Derrotado, Haddad continua em alta no PT e é cotado para ministério de Lula
Apesar da terceira derrota seguida nas urnas, Fernando Haddad continua bem avaliado dentro do PT após conseguir o melhor resultado da história do partido em uma disputa para o governo de São Paulo. Sem cargo eletivo, ele é cotado para assumir um ministério no futuro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), eleito ontem presidente.
Desde que ganhou a Prefeitura de São Paulo, em 2012, Haddad nunca mais venceu uma disputa: em 2016, na tentativa de se reeleger à prefeitura, em 2018, à Presidência da República, e agora, para o governo paulista.
Futuro. Homem de confiança de Lula, Haddad tem o nome ventilado internamente para ocupar um dos ministérios do próximo governo federal. Ele já declarou a pessoas próximas que não tem interesse em retomar a sua antiga pasta, a Educação, que ocupou por quase sete anos.
Dentro do PT há quem acredita que ele tenha perfil para o Ministério da Economia, já que ele possui mestrado na área pela USP (Universidade de São Paulo).
No entanto, pessoas próximas a Haddad e a Lula acreditam que a aposta do próximo governo deve ser em um nome já bem aceito pelo mercado, como Henrique Meirelles (União Brasil) ou Armínio Fraga.
Ministério. Nas duas campanhas a pasta que mais tem sido ventilada para Haddad, até o momento, é a Casa Civil. Para aliados do petista, ele possui o perfil certo para fazer a interlocução entre diferentes áreas do governo. Pessoas próximas a Haddad dizem que ele comprovou, nestas eleições, a sua capacidade de organizar bons arranjos políticos.
Em São Paulo, ele conseguiu que Guilherme Boulos (PSOL) e Márcio França (PSB) desistissem das candidaturas ao governo para se lançarem à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal — apenas o primeiro foi eleito.
Também é atribuída a Haddad a reaproximação do PT com a ex-ministra Marina Silva (Rede) após anos de rompimento com o partido. Eleita deputada federal, Marina dividiu o palanque com Lula e Haddad em São Paulo e esteve presente em diversos compromissos do ex-prefeito durante a campanha.
Braço direito. A Casa Civil também é vista com bons olhos por aliados de Haddad por representar um recado de Lula ao PT. A escolha de Haddad para o cargo, se ocorrer, aponta mais um voto de confiança nele, sobretudo após as críticas que o candidato ao governo de SP recebeu internamente após o primeiro turno.
Haddad desconversa. Questionado ontem sobre a possibilidade de ser ministro de Lula outra vez, o petista deu uma resposta vaga.
Nunca conversei com o Lula sobre a possibilidade de perder as eleições em São Paulo, nem teria cabimento isso. A gente brigou para ganhar, até ontem [sábado] à noite estávamos na luta para ganhar. O Lula tem toda a liberdade para montar sua equipe (....) Espero que ele faça o que fez quando ganhou em 2002, compôs uma equipe que representa o Brasil, que recoloque o país na trilha do desenvolvimento.
Fernando Haddad
Cabeça erguida. Internamente, correligionários observam que uma eleição como a deste ano não pode ser considerada de todo uma derrota para Haddad. Pesou contra ele o uso das máquinas públicas, federal e estadual, por parte de Tarcísio.
Tarcísio, nascido no Rio de Janeiro e ex-ministro da Infraestrutura do presidente Jair Bolsonaro (PL), foi alavancado pelo aliado a nível nacional. Já em São Paulo, ele contou com o apoio do atual governador Rodrigo Garcia (PSDB) no segundo turno.
Outro desafio que já era previsto pelo PT era o de conquistar o eleitor do interior paulista, que tradicionalmente rejeita o partido. Ontem, Haddad fez uma avaliação do desempenho dele fora da Grande São Paulo, projetando um cenário melhor para o partido daqui a quatro anos.
"Agradeço o interior de São Paulo porque veio conosco em grande medida. Muita gente do interior jamais votou em 13 [número do PT nas urnas], foi a primeira vez. Esse é o começo de um namoro, vamos conquistá-lo. Já estamos mirando os 50% [de votos nos interior]. Vamos namorar muito o povo do interior. Nós sabemos que essa virada de votos no interior pode não nos ter dado a vitória, mas garantiu a vitória do Lula e precisamos agradecer isso."
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