Calor em SP: moradores da zona leste vão a piscina e pedem praças e árvores
Em meio ao tempo seco, piora na qualidade do ar, aumento na quantidade de queimadas e incêndios, moradores da zona leste de São Paulo cobram de candidatos à Prefeitura de São Paulo mais áreas verdes, árvores e melhora na coleta de lixo. O UOL conversou hoje (14) com frequentadores do Sesc Belenzinho que buscavam uma alternativa ao calor.
O que aconteceu
Moradores da zona leste foram ao Sesc Belenzinho, no bairro do Belém, para fugir do ar quente e seco de alguns bairros. A estudante de publicidade Thaina Erice, 26, afirma que a infraestrutura dos espaços de lazer ajuda a suportar o calor e a falta de políticas públicas ambientais no Itaim Paulista, bairro em que vive, localizado no extremo da zona leste.
"Morador da zona leste sofre com o tempo seco", diz a estudante. Segundo ela, no Itaim Paulista até tem áreas verdes, mas a poluição afeta a rotina dos moradores. O UOL questionou a Prefeitura de São Paulo sobre políticas públicas para o meio ambiente nos locais citados pelos entrevistados, mas não obteve retorno até a publicação da reportagem.
"O ar não está legal, o dia inteiro o tempo fica seco", diz. "Meu bairro é um dos mais populosos da zona leste por ser uma rota de saída da cidade e é ponto de passagem para muitos caminhões, o que impacta ainda mais a qualidade do ar." Ela conta que frequenta o Sesc Belenzinho ao menos uma vez por semana. "Aqui costuma ficar bem lotado por causa dos ventiladores com água, chuveiros e bebedouros. Tem uma estrutura para o tempo seco", diz.
Thaina diz que as políticas demoram e, "muitas vezes", não chegam para moradores da periferia. Ela diz acompanhar as propostas dos candidatos à Prefeitura de São Paulo para o meio ambiente.
Candidatos de SP têm planos vagos; o de Marçal é o menor. Embora a poluição não seja novidade na capital, os candidatos a prefeito dedicam pouca atenção ao assunto em seus planos de governo. Apesar de algumas boas ideias, as propostas são superficiais, faltam metas e informações sobre a fonte de recursos, por exemplo. Veja as propostas para o meio ambiente dos candidatos à Prefeitura de São Paulo.
Acompanhei propostas do Boulos e do Marçal, mas acho que nenhuma vai funcionar. Para quem mora perto do centro pode até funcionar, mas para quem é da periferia, não vai. Como mulher negra, da periferia, não me sinto representada por essas propostas para o meio ambiente.
Thaina Erice, estudante
Deveríamos ter mais árvores na cidade. Não existe uma proposta ambiental para quem mora na periferia. Se eu quiser frequentar um espaço como esse tenho que sair de lá para vir para outro bairro.
Thaina Erice
Impressionada com o céu cinza
Apesar de o governo do estado ter divulgado nesta semana diretrizes para a saúde, que incluem evitar atividades ao ar livre, moradores da região lotaram o espaço de lazer do Sesc. Áreas externas e piscinas ficaram bem cheias após as 12h. A analista de operações imobiliárias Elen Oliveira, 36, está há três dias em São Paulo para ficar com a família e afirma estar "impressionada" com o "céu cinza" da cidade.
Elen diz que nasceu em São Paulo, mas mora em Itapeva (MG), e a qualidade do ar parece estar "pior" na capital paulista do que lá. "Lá é mais fresco e aqui mais seco", diz ela que tem utilizado soro para aliviar a respiração.
Analista diz que não costumava buscar informações sobre meio ambiente, mas agora se considera "mais consciente". "Com tantos canais de informação, a gente se conscientiza muito mais", afirma. Para ela, a cidade precisa de mais praças e árvores. Além disso, Elen diz ainda que gostaria que políticas de meio ambiente fossem ensinadas em escolas infantis. "Na nossa época não tinha, tenho sobrinhos e me preocupo. Seria interessante se as crianças começassem a aprender sobre meio ambiente desde cedo", afirma.
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Quero receberDia a dia dificultado. A dona de casa Carmen Fernandes, 62, diz que a poluição e a falta de coleta de lixo afetam o dia a dia de sua família. Moradora do bairro Ermelino Matarazzo, também na zona leste de São Paulo, Carmen diz que é a primeira vez que visita o Sesc Belenzinho para fugir do calor do bairro em que vive. "Está ruim de respirar, é muita poluição e poeira", diz.
Ela reclama da poluição causada por veículos em seu bairro. Ela mora com a família e diz que nesses dias de tempo quente e secura "é impossível deixar o apartamento com as janelas fechadas". "É muito abafado", diz. Além da baixa qualidade do ar, Carmen se queixa da quantidade de lixo na rua em que vive e diz que os candidatos à prefeitura devem investir na melhora da coleta de resíduos.
Rotina mudou e afetou saúde. A gerontóloga Samara Santos Hora, 37 anos, diz que frequenta o Sesc Belenzinho pelo menos uma vez por semana no final da tarde para fugir do calor. Ela afirma que o calor e a secura tem afetado sua rotina e sua saúde. "Está bem insuportável, tenho pressão baixa e o calor me incomoda bastante", afirma. Ela diz que costuma ir ao espaço de lazer de ônibus para evitar a exposição ao calor. "Estou tentando beber mais água, manter o umidificador em casa e usar roupas leves", afirma.
Pouca árvore e ninguém fala nada sobre isso. Moradora da Moóca, Samara se queixa da pouca quantidade de áreas verdes no entorno de onde vive. "Não vejo os candidatos falando muito sobre isso [temas ambientais], agora com as queimadas parece que estão se importando mais", afirma.
Queda de energia x poda correta de árvores. Samara diz que gostaria que os candidatos à administração municipal melhorassem as ações de podas de árvores e aterramento de fios. "Talvez assim, elas não culpassem as árvores pelas queda de energia", diz. "Temos alguns parques, mas ainda tem muito cimento na rua. Falta verde nas calçadas", afirma.
Para ela, o descarte de lixo não é feito da forma correta em muitas regiões da cidade. Ela se lembra que já precisou ligar em uma subprefeitura para registrar uma reclamação. "Colocar fogo em materiais envolve falta de informação. Tem informação disponível, mas muitas pessoas não têm acesso."
A cidade parece um forno. Em algumas regiões está um forno. Ontem, observei que um termômetro na Mooca registravas 34ºC e a qualidade do ar estava muito ruim desde cedo. Por isso, buscamos esses espaços mais frescos para respirar. Samara Santos Hora, gerontóloga
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