Ex-ministro de Bolsonaro, Tarcísio é eleito governador de São Paulo
Tarcísio de Freitas (Republicanos), 47, foi eleito hoje o novo governador do estado de São Paulo, com 55,27% dos votos válidos. Carioca e ex-ministro da Infraestrutura, ele venceu o segundo turno contra Fernando Haddad (PT), 59, numa disputa que repetiu a polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL).
Com 100% das urnas apuradas, Tarcísio terminou com 55,27% dos votos válidos, contra 44,73% de Haddad. No total, o ex-ministro de Bolsonaro teve 13.480.643 votos, contra 10.909.371 do petista.
A eleição ao Palácio dos Bandeirantes foi a estreia de Tarcísio nas urnas — ele nunca havia concorrido a um cargo eletivo antes. Também é a primeira vez que o Republicanos, partido fundado por bispos da Igreja Universal do Reino de Deus, chega ao comando do estado mais rico do país, que está sob o domínio do PSDB há 28 anos.
Seu vice será o ex-prefeito de São José dos Campos Felício Ramuth (PSD), 53. Além da sigla de Ramuth, a coligação reuniu PL, PTB, PSC e PMN.
Perfil. Nascido no Rio de Janeiro — fato amplamente explorado por Haddad ao longo do segundo turno — Tarcísio é servidor público federal e serviu o Exército por 17 anos. É bacharel em ciências militares pela Aman (Academia Militar das Agulhas Negras) e mestre em engenharia de transportes pelo IME (Instituto Militar de Engenharia).
Entre 2005 e 2006, esteve na Missão das Nações Unidas para Estabilização no Haiti como chefe da seção técnica da Companhia de Engenharia.
Antes de chegar ao posto de ministro da Infraestrutura do governo Bolsonaro, em 2019, Tarcísio esteve à frente do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) no governo de Dilma Rousseff (PT) e foi secretário do PPI (Programa de Parcerias e Investimentos) no governo Michel Temer (MDB).
O governador eleito é casado com Cristiane Freitas e tem dois filhos. Ao registrar sua candidatura em agosto, ele declarou patrimônio de R$ 2,3 milhões.
'A força do bolsonarismo'. Afilhado político de Bolsonaro, Tarcísio deixou o ministério em março para concorrer ao governo paulista, a pedido do presidente.
Haddad liderou as pesquisas de intenção de voto desde o início da corrida, um feito considerado único pelo PT até então, mas a vantagem em relação aos principais adversários diminuiu na reta final do primeiro turno. A primeira etapa do pleito terminou com Tarcísio na frente, com 42,32%, e Haddad em segundo, com 35,7%, contrariando os levantamentos eleitorais.
Logo após o fim da apuração, no dia 2 de outubro, Tarcísio disse que o resultado mostrava "a força do bolsonarismo". "A gente percebe uma característica liberal, conservadora no estado, [como] a eleição do Marcos Pontes (PL) no Senado", analisou na ocasião.
A campanha aumentou o número de agendas conjuntas com o presidente na reta final. A lógica por trás desta decisão foi a de que a eleição em São Paulo se tornou polarizada por causa da influência da corrida presidencial. A avaliação da equipe de Tarcísio era de que a associação entre os dois candidatos trazia benefícios mútuos porque um ganhava com a presença do outro.
Nomes para governo. Tarcísio já falou sobre possíveis nomes para integrar seu governo, como o médico Eleuses Paiva, coordenador de seu programa de saúde, para a respectiva pasta e Guilherme Afif Domingos (PSD), coordenador de seu plano de governo.
Conforme apuração do UOL Notícias, ele estuda ao menos três linhas para a pasta da Segurança Pública partir de 2023 — optar por uma ala bolsonarista, uma mudança para atuação mais independente das polícias Civil e Militar ou apostar na continuidade da gestão anterior.
A deputada federal Rosana Valle (PSD) é cotada para assumir a secretaria da Mulher. Pessoas próximas à campanha também dizem que Kassab terá influência no governo, por conhecer bem o funcionamento da máquina pública e ser um importante articulador político.
Apoio do ex-adversário e fator Kassab. Dois dias depois do primeiro turno, a candidatura de Tarcísio recebeu o apoio formal do governador de São Paulo Rodrigo Garcia (PSDB), que tentou a reeleição, mas ficou em terceiro lugar.
Ao longo do segundo turno, ele também recebeu o apoio de legendas que estavam inicialmente com Rodrigo, como o União Brasil, MDB, PP, Podemos e Cidadania. Os diretórios estadual e municipal do PSDB em São Paulo também anunciaram apoio ao candidato bolsonarista.
Em sua corrida pelo Palácio dos Bandeirantes, ele mobilizou uma rede de cerca de 500 prefeitos dos 645 municípios paulistas — a maioria desses políticos estava com Rodrigo no primeiro turno.
Uma comitiva liderada pelo presidente do PSD, Gilberto Kassab, tido como um dos mais hábeis articuladores da campanha, percorreu o estado para atrair lideranças locais.
'Renovação' e antipetismo. Tarcísio pautou sua campanha na defesa de que o estado precisava de renovação, já que o PSDB governa o estado desde 1995, e no antipetismo, forte sobretudo no interior paulista.
Ao longo da campanha, apesar de ressaltar sempre que os apoios que recebeu não tiveram pedidos de cargos em contrapartida, ele não descartou que os tucanos possam fazer parte de seu governo.
Tenho dito que a minha gestão vai ser técnica, os espaços vão ser preenchidos por técnicos. O PSDB depois de 28 anos de governo, você tem em várias posições gente técnica, de carreira, que faz um bom serviço, que conhece a história de cada órgão (...) Pessoas técnicas, pessoas de carreira serão aproveitadas
Tarcísio de Freitas em 25 de outubro, ao receber apoio do PSDB da cidade de São Paulo
O discurso voltado à religião também teve força no segundo turno. A equipe do candidato considerou que a defesa dos valores era um tema caro à maioria do eleitorado paulista. Também houve enfoque ao liberalismo econômico.
Câmeras e Sabesp. A possível privatização da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) e a retirada das câmeras nas fardas de policiais militares marcaram a campanha de Tarcísio e os dois assuntos opuseram o candidato do Republicanos a seu adversário.
Depois de afirmar "com certeza" retiraria os equipamentos dos policiais, o novo governador recuou e tem dito que estudará o assunto com sua equipe de segurança.
As mortes por policiais militares caíram 80% no primeiro ano de uso de câmeras em uniformes, conforme apuração do UOL Notícias.
Em fevereiro, quando ainda era ministro da Infraestrutura, Tarcísio prometeu privatizar a Sabesp caso fosse eleito, o que foi usado de munição por Haddad — a estratégia era passar a ideia de que a medida poderia acarretar aumento da conta de água.
Tarcísio abriu o debate da Globo, realizado na última quinta-feira (27), desmentindo a informação.
Preciso aproveitar esse espaço para restabelecer a verdade. A primeira delas: 'Tarcísio vai aumentar a conta de água'. Mentira, não vou. Quando discuto privatização da Sabesp, estou querendo aumentar a eficiência, estou querendo fazer com que a gente invista mais em reúso, que a gente invista mais em diminuição das perdas, em recuperação dos mananciais e em ligação de esgoto
Tiros em Paraisópolis. A campanha de Tarcísio no segundo turno sofreu com a repercussão de um tiroteio ocorrido na comunidade de Paraisópolis, na capital, durante uma agenda de campanha dele no local, no dia 17 de outubro.
Reportagem do jornal Folha de S.Paulo divulgou na terça-feira (25) um áudio no qual um integrante da equipe de Tarcísio manda um cinegrafista apagar imagens do tiroteio. Já o The Intercept Brasil publicou que testemunhas viram um segurança da equipe do candidato atirar contra um homem desarmado na comunidade.
Inicialmente, aliados de Tarcísio alegaram que ele foi vítima de um atentado. Depois, o próprio candidato e o governo paulista descartaram a versão.
Haddad usou o tema para desgastar Tarcísio no último debate, mas não foi o suficiente para impedir a vitória dele.
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