Idas de Lula a eventos escolhidos a dedo geram ciúmes em candidatos

As idas do presidente Lula (PT) a convenções municipais causaram ciúmes em candidatos do PT e da base do governo, em busca de maior participação do petista em suas respectivas campanhas.

O que aconteceu

Lula só foi a três convenções municipais. Foram a do deputado estadual Luiz Fernando (PT), em São Bernardo do Campo (SP), a do deputado Guilherme Boulos (PSOL), em São Paulo, e a do deputado estadual Evandro Leitão (PT), em Fortaleza.

As escolhas causaram ciumeira no partido e na base. Principal cabo eleitoral do país, a presença do presidente é vista como determinante para algumas campanhas que almejam crescer nas pesquisas.

O PT e o Planalto dizem que ainda é cedo e agendas vão aumentar. Como Lula tem tempo reduzido para participar de atos, as escolhas serão feitas seguindo a estratégia de crescimento do partido, mas buscarão englobar diferentes regiões e partidos aliados.

O PT pretende quintuplicar o número de prefeituras neste ano: de 234 para 1.200. Depois de não ter conseguido nenhuma vitória em capital pela primeira vez em 2020, o partido pretende conquistar pelo menos duas e aumentar presenças em cidades de grande e médio porte.

E comigo?

A ida de Lula ao ato de Boulos já era esperada. Articulador da chapa com a ex-prefeita Marta Suplicy (PT) como vice, o presidente não tem escondido a importância que a eleição de São Paulo tem para ele e para o PT, que vê na possível vitória de Boulos uma chance de crescer no estado que nunca governou.

São Bernardo também era justificável. Lula escolheu seu reduto político e local de votação para o primeiro evento eleitoral que participou, no dia 20 de julho.

Mas Fortaleza gerou burburinho. Embora capital cearense seja um local-chave para o PT, dado que é a maior cidade onde o partido tem candidato próprio, petistas, aliados e candidatos de outras praças importantes questionaram a escolha.

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O entendimento é que Lula é uma peça fundamental para qualquer campanha de esquerda, em especial no Nordeste. Se Lula foi a Fortaleza, poderia ter pensado em ir também a Teresina, Natal e Porto Alegre, cidades onde o PT tem candidatos fortes e ele também ganhou em 2022.

Além de Fortaleza, Teresina é a capital que o PT mais aposta em vitória. Apoiado pelo governador Rafael Fonteles (PT) e o ministro e ex-governador Wellington Dias (PT), o deputado estadual Fábio Novo (PT) foi catapultado ao primeiro lugar das pesquisas. Seria uma vitória inédita na cidade.

No Planalto, diz-se que não é possível agradar a todos e que esta ciumeira já era esperada. Como só pode participar dos eventos em agenda particular —ou seja, fora do expediente (à noite ou em finais de semana)—, as idas têm de ser escolhidas com parcimônia.

Mais do que um gosto do presidente, candidatos argumentam incômodo por se tratar de uma estratégia de partido. Se não há tempo hábil para ir a todos os eventos, deveria focar nos que o partido ou a coligação tem mais chance.

Aliados dizem precisar dessa forcinha. Se no Piauí a vitória está mais encaminhada, um apoio de Lula pode ser decisivo em Natal ou Porto Alegre.

Não é só no PT

A base do governo também entrou na disputa. Em Belém, o PT apoia a reeleição de Edmilson Rodrigues (PSOL), que tem como principal concorrente o deputado estadual Igor Normando (MDB), nome do governador Helder Barbalho (MDB), aliado de Lula. Ele e o irmão, ministro Jader Filho, têm trabalhado para que o presidente não interfira ao passo que o PSOL pede a presença de Lula para que o prefeito, em terceiro lugar nas pesquisas, consiga ir ao segundo turno.

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Em Fortaleza, também gerou incômodo no PDT. O partido do ministro da Previdência, Carlos Lupi, e base do governo, tenta manter o domínio na cidade com a reeleição de José Sarto. Eleito com o apoio do PT em 2020, ele viu sua base se esfacelar em meio à briga dos irmãos Ciro e Cid Gomes, agora no PSB, e com o PT local.

A ida de Lula foi vista como desnecessária por pedetistas. Petistas dizem que o motivo é "óbvio": com o desembarque de todos os partidos de esquerda, a candidatura de Sarto murchou e corre o risco de não ir para o segundo turno com o bolsonarista Capitão Wagner (União). A aposta é que, com a polarização, a cidade tenha uma vaga para a direita e outra para a esquerda, embora o também bolsonarista André Fernandes (PL) esteja em segundo nas pesquisas. O PT aposta que este será Evandro Leitão.

Tem para todo mundo

O PT diz que as agendas com Lula devem se intensificar. O partido lançou candidato em 13 capitais e Lula deverá ir a eventos na maioria delas. Como São Paulo, ele também deverá ir a atos de aliados, como João Campos (PSB), no Recife, e Eduardo Paes (PSD), no Rio de Janeiro.

No último final de semana, o partido promoveu uma sessão de fotos com Lula. Além de gravar vídeo pedindo votos, o presidente posou com mais de 150 candidatos do partido e da base.

A sessão já era prevista, mas aliados contam que também ajudou a acalmar os nervos. Em muitas cidades onde não deverá ter apoio físico, essa imagem com Lula deverá ser usada à exaustão.

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