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Quem sai por cima e quem sai por baixo nas eleições

Montagem: Simone Tebet, Ciro Gomes, Renan Calheiros, Onyx Lorenzoni, Fernando Collor e Romeu Zema  - Arte/UOL
Montagem: Simone Tebet, Ciro Gomes, Renan Calheiros, Onyx Lorenzoni, Fernando Collor e Romeu Zema Imagem: Arte/UOL

Do UOL, em São Paulo

31/10/2022 04h00

Desde que as manifestações de 2013 colocaram a política nacional de cabeça para baixo, as eleições no Brasil não param de surpreender: depois de eleger presidente um "outsider" e renovar o Congresso em 2018, este ano o eleitor brasileiro confirma a ascensão de alguns políticos que emergiram há quatro anos ao mesmo tempo em que rechaça ou renova a confiança em velhos caciques e clãs políticos.

Os clãs Barbalho e Calheiros, por exemplo, renovaram seus poderes no Pará e em Alagoas, respectivamente. Enquanto Pernambuco e Distrito Federal viram os Arraes e os Arruda perderem este ano.

Por outro lado, políticos antes sem expressão nacional ganharam projeção, como Onyx Lorenzoni (PL), derrotado em 2º turno no Rio Grande do Sul, e Simone Tebet (MDB), que terminou a campanha presidencial em terceiro lugar.

Outros políticos perderam capital eleitoral, como Marcelo Freixo (PSB), no Rio, Ciro Gomes (PDT), em quarto na corrida presidencial, e Alvaro Dias (Podemos), que não se reelegeu senador pelo Paraná.

Fernando Collor (PTB), João Doria (sem partido), Guilherme Boulos (PSOL), Roberto Requião (PT) e ACM Neto também surpreenderam positiva ou negativamente.

Confira abaixo como foi a campanha de velhos e novos caciques políticos:

Sai por cima: Clã Barbalho (Pará)

jader e helder - Helder Barbalho/Facebook/Divulgação - Helder Barbalho/Facebook/Divulgação
Helder e Jader Barbalho
Imagem: Helder Barbalho/Facebook/Divulgação

Um dos principais alvos do presidente Jair Bolsonaro (PL) durante a pandemia de covid-19, Helder Barbalho (MDB) se reelegeu governador do Pará com folga já no primeiro turno, deixando para trás o principal concorrente, o bolsonarista Zequinha Marinho (PL). O emedebista contou com a maior aliança política do Brasil, com 16 partidos na coligação, que foi do PT ao Republicanos. Já o pai de Helder e líder do clã, Jader Barbalho (MDB), segue no Senado até 2027, onde espera aumentar sua influência após a eleição do velho aliado Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Sai por baixo: Clã Arraes (Pernambuco)

marilia e joão - Ricardo Stuckert/Reprodução - Ricardo Stuckert/Reprodução
João Campos (à direita) se juntou a Marília Arraes (ao lado de Lula) no segundo turno
Imagem: Ricardo Stuckert/Reprodução

Depois de liderar a corrida eleitoral no primeiro turno, a candidata ao governo de Pernambuco Marília Arraes (Solidariedade) acabou ultrapassada pela tucana Raquel Lyra. O resultado enfraquece o clã que, por décadas, deu as cartas na política pernambucana, atrelando o sobrenome da família a Miguel Arraes (PSB) —deputado federal, prefeito do Recife e governador do estado.

A fama de Arraes foi suficiente para eleger governador, em 2007, seu neto Eduardo Campos (morto em 2014). Colado em Arraes, o filho de Eduardo, João Campos (PSB), também levou a Prefeitura do Recife em 2020 em disputa contra a prima Marília. Embora os primos não se biquem, este ano João declarou apoio a Marília no segundo turno. Mesmo assim, Raquel Lyra levou o pleito em razão da baixa popularidade do governador Paulo Câmara (PSB), que em 2015 chegou ao poder apoiado pelos Arraes.

Sai por cima: Camilo Santana (Ceará)

camilo santana - Reprodução Facebook - Reprodução Facebook
Camilo Santana (PT)
Imagem: Reprodução Facebook

Depois governar o Ceará por dois mandatos, o petista Camilo Santana venceu com folga a disputa pelo Senado e vai ocupar em 2023 o lugar de um velho cacique no estado: o tucano Tasso Jereissati, que vai se aposentar da vida pública. A ascensão do petista chegou a rachar a família Gomes, também caciques no estado.

Enquanto Camilo recebeu o apoio do também senador Cid Gomes (PDT), Ciro Gomes (PDT) não declarou voto, mas marchou ao lado do correligionário e candidato derrotado ao governo Roberto Cláudio, cuja candidatura contrariou desejo de Camilo de ver eleita Izolda Cela (PT), que foi sua vice e assumiu o cargo de governadora em abril.

Sai por baixo: Ciro Gomes (Ceará)

ciro gomes -  O Antagonista  -  O Antagonista
Ciro Gomes: "Estou profundamente preocupado"
Imagem: O Antagonista

Contrariando o PT e o próprio irmão, Ciro bancou a candidatura a governador de Roberto Cláudio (PDT), que amargou um terceiro lugar, atrás do Capitão Wagner (União Brasil) e do governador eleito já no primeiro turno, Elmano de Freitas (PT), apoiado por Cid Gomes e pelo governador petista Camilo Santana.

Ciro também viu suas intenções de voto minguarem de 12,47%, em 2018, para 3,05% este ano, ficando em quarto lugar na corrida presidencial. Em seu próprio reduto eleitoral, a cidade de Sobral, o pedetista ficou em terceiro, com apenas 18% das intenções de voto, muito menos do que os 60% conquistados quatro anos antes. No estado Ceará, Ciro também ficou em terceiro, com 6,8% dos votos válidos. Em 2018, foi o mais votado, com 40,95% dos votos.

Sai por cima: Clã Calheiros (Alagoas)

calheiros - Divulgação/Ricardo Stuckert - Divulgação/Ricardo Stuckert
Lula posa com Renan Calheiros e Renan Filho
Imagem: Divulgação/Ricardo Stuckert

Arquirrival do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), o senador Renan Calheiros (MDB) viu seu aliado e governador afastado de Alagoas Paulo Dantas (MDB) vencer o segundo turno contra o candidato de Lira, Rodrigo Cunha (União Brasil).

A vitória foi conquistada mesmo após o STJ (Superior Tribunal de Justiça) afastar Dantas em outubro por suspeita de participar de um esquema de desvio de recursos na Assembleia Legislativa. Além de o aliado vencer o pleito, Renan também elegeu senador seu filho e ex-governador Renan Filho (MDB). Antiga aliada de Lula, a dupla Calheiros agora espera ganhar protagonismo no governo petista.

Sai de cena: Fernando Collor (PTB)

collor - Roque de Sá/Agência Senado - Roque de Sá/Agência Senado
Senador Fernando Collor (PTB-AL)
Imagem: Roque de Sá/Agência Senado

O apoio de líderes bolsonaristas em Alagoas não foi suficiente, e o senador Fernando Collor (PTB) ficou em terceiro lugar na corrida pelo governo do estado, com apenas 14,7% dos votos. Collor, que já governou Alagoas de 1987 a 1989, este ano colheu seu pior desempenho na comparação com as outras três vezes que tentou governar o estado e perdeu.

Sai de cena: João Doria (sem partido)

doria - André Porto/UOL - André Porto/UOL
Ex-governador João Doria, em entrevista ao TAB
Imagem: André Porto/UOL

Considerado por alguns como o principal nome da chamada terceira via contra Bolsonaro e Lula, o ex-governador João Doria (sem partido) sofreu uma série de derrotas em 2022, mesmo vencendo as prévias do PSDB para ser indicado como candidato do partido à Presidência.

Impopular, viu seu nome preterido pelo partido em favor da senadora emedebista Simone Tebet. Depois de também ver seu nome escondido na campanha de reeleição do apadrinhado Rodrigo Garcia (PSDB), Doria se desfiliou do PSDB.

Saem por cima: Rui Costa (PT) e Jaques Wagner (PT)

Rui Costa (PT) e Jaques Wagner - Ricardo Stuckert/Instituto Lula - Ricardo Stuckert/Instituto Lula
Os petistas Rui Costa (à esquerda) e Jaques Wagner com Lula
Imagem: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

A força das duas maiores lideranças do PT na Bahia, Rui Costa e Jaques Wagner, foi confirmada já no primeiro turno. Apoiado pela dupla, o desconhecido Jerônimo Rodrigues (PT) surpreendeu o ex-prefeito de Salvador e herdeiro do clã Magalhães, ACM Neto (União Brasil).

De quebra, Otto Alencar (PSD) se reelegeu senador com apoio de Wagner (que também é senador) e Rui Costa, que é cotado para a equipe ministerial de Lula.

Fica na mesma: ACM Neto (União Brasil)

ACM Neto - Reprodução - Reprodução
ACM Neto
Imagem: Reprodução

Herdeiro do clã Magalhães, ACM Neto acabou frustrado pelas pesquisas de intenção de voto na Bahia, que chegaram a apontar a possibilidade de vitória dele no primeiro turno. Apesar de derrotado no segundo turno pelo desconhecido Jerônimo Rodrigues (PT), ACM desponta como favorito em 2024, quando deve tentar voltar à Prefeitura de Salvador, comandada por ele entre 2013 e 2020.

Sai por cima: Marina Silva (Rede)

marina silva - Carine Wallauer/UOL - Carine Wallauer/UOL
Marina Silva (Rede)
Imagem: Carine Wallauer/UOL

Depois da decepção da eleição presidencial de 2018, quando ficou em 8º lugar, Marina voltou a ter mandato ao se eleger deputada federal por São Paulo este ano. Além disso, salvou seu partido do ostracismo ao aprovar a formação de uma federação partidária da Rede com o PSOL, o que garantiu a eleição mínima de parlamentares para receber verba do Fundo Partidário e o direito a tempo gratuito de propaganda partidária e eleitoral no rádio e TV.

Sai por baixo: Marcelo Freixo (PSB)

freixo - Pablo Valadares/Câmara dos Deputados - Pablo Valadares/Câmara dos Deputados
Marcelo Freixo (PSB-RJ)
Imagem: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

Depois de trocar o PSOL pelo PSB para concorrer ao governo do Rio neste ano, o deputado federal Marcelo Freixo perdeu capital político. Com apenas 27,38% dos votos, ele viu o bolsonarista Cláudio Castro (PL) se reeleger governador já no primeiro turno.

Além de não conseguir vencer em nenhum dos 92 municípios do Rio, Freixo foi muito criticado pela esquerda por se aproximar da centro-direita e renegar antigas bandeiras, como a regulamentação das drogas.

Sai por cima: Bolsonarismo em Santa Catarina

santa catarina e bolsonarismo - Reprodução - Reprodução
Jorginho Mello foi eleito governador de Santa Catarina
Imagem: Reprodução

Um dos senadores governistas mais atuantes no Congresso, Jorginho Mello (PL) é o novo governador de Santa Catarina. Ele só não venceu no primeiro turno porque o voto bolsonarista se dividiu entre quatro candidatos: além dele, defendiam voto em Bolsonaro o atual governador, Carlos Moisés (Republicanos), Gean Loureiro (União Brasil) e Esperidião Amin (PP).

Apesar da concorrência, Mello chegou ao segundo turno com 38,61% dos votos, enquanto o petista Décio Lima surpreendeu ao avançar com apenas 17,4 mil votos a mais do que o atual governador.

Sai por baixo: Clã Arruda (Distrito Federal)

arruda - Marcelo Camargo/Agência Brasil - Marcelo Camargo/Agência Brasil
Ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (PL) foi condenado por improbidade administrativa em dois processos. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Faltando três dias para o primeiro turno, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) barrou a candidatura do ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda (PL), que tentava uma vaga na Câmara dos Deputados mesmo inelegível após condenação por improbidade administrativa.

Se não bastasse o revés, sua mulher, Flávia Arruda (PL), perdeu sua vaga no Senado para Damares Alves (Republicanos). O resultado contrariou as pesquisas, que apontavam vitória de Flávia. Embora Bolsonaro tenha se mantido neutro, a primeira-dama Michele Bolsonaro defendeu publicamente voto em Damares.

Sai por cima: Guilherme Boulos (PSOL)

boulos - Reprodução - Reprodução
Guilherme Boulos (PSOL-SP)
Imagem: Reprodução

Boulos ganhou protagonismo no PSOL após boa campanha na eleição municipal de 2020, quando chegou ao segundo turno em São Paulo contra Bruno Covas (morto em 2021), que se reelegeu. Já ocupando cargos estratégicos no PSOL, ele convenceu o partido em 2022 a desistir de lançar candidato a presidente e se coligar ao PT de Lula, cuja campanha se direcionou ao centro. De quebra, Boulos foi consagrado nas urnas ao eleger-se deputado federal por São Paulo com mais de 1 milhão de votos.

Sai de cena: Roberto Requião (PT)

requião - Reprodução - Reprodução
Ex-governador do Paraná Roberto Requião
Imagem: Reprodução

Ex-senador, deputado federal, prefeito de Curitiba e três vezes governador do Paraná, Roberto Requião trocou 39 anos de MDB pelo PT para tentar se eleger governador, mas perdeu. Com 26,23% dos votos, viu Ratinho Júnior (PSD) levar o pleito no primeiro turno, com 69,64% dos votos.

Sai por cima: Onyx Lorenzoni (PL)

Onyx  - Isac Nóbrega/PR - Isac Nóbrega/PR
23.mar.2020 - Ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, em videoconferência com governadores do Nordeste
Imagem: Isac Nóbrega/PR

Embora tenha perdido a eleição para o tucano Eduardo Leite, Onyx surpreendeu ao avançar para o segundo turno em primeiro lugar. Desde 2003 um deputado federal discreto, Onyx sempre foi mal quando tentou se eleger prefeito de Porto Alegre: ficou em terceiro lugar em 2004 e em quinto em 2008, quando angariou apenas 4,91% dos votos.

Sua história mudou em 2018, quando ajudou a eleger Bolsonaro. Nos anos seguintes, ganhou projeção nacional ao ocupar quatro pastas na Esplanada dos Ministérios. Mesmo perdendo a eleição em 2022, Onyx chegará com capital político para a campanha municipal de 2024.

Fica na mesma: Eduardo Leite (PSDB)

eduardo leite - Itamar Aguiar/Palácio Piratini - Itamar Aguiar/Palácio Piratini
Eduardo Leite (PSDB)
Imagem: Itamar Aguiar/Palácio Piratini

Eduardo Leite ganhou os holofotes no começo do ano, quando deixou o cargo de governador do Rio Grande Sul para tentar derrotar João Doria nas prévias do PSDB que escolheria o candidato tucano à Presidência da República. Mesmo derrotado por Doria, trabalhou nos bastidores para tentar ficar com a vaga mesmo assim. No fim, acabou preterido junto com Doria pela emedebista Simone Tebet, indicada da coligação de "terceira via".

Depois dos rumores de que deixaria o partido, acabou ficando e se deixando convencer a disputar a reeleição. Na campanha, foi surpreendido por Onyx no primeiro turno, e ficou em segundo lugar. Leite se recuperou no segundo turno —quando recebeu apoio crítico até do PT— e acabou vencendo a disputa.

Sai por baixo: Alvaro Dias (Podemos)

Alvaro Dias - Reprodução - Reprodução
Alvaro Dias (Republicanos-PR)
Imagem: Reprodução

Líder nas pesquisas durante todo o primeiro turno, o ex-governador paranaense Alvaro Dias acabou em terceiro lugar na tentativa de reeleger-se senador pelo Paraná. Fiador da controversa Operação Lava Jato, Dias levou o ex-juiz Sergio Moro para o Podemos a fim de lançá-lo candidato a presidente. O partido, no entanto, barrou a candidatura morista ao Planalto, empurrando o ex-juiz para o União Brasil, que o lançou candidato ao Senado contra o próprio Alvaro Dias, que ficou atrás de Paulo Martins (PL) e de Moro, que terminou eleito.

Sai por cima: Simone Tebet (MDB)

Simone Tebet (MDB)  - Divulgação - Divulgação
Simone Tebet (MDB)
Imagem: Divulgação

Desconhecida nacionalmente até ocupar o lugar de João Doria na coligação de centro-direita que tentou emplacar uma terceira via contra Lula e Bolsonaro, a emedebista se saiu bem nos debates, ultrapassou Ciro Gomes (PDT) e ficou em terceiro lugar no final do primeiro turno. Mesmo ligada ao ruralismo em Mato Grosso do Sul, declarou voto em Lula no segundo turno, causando o repúdio de alguns eleitores, mas se cacifando para integrar o governo petista no ano que vem.

Sai por cima: Romeu Zema (Novo)

romeu zema - Marcello Casal Jr./Agência Brasil - Marcello Casal Jr./Agência Brasil
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), em foto de arquivo
Imagem: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Mesmo em um partido nanico, o bolsonarista Romeu Zema se reelegeu governador de Minas já no primeiro turno com 56,18% dos votos. Além de vencer o principal rival no estado, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), ele conseguiu se descolar da preferência mineira por Lula no plano nacional. Sua vitória pôs fim à velha polarização entre PT e PSDB no estado e confirmou a regra de os mineiros sempre reelegerem o governador que tenta se manter no cargo. A exceção coube a Fernando Pimentel (PT), que perdeu a reeleição em 2018, no auge do antipetismo.