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Silêncio no 'pequeno paraíso italiano', cidade mais bolsonarista do Brasil

Centro de Nova Pádua (RS), onde 88,99% votaram em Bolsonaro - Felipe Bächtold/Folhapress
Centro de Nova Pádua (RS), onde 88,99% votaram em Bolsonaro Imagem: Felipe Bächtold/Folhapress

Franceli Stefani

Colaboração para o UOL

06/11/2022 04h00

A vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa contra o presidente Jair Messias Bolsonaro (PL) deixou em silêncio o município de Nova Pádua, no interior do Rio Grande do Sul. O "pequeno paraíso italiano" —como a cidade é chamada— teve a maior votação do país para Bolsonaro. Nove em cada dez paduenses apertaram o 22 nas urnas.

"É uma profunda lamentação", disse uma empresária, moradora da cidade, que preferiu não se identificar. Em Nova Pádua, de apenas 2,6 mil habitantes, 96% da população é branca. Predomina o catolicismo e a maior parte dos moradores tem origem italiana. É comum que os paduenses não queiram se expor nem falar sobre a preferência política, principalmente agora.

A apuração dos votos na família da empresária foi em casa, "acompanhada de um chimarrão". Depois que o resultado mostrou a vitória de Lula, a cidade entrou em silêncio. "Aqui, ninguém fala nada, temos jovens e idosos, todos agem com muito respeito. Não teve aglomeração nem protesto."

Por lá, conforme dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Bolsonaro recebeu mais votos do que no primeiro turno, quando totalizou 83,98% da preferência da comunidade. Desta vez, foram contabilizados 1.819 votos, o que representa 88,99% dos eleitores.

Lula, eleito presidente da República, conquistou apenas 225 votos em Nova Pádua.

"Estou indignada com o que aconteceu", completou a empresária, que considera "injusto e revoltante" um país eleger como presidente alguém que já foi preso.

Na casa de um agricultor de 27 anos, houve momentos de tensão. A família tinha certeza de que as urnas trariam um resultado verde e amarelo.

Nova Pádua - Luciano Abe/Folhapress - Luciano Abe/Folhapress
Entrada da cidade de Nova Pádua (RS); cidade é chamada de 'pequeno paraíso italiano'
Imagem: Luciano Abe/Folhapress

"A cidade amanheceu triste. Vi meu pai chorando", conta ele, que também prefere não se identificar. "O clima é de derrota." Produtora de mais de 5,5 milhões de litros de vinho por ano, a cidade é dominada pela agricultura, que representa 80% da economia.

Diferentemente de outros apoiadores de Bolsonaro, que têm fechado rodovias em protesto contra a vitória de Lula, o agricultor acredita que nada pode ser feito. E o jeito agora é aguardar 2026.

"Não acredito na intervenção militar, embora tenha certeza de que alguma coisa está errada no processo eleitoral. Teremos de esperar uma nova mudança em quatro anos."

Apesar de ter mantido o posto de cidade mais bolsonarista do Brasil, Nova Pádua teve redução na taxa de votos para Jair Bolsonaro. Em 2018, quando a disputa foi com Fernando Haddad (PT), o município gaúcho conseguiu 92,96%.

"Neste ano caiu um pouco o número", reconhece o prefeito Danrlei Pilatti (PP), de 25 anos —o mais jovem do estado e um dos mais jovens do país. Para ele, a adesão expressiva a Bolsonaro é "reflexo do voto conservador e contra o excesso de despesas públicas".

"Esse resultado foi sem campanha, apenas com o posicionamento de cada cidadão", disse.

Na outra ponta...

A votação nas eleições 2022 em Nova Pádua foi diametralmente oposta da de Guaribas, no interior do Piauí, onde 93,86% dos eleitores votaram em Lula no segundo turno das eleições.

No município mais lulista do Brasil, o apoio ao petista é explicado pela história da cidade, escolhida para ser o berço do programa Fome Zero, lançado em 2003 para erradicação da miséria.

Em Guaribas, os moradores "competiam" com cidades vizinhas pela maior porcentagem e chegaram a receber até uma visita de gaúchos bolsonaristas que queriam conhecer o município às vésperas do segundo turno.