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Avanço no Sudeste e menor votação no Nordeste: como Lula ganhou

Lula comemora com aliados a terceira vitória em uma eleição presidencial - Carla Carniel/Reuters
Lula comemora com aliados a terceira vitória em uma eleição presidencial Imagem: Carla Carniel/Reuters

Do UOL, em São Paulo

31/10/2022 04h00

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) obteve a vitória mais apertada em segundo turno da história da democracia brasileira. Já Jair Bolsonaro (PL) foi o primeiro presidente brasileiro a perder a disputa pela reeleição.

A principal explicação para esse resultado é a recuperação do PT no Sudeste, que concentra a maior parte dos eleitores do país. A votação na região retornou a patamares anteriores à Operação Lava Jato, que marcou a derrocada do partido e culminou com a prisão de Lula em 2018 — a condenação foi posteriormente anulada em instância superior.

Em comparação com o segundo turno de 2018, o PT teve 13 milhões de votos a mais neste domingo (30). Seis de cada dez foram no Sudeste —a região tem quatro de cada dez eleitores.

Já no Nordeste, o PT caiu ligeiramente e teve sua pior votação desde 2002. Naquele ano, quando Lula se elegeu presidente pela primeira vez, o mapa eleitoral era completamente diferente do atual —o melhor resultado do petista foi no Sudeste. Foi apenas a partir das eleições seguintes, quando Lula se reelegeu, que o Nordeste se transformou na principal força eleitoral petista.

Ainda assim, o Nordeste foi a única região onde Lula venceu no segundo turno de 2022 e por uma margem tão grande que garantiu ao petista a vitória nacional.

O UOL Notícias explica em cinco pontos a vitória de Lula.

1) Lula recuperou 7,8 milhões de votos no Sudeste

Lula perdeu no Sudeste por 45,7%, contra 54,3% de Bolsonaro —diferença de 8,6 pontos percentuais.

À primeira vista, pode parecer uma derrota, mas o resultado representa um enorme avanço do PT. São 7,8 milhões de votos a mais do que o partido obteve no segundo turno das eleições 2018.

Isso quer dizer que, de cada dez novos votos que o PT conquistou em 2022, seis foram no Sudeste.

O avanço no Sudeste foi tamanho que fez o PT recuperar a força que tinha na região antes da Lava Jato.

Em 2018, o candidato petista, Fernando Haddad, teve 35% dos votos no Sudeste contra 65% de Bolsonaro —diferença de 30 pontos percentuais. Em 2014, Dilma Rousseff (PT) teve 44% na região, enquanto Aécio Neves (PSDB) teve 56% —diferença de 12 pontos percentuais.

2) São Paulo e Rio são os estados onde o PT mais cresceu

Foi São Paulo que puxou o desempenho do PT no Sudeste. A votação do partido no estado aumentou em 12,7 pontos percentuais em comparação com 2018. É o maior crescimento do país, o dobro da média nacional.

A alta fez com que o candidato petista se aproximasse do primeiro colocado no estado. Lula perdeu de Bolsonaro em São Paulo por dez pontos percentuais. Em 2018, Haddad ficou 36 pontos atrás. Em 2014, Dilma foi derrotada por Aécio com uma diferença de 29 pontos.

O PT cresceu no estado de São Paulo como um todo. Na região metropolitana da capital, Lula chegou a vencer com uma diferença de 4,5 pontos —em 2018, Haddad perdeu por 23 pontos. Já no interior, Lula ficou 24 pontos atrás de Bolsonaro —Haddad perdeu por 48 pontos quatro anos atrás.

O segundo maior crescimento do PT na eleição de 2022 foi no Rio de Janeiro, onde Lula conseguiu 11,4 pontos percentuais a mais do que Haddad em 2018.

3) Votação no Nordeste é a menor do PT desde 2002

É fato que, se não fosse pelo Nordeste, Bolsonaro teria sido reeleito. O presidente ficou à frente de Lula em todas as outras quatro regiões do país. Mas, por outro lado, o PT teve sua pior votação no Nordeste desde 2002.

Lula marcou 69,3% no Nordeste. Em 2018, Haddad, que obteve a pior votação nacional do PT na história, foi levemente melhor: 69,7%.

Se os 69,7% de Haddad no Nordeste não foram suficientes para ganhar a eleição de Bolsonaro em 2018, os 69,3% de Lula em 2022, sozinhos, também não seriam. Mas, combinados com a mudança do perfil do voto no Sudeste, permitiram a vitória petista.

Este ano, a votação percentual do PT caiu em seis dos nove estados do Nordeste: Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Piauí e Sergipe.

Do outro lado, Bolsonaro aumentou sua votação no Nordeste de 30,31%, em 2018, para 30,66%.

Ainda assim, em número absoluto de votos, Lula conquistou mais 2,2 milhões de votos no Nordeste em comparação com a eleição de 2018. Isso ocorre devido ao crescimento do eleitorado de uma eleição para outra. Porém, o que conta no final é o percentual de votos. Para se eleger, é preciso ter 50% mais um.

Dilma foi reeleita, em 2014, com 71,7% dos votos nordestinos. Em sua primeira eleição, em 2010, a petista teve 70,6% na região.

O maior apoio já dado pelo Nordeste a um candidato a presidente foi em 2006, na reeleição de Lula: 77,1% dos votos. Já em 2002, Lula marcou 61,5% no Nordeste —naquele ano, a principal votação do petista foi no Sudeste.

4) Bolsonaro ganhou mais votos que Lula entre o 1º e o 2º turno

O avanço de Lula no segundo turno foi menor que o de Bolsonaro. O presidente eleito conquistou 2,9 milhões de votos a mais em comparação com o primeiro turno, enquanto o candidato derrotado à reeleição avançou em 7 milhões de votos.

Esse é o movimento mais comum nas eleições presidenciais. Das sete disputas que já foram para segundo turno, apenas em uma o presidente eleito avançou mais no segundo turno que seu opositor: Lula contra Geraldo Alckmin (agora eleito vice-presidente na chapa petista), em 2006.

São Paulo e Minas Gerais foram os estados onde tanto Lula quanto Bolsonaro mais conquistaram votos entre o primeiro e o segundo turno.

Outro destaque para Bolsonaro foi a região Norte. No primeiro turno, Lula ficou à frente na região. Já no segundo turno, o presidente passou o petista.

A região norte foi a que teve as maiores taxas de abstenção do país. Na média nacional, a abstenção caiu no segundo turno em comparação com o primeiro — algo que nunca antes tinha ocorrido. Já no Amapá, no Acre e em Roraima, aumentou em mais de 5 pontos percentuais.

5) Margem de vitória é a menor da história

Esse foi o segundo turno mais apertado de uma eleição presidencial. A diferença entre Lula e Bolsonaro foi de apenas 1,8 ponto percentual. Em votos totais, isso dá uma diferença de 2,1 milhões de votos.

É uma distância menor do que em 2014, quando Dilma venceu Aécio por 3,3 pontos percentuais ou 3,5 milhões de votos.

A maior margem já registrada ocorreu na primeira vitória de Lula, em 2002, quando teve uma vantagem de 22,5 pontos percentuais sobre José Serra (PSDB).