Debate em SP tem tapa, dedo em riste, propostas vagas e críticas a formato

Promovido hoje (14) por Estadão/Terra/Faap, o segundo debate com os candidatos à Prefeitura de São Paulo teve propostas vagas e aumentou a carga para os ataques pessoais entre adversários, em comparação com o debate da Band que aconteceu na semana passada.

O que aconteceu

O debate foi organizado para favorecer perguntas diretas entre os candidatos. Em cada bloco do evento, os seis convidados foram divididos em três duplas, para conversarem entre si a partir de perguntas de jornalistas ou de alunos e professores da Faap. Em vários momentos, os candidatos se atrapalharam com o tempo.

Insultos e acusações marcaram o debate, assim como no da Band. Guilherme Boulos (PSOL) e Pablo Marçal (PRTB) trocaram xingamentos e a briga prosseguiu quando os dois se sentaram. Em outro bloco, Tabata Amaral (PSB) afirmou que o prefeito Ricardo Nunes (MDB) "rouba e não faz". José Luiz Datena (PSDB) repetiu ataques à atual gestão em temas como transporte e população de rua. Já Marina Helena (Novo) fez vários acenos ao bolsonarismo em assuntos como educação e segurança.

Briga entre Boulos e Marçal

Candidatos debateram por quase três horas, responderam perguntas de jornalistas e dos adversários. Os seis concorrentes se mostraram confusos com as regras definidas para o debate.

Marçal chamou deputado de "PT Kids", e Boulos disse que empresário é "o Padre Kelmon do debate". O confronto aconteceu quando os dois foram chamados a responder uma pergunta sobre o uso de tecnologias para combater desigualdades na cidade de São Paulo.

O candidato do PRTB mostrou carteira de trabalho, dizendo que Boulos "nunca trabalhou". Após o fim das perguntas, na saída do púlpito, o deputado tentou arrancar o documento da mão do adversário com um tapa na carteira após ambos se sentarem lado a lado, enquanto Marçal o provocava dizendo que ia exorcizar o adversário com a carteira. "Eu sou professor, não sou coach, não ganho dinheiro enganando os outros na internet", rebateu Boulos.

Os dois já haviam trocado farpas em debate na semana passada. Marçal acusou Boulos de ser usuário de drogas, sem provas, e Boulos disse que Marçal era "psicopata" que "acredita nas próprias mentiras" na tela da Band no último dia 8. No encontro desta quarta, ambos subiram o tom, com dedo em riste enquanto se xingavam mutuamente.

Ricardo Nunes (MDB) não teve grandes momentos de protagonismo, mas soube apresentar as ações da atual administração. O candidato à reeleição ganhou direito de resposta duas vezes pelas declarações feitas por Tabata Amaral (PSB) — ela sugeriu ao prefeito adotar o slogan "rouba e não faz".

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Boulos caiu nas provocações do Marçal e tentou colar pecha de bolsonarista em Nunes. O psolista xingou diretamente o empresário, dizendo que ele é "viciado em mentir", "psicopata" e "babaca da internet". O deputado ainda tentou arrancar a carteira de trabalho da mão do adversário quando Marçal o provocava dizendo que iria exorcizá-lo com o documento em mãos. Sem provas, o ex-coach voltou a associar Boulos ao uso de drogas e o chamou de "vagabundo".

Postura de Boulos hoje contrastou com sua participação da Band. Se no primeiro debate Boulos saiu ileso diante do descontrole de Marçal quando ele foi perguntado por Tabata sobre seus processos na Justiça, no encontro do Estadão/Terra ele perdeu a calma diante do empresário.

Datena (PSDB) tentou recuperar o desempenho ruim do primeiro debate, mas adotou postura dispersa. Já no início do evento, o tucano disse que não estava sabendo das regras. Ele manteve as críticas ao prefeito e o discurso ligado a segurança pública, contra o PCC. O apresentador perdeu o tempo em diversos momentos — dando mais espaço para que os concorrentes falassem sem interrupções ou questionamentos.

Eu acho que você, você veio para o debate, as pessoas percebem, com a sua plateinha e tal pra tumultuar, você é o padre Kelmon dessa eleição, é isso que você é. Você veio para tumultuar, você é uma caricatura
Guilherme Boulos

Eu sou o padre Kelmon, eu vou exorcizar o demônio com a carteira de trabalho, [o Boulos] que nunca trabalhou, um grande vagabundo nessa nação, aceito, sim, exorcizar. Você nunca vai ser prefeito de São Paulo enquanto tiver homem aqui nessa cidade
Pablo Marçal

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Propostas para educação foram de mutirões a gestão privada

Helena afirmou que Nunes promove "ideologia de gênero" e "comunismo" na rede municipal. Em embate com o prefeito, a candidata do Novo defendeu que escolas particulares sejam chamadas para "administrar as escolas públicas", já que, segundo ela, elas custam menos e têm mais qualidade. Em resposta, Nunes destacou números da gestão em sua área, e negou a acusação de Helena de que a rede municipal promove ideologia de gênero.

Alfabetização X segurança nas escolas. O candidato do Psol apresentou propostas para ampliar a alfabetização e prometeu um novo plano de carreira para professores, enquanto o concorrente do PSDB tratou de segurança nas escolas. Na última pergunta, Datena citou a fila das creches que havia na gestão do ex-prefeito Fernando Haddad (PT). Em resposta, o psolista respondeu que Haddad "ampliou a rede parceira" e reconheceu que a gestão Bruno Covas (PSDB) zerou a fila das creches.

Racismo nas escolas e provocação de Marçal. Diante da pergunta sobre medidas para reduzir a desigualdade racial na educação, o empresário provocou Tabata perguntando por que ela não tinha uma vice negra, enquanto ele, Marçal, tem como vice Antonia de Jesus (PRTB), a única negra entre os postulantes ao cargo. A candidata do PSB respondeu que o combate ao racismo se dá em âmbito coletivo, e não em termos específicos, e que confia na vice dela, Lucia França (PSB).

Chega das nossas crianças nas escolas aprendendo ideologia de gênero, aprendendo a ser comunista. O que a gente quer é trazer as melhores escolas particulares de São Paulo para administrar as escolas públicas porque elas custam menos e fazem muito melhor. É essa nossa proposta, educar as nossas crianças aquilo que elas precisam para se darem bem no mercado de trabalho
Marina Helena

Transporte e mudanças climáticas

O planejamento urbano foi tema de um dos blocos. Alguns embates giraram em torno de transporte público, enquanto outros foram mais voltados a habitação e preparação da cidade para mudanças climáticas, especialmente contenção a enchentes.

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Helena e Boulos, que debateram entre si nesse bloco, divergiram sobre contenção de enchentes. A candidata do Novo afirmou que é preciso um programa de habitação para tirar pessoas de áreas de risco, mas não mencionou medidas ambientais. Boulos, por sua vez, afirmou que o principal é adotar projetos de "cidades esponja", para tornar o solo menos impermeável.

Datena e Marçal divergiram em propostas sobre transporte. O apresentador afirmou que não é contra a tarifa zero nos ônibus ao domingo, lançado pela prefeitura em 2023. Alegou, no entanto, que a atual gratuidade da prefeitura de Nunes é "mentirosa", porque depende de um subsídio bilionário. Já Marçal voltou a destacar sua proposta de implantar teleféricos na cidade.

Essas companhias [de transporte] são sempre as mesmas, não só as envolvidas com o crime organizado, mas são três famílias que dominam o transporte coletivo de São Paulo durante quase 60 anos. É porque o negócio dá dinheiro. Se você cobrar um preço justo, tarifa justa, você ganha muito dinheiro com isso
Datena

Tabata sugere que Nunes adote o slogan 'rouba e não faz'

O tema do terceiro bloco foi planejamento urbano. Desta vez, as duplas que debateram foram: Marçal e Datena; Boulos e Helena; Tabata e Nunes.

O momento mais tenso do bloco foi entre Tabata e Nunes. A candidata do PSB acusou o prefeito de ter reduzido e não cumprido várias metas do mandato, voltou a lembrar o aumento de obras emergenciais — sem licitação — feitas pela gestão e, ao final, subiu o tom, sugerindo que Nunes adotasse o slogan "rouba e não faz".

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O prefeito, que não teve tempo de responder em seguida, pediu direito de resposta logo em seguida e foi atendido. Ao usar esse tempo extra, já no quarto bloco, ele não rebateu diretamente a fala de Tabata, e pediu apenas que o debate se concentrasse em propostas, não em ataques pessoais.

A diferença entre mim e esses candidatos é que eu estou estudando e lendo as coisas, não estou turistando na periferia. Eu sei do que eu estou falando. Eu estou vendo criança na rua se drogando. Eu estou vendo 80 mil pessoas em situação de rua. Eu estou vendo a educação cair. Então eu queria lhe fazer uma pergunta. O que você acha, uma sugestão apenas, de adotar o seguinte slogan: rouba e não faz?.
Tabata Amaral

Deputada, é da sua prática mentir, tanto é que a senhora foi no programa e mentiu que votou a favor do aumento de pena para criminosos. A senhora fala de segurança e a senhora mentiu, estava na Câmara e não votou a favor. A senhora não votou a favor do aumento de penas, diferente do que disse em entrevista.
Ricardo Nunes

Datafolha mostra empate entre Nunes e Boulos

Datafolha divulgado no último dia 8 mostrou Nunes (23%) e Boulos (22%) empatados tecnicamente nas intenções de voto. Datena e Marçal também marcaram a mesma porcentagem, 14%. Em um segundo turno provável entre Nunes e Boulos, o atual prefeito sai na frente com 13 pontos.

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Em seguida, Marçal e Datena aparecem empatados com 14% cada um, diz o Datafolha. Atrás deles estão Tabata, com 7%, Marina Helena, com 4%, João Pimenta (PCO), com 2%, e Altino (PSTU), com 1%.

Participam desta cobertura
Do UOL, em São Paulo: Ana Paula Bimbati, Anna Satie, Rafael Neves, Nathália Florido, Stella Borges e Wanderley Preite Sobrinho
Colaboração para o UOL: Letícia Polydoro

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