fazem pressão", completa.