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Homem que ficou sob mira de Zambelli presta depoimento: 'Quero proteção'

Do UOL, em São Paulo

30/10/2022 08h54

O jornalista Luan Araújo, 32, que foi perseguido e ficou sob a mira da arma da deputada bolsonarista Carla Zambelli na tarde de ontem no bairro dos Jardins, em São Paulo, prestou depoimento à polícia na noite de ontem, assim como a parlamentar.

Em conversa com jornalistas na saída da delegacia do 4º Distrito Policial, no bairro da Consolação, o homem se mostrou assustado com a repercussão do caso e preocupado com a própria segurança.

"Eu só quero proteção, que me protejam, que protejam minha mãe, minha família, mais nada", disse. As falas foram registradas em um vídeo divulgado pelo portal Metrópoles.

Aos jornalistas, Luan contou que tinha saído de um chá de bebê quando se envolveu na discussão, que terminou em ameaças da deputada e do segurança dela, ambos armados, contra ele. Ele disse que sabia do ato pró-Lula registrado na Paulista, mas que não estava a caminho do local.

"Ia para outra comemoração e acabei me dando conta de que eu vi uma arma apontada para mim por causa de discussão política. É algo muito grave. Mais do que a questão política: eu sou uma pessoa preta, uma pessoa periférica, e apontaram uma arma para mim", lamentou.

Questionado sobre se tinha sido vítima de racismo, o homem não quis comentar o fato diretamente. "Sou um homem preto, periférico, e apontaram a arma para mim à luz do dia", disse. Luan estava acompanhado de advogados do grupo Prerrogativas, que confirmaram a prisão do segurança da deputada, que atirou durante a perseguição ao homem desarmado.

Nas redes sociais, a advogada de Luan, Sheila de Carvalho, afirmou que a deputada prestou depoimento sozinha, sem o apoio de qualquer colega bolsonarista. "Abriram mão dela muito mais rápido do que largaram o Roberto Jefferson", afirmou.

A deputada publicou no Instagram um vídeo em que o rapaz aparece xingando-a e dizendo que "amanhã é Lula, papai". "Vai voltar para o bueiro, filha da puta. Sua nojenta, lixo", disse o homem. Não houve agressão física.

Relembre o caso

Carla Zambelli foi filmada apontando uma arma para Araújo na esquina da rua Joaquim Eugênio de Lima com a alameda Lorena, em São Paulo.

No vídeo, ela atravessa a rua e entra em um bar com uma pistola empunhada. Ela afirma ter sido agredida e empurrada pelo jornalista. "Eles usaram um negro para vir em cima de mim", disse.

Araújo conversou com o UOL e afirmou que a intenção de Zambelli era prendê-lo e matá-lo. Araújo afirmou que a confusão começou porque ele encontrou com Zambelli em um bar e a mandou "tomar no cu".

Ele relata que as pessoas que acompanhavam Zambelli começaram a filmar a discussão até que o homem disse "te amo, espanhola". Foi neste momento que Zambelli se desequilibrou, caiu e passou a correr atrás da vítima com a arma.

A ação aconteceu na esquina da rua Joaquim Eugênio de Lima com a alameda Lorena. Pela gravação, é possível ouvir a deputada falando para o jornalista mais de uma vez "deita no chão". Pessoas que estavam no local tentaram contê-la e uma voz afirma "ela quer me matar, mano".

O artigo 154 da resolução do TSE, datado de 1º de setembro de 2022, afirma que: "A força armada se conservará a 100 m (cem metros) da seção eleitoral e não poderá aproximar-se do lugar da votação ou nele adentrar sem ordem judicial ou do presidente da mesa receptora, nas 48 (quarenta e oito) horas que antecedem o pleito e nas 24 (vinte e quatro) horas que o sucedem, exceto nos estabelecimentos penais e nas unidades de internação de adolescentes, respeitado o sigilo do voto".

O artigo detalha, ainda, que a "vedação prevista no caput aplica-se, inclusive, aos civis que carreguem armas, ainda que detentores de porte ou licença estatal" e diz que o descumprimento do artigo pode acarretar em prisão em flagrante por porte ilegal de arma, sem prejuízo do crime eleitoral correspondente.

Em nota, no início da noite, Zambelli relatou que após ter sido xingada e "cair no chão", sem citar nenhum empurrão. "Numa fração de segundos", ela diz que "examinou o fluxo de pessoas, sacou uma arma da cintura e acelerou em direção ao agressor". Ela disse que não houve disparos.

Testemunhas falaram que a polícia interditou a passagem de veículos na rua para preservar a cena do ocorrido. Ele diz ter ouvido um disparo, mas que não viu quem o efetuou.

Em nota, a (SSP-SP) Secretaria de Segurança Pública de São Paulo confirmou a prisão do segurança de Zambelli, um policial militar de 46 anos que efetuou um disparo. Ele foi liberado após pagamento de fiança. A arma dele foi apreendida para perícia. O caso é investigado como disparo de arma de fogo, injúria, ameaça e lesão corporal.

Segundo a SSP, o caso será encaminhado à Polícia Federal e ao Tribunal Regional Eleitoral para "as devidas providências".

Acompanhe no Placar UOL a apuração completa dos votos em tempo real a partir das 17h. Além da disputa presidencial — que vale para todo o país —, também serão mostrados os resultados dos 12 estados em que os eleitores também votarão para governador neste 2º turno.