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Análise: Bolsonaro reduz capital político e está perdendo terceiro turno

Colaboração para o UOL, em São Paulo

01/11/2022 20h20Atualizada em 01/11/2022 21h08

Os colunistas do UOL José Roberto de Toledo e Kennedy Alencar concordaram, no programa Análise da Notícia, que o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro (PL) simboliza a sua derrota no "terceiro turno" das eleições de 2022.

Após quase dois dias em silêncio, desde que foi derrotado nas urnas por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Bolsonaro fez hoje um discurso com referência aos bloqueios nas estradas promovidos por apoiadores, criticou atos de violência e disse que "o direito de ir e vir" da população deve ser preservado.

"Com esse silêncio, Bolsonaro convocou o terceiro turno, mas perdeu mais capital político nesses dois últimos dias como golpista do que em quatro anos como um caquistocrata", disse Toledo.

"Ele perdeu a batalha das estradas, apoio no Congresso, no Judiciário e revelou a verdadeira face do bolsonarismo, que é a baderna", completou.

Para o jornalista, o objetivo de Bolsonaro era usar os protestos para provocar um motim policial. "Suspeito que essa era a arma que ele estava contando para dar sustentação ao bloqueio das estradas e servir de desculpa para uma intervenção militar para reestabelecer a ordem. Como nada disso aconteceu, o Bolsonaro mudou de tática: fez um pronunciamento covarde e cifrado para tentar manter a mobilização dos seus fanáticos", afirmou.

Kennedy Alencar concordou com Toledo sobre Bolsonaro ter perdido o "terceiro turno" e disse que o discurso do presidente pode ser uma tentativa de negociar algum tipo de anistia.

"Ele tentou um golpe tabajara que fracassou. Bolsonaro achou que esse bloqueio ia levar massas para a rua, uma coisa meio que Jânio Quadros, em 1961, quando renunciou achando que ia voltar nos braços do povo", disse Kennedy.

"O Bolsonaro está isolado. Já chegou à eleição isolado politicamente do ponto de vista de qualquer apoio para uma tentativa de golpe", prosseguiu. "Na noite da eleição, o contragolpe civil funcionou na hora. [Lula] teve reconhecimento internacional super rápido, ministros do Supremo ligaram para ele e o Centrão abandonou Bolsonaro na largada, o primeiro foi Arthur Lira", destacou o colunista.

"Foi um pronunciamento covarde, sem o reconhecimento da derrota e com 'apito de cachorro' — uma senha que ele dá aos seus seguidores para tentar tumultuar. É uma reação covarde, parecida com a do Trump", comparou.

PRF vai ser pedra no sapato de Lula no 3º mandato, diz especialista

A diretora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno, avalia que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terá dificuldades com a PRF (Polícia Rodoviária Federal) caso não haja trocas nos comandos na corporação. Em entrevista ao programa Análise da Notícia, ela falou sobre a atuação da PRF em desmobilizar os bloqueios nas rodovias ocupadas por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL).

"A PRF deve ser uma pedra no sapato do Lula, mas me parece que não tem como não enfrentar isso de frente, ou seja, começar com investigação de todos esses desvios de conduta e responsabilização", disse Samira. "Não é só esse episódio de agora. Temos uma série de outros envolvendo a PRF no último ano que mostram como ela se desvirtuou da sua função constitucional."

Segundo ela, o atual diretor da PRF, Silvinei Vasques, já deveria ter sido investigado e punido por outras ações dentro da organização. "Se não passar uma peneira na PRF, dificilmente o futuro ministro da Justiça vai ser capaz de retomar o controle", avaliou.

O Análise da Notícia vai ao ar às terças, quartas e quintas, às 19h.

Onde assistir: Ao vivo na home UOL, UOL no YouTube e Facebook do UOL.

Veja a íntegra do programa: