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PT discute culpa por estratégia de campanha em SP e aponta dedo para Haddad

Fernando Haddad e Lula avançaram ao segundo turno contra Tarcísio de Freitas e Jair Bolsonaro - Reprodução/Instagram/fernandohaddadoficial
Fernando Haddad e Lula avançaram ao segundo turno contra Tarcísio de Freitas e Jair Bolsonaro Imagem: Reprodução/Instagram/fernandohaddadoficial

Do UOL, em São Paulo

08/10/2022 04h00Atualizada em 08/10/2022 19h01

Em 3 de outubro, no dia seguinte ao primeiro turno, Fernando Haddad (PT) abandonou na metade uma reunião com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Visivelmente irritado, o candidato ao governo paulista teve sua campanha criticada.

A reação do ex-prefeito de São Paulo evidenciou o cabo de guerra no partido para conciliar as campanhas nacional e estadual contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos), que disputa o Palácio dos Bandeirantes com Haddad.

O resultado do primeiro turno no estado surpreendeu os petistas: após Haddad liderar as pesquisas de intenção de votos durante toda a campanha, Tarcísio terminou à frente, com 42,3% dos votos contra 35,7% do petista.

Logo após a apuração, Haddad disse que "os votos que migraram para Tarcísio e para Bolsonaro no primeiro turno são os votos que migrariam no segundo".

Nacionalização da campanha. Haddad priorizou a polarização entre Lula e Bolsonaro em debates e propagandas e eleitorais, trazendo temas nacionais para São Paulo e priorizando Tarcísio nos embates diretos. Isso deu ao candidato do Republicanos a oportunidade de se explicar.

Já Rodrigo Garcia (PSDB) foi alvo de ataques sem muito espaço para rebater. Foi o que aconteceu, por exemplo, no último confronto entre os candidatos de SP, na TV Globo: o petista criticou o tucano, mas não chegou a questioná-lo diretamente.

Por que Rodrigo Garcia? O entendimento dos aliados de Haddad era que Tarcísio, por ser menos conhecido, estar associado a Bolsonaro e ter nascido em outro estado —o Rio de Janeiro—, poderia desidratar facilmente em um segundo turno entre os dois em São Paulo. Já Rodrigo era visto como um risco por contar com a máquina pública e a tradição do PSDB de quase 30 anos governando o estado.

Recalculando. Logo após o resultado de domingo, a campanha de Haddad já lamentava um possível erro na estratégia de mirar em Tarcísio.

A tese de que era melhor pegar um pouco mais leve com Rodrigo, já de olho em um eventual apoio no segundo turno, era defendida por dirigentes nacionais do PT, como a presidente nacional do partido, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), e o próprio Lula.

Na terça-feira, Rodrigo Garcia declarou "apoio incondicional" a Bolsonaro e Tarcísio.

2016. Internamente, alguns petistas criticaram Haddad pelo tom adotado na campanha e compararam a situação ao movimento desencadeado por ele em 2016.

Na ocasião, quando disputava a reeleição à Prefeitura de São Paulo, ele mirou em Celso Russomanno (PRB, hoje Republicanos) como seu principal adversário no primeiro turno para enfrentar João Doria (PSDB) na etapa seguinte. As pesquisas apontavam Russomanno e Doria disputando o segundo turno.

No entanto, Doria foi eleito no primeiro turno, em um movimento apontado como a migração de votos de Russomanno para o tucano.

Cabo de guerra. Apesar da autocrítica sobre Rodrigo Garcia, a campanha estadual não recebeu bem as críticas da campanha nacional, já que alega ter recebido orientações para priorizar a eleição de Lula em um primeiro momento.

Uma pessoa próxima do candidato chegou a dizer que Haddad tem sido visto nacionalmente como um nome para alavancar Lula no estado.

A campanha de Haddad também tem reclamado de supostamente receber menor repasse neste segundo turno. Parte da equipe do petista enxerga isso como um boicote interno por um grupo de pessoas que não são próximas do candidato.

Na reunião de 3 de outubro, convocada pela equipe de Lula em um hotel na zona sul de São Paulo, a campanha paulista foi criticada pelos resultados. Pouco depois, Haddad deixou o local e se recusou a falar com a imprensa.

Derrotista. Por outro lado, o PT nacional tem acusado Haddad de ter adotado uma postura apática após o primeiro turno. Nos dois primeiros dias após a eleição, argumentam que ele foi mais visto no comitê de campanha de Lula do que no próprio.

Na segunda (3) e na terça (4), ele não participou de agendas públicas e foi visto apenas em compromissos envolvendo o ex-presidente.

Já os mais próximos a Haddad afirmam que o candidato ao governo paulista não pode se negar a comparecer a convocações vindas do próprio Lula.

Recomeço. Na quarta-feira (5), Haddad convocou uma entrevista coletiva às pressas para anunciar o apoio do PDT à sua candidatura em SP —um dia após o partido ter declarado apoio a Lula.

A partir de quinta, Haddad passou a se movimentar mais. Ele participou de uma caminhada em São Bernardo do Campo — ao lado de Lula —, uma coletiva junto de lideranças do Solidariedade e a participação no evento "Frente Ampla Pela Democracia". No entanto, ainda não divulgou nenhuma viagem ao interior sem a presença do ex-presidente.

Em contato com a reportagem após a publicação do texto, Haddad afirmou resolver diretamente com Lula quaisquer divergências internas e acrescentou que o ex-presidente o aconselhou a não ler jornais.