Ala bolsonarista articulou presença de Nunes em podcasts de extrema direita

O entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) articulou a participação do prefeito e candidato à reeleição em São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), nos podcasts de Paulo Figueiredo e do canal Te Atualizei nesta semana.

O que aconteceu

Nas entrevistas, o prefeito adotou discurso alinhado ao bolsonarismo. Ele disse ser contra a obrigatoriedade da vacina para covid-19 e criticou as penas impostas aos presos de 8 de janeiro, em entrevista a Paulo Figueiredo transmitida na terça-feira (17), um dos investigados pelo STF (Supremo Tribunal Federal) por participação nos atos golpistas.

Vice de Nunes considerou que prefeito agiu de forma "excelente". Indicado por Bolsonaro, Mello Araújo (PL) disse ao UOL que "muita gente tinha dúvida [em relação à sintonia entre Nunes e Bolsonaro], e posições que ele externou ajudaram a esclarecer essa parte".

Participação em podcasts de extrema direita foi articulada por aliados de Jair Bolsonaro. Um interlocutor do ex-presidente disse ao UOL que deu preparação prévia de duas horas para Nunes conceder as entrevistas.

Acenos ao bolsonarismo agradaram aliados do ex-presidente, que cobravam gestos de fidelidade por parte do prefeito. Eles descartam, no entanto, que o candidato à reeleição participe de outros podcasts de extrema direita por avaliar que eles não seriam "boas vitrines" para o emedebista. Nesta sexta, o prefeito participa de outro podcast, este considerado moderado — o Inteligência Ltda.

O que Nunes disse nos podcasts

"No 8 de janeiro, deram penas altíssimas [aos invasores]", declarou. "E o (Guilherme) Boulos não cumpriu um dia de pena, porque também invadiu o Ministério da Fazenda, depredou. Precisa ter equilíbrio nessas decisões", afirmou. A declaração foi dada no podcast de Paulo Figueiredo.

"Hoje sou contra a questão da obrigatoriedade [da vacina para covid-19]", disse. "Tenho muita tranquilidade, depois de toda experiência, e tenho humildade para te falar isso", declarou Nunes a Figueiredo.

Para o canal de extrema direita "Te Atualizei", ele classificou a decisão da obrigatoriedade de vacinas como "ação errada e equivocada". O canal é comandado pela jornalista e influenciadora digital Bárbara Destafani, que chegou a ter as redes suspensas em janeiro de 2023 pelo ministro Alexandre de Moraes por suposta disseminação de fake news. A entrevista ocorreu na quarta-feira (18).

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O prefeito reafirmou a posição em agenda com o governador Tarcísio de Freitas nesta quinta (18). Ele declarou que errou ao instituir na cidade o passaporte da vacina durante a pandemia. "Se fosse hoje, eu não teria feito o passaporte da vacina", disse o emedebista. Durante a agenda, Nunes e Tarcísio conversaram com Bolsonaro por vídeochamada.

Postura contrasta com tentativa de Nunes de se apresentar como candidato de centro ao longo da campanha. Reportagem da Folha de S. Paulo mostrou que os acenos ao bolsonarismo desagradaram parte da campanha. Líderes de partidos de centro e centro-direita temem que declarações mais radicalizadas do prefeito afugentem o eleitor moderado.

Reação dos adversários

Boulos afirmou que as declarações de Nunes sobre vacinação mostram o "perigo que a cidade de São Paulo corre ao eleger um bolsonarista". Segundo o candidato a prefeito pelo PSOL, em declaração enviada ao UOL via assessoria de imprensa, o emedebista "deixa claro que está disposto a colocar em risco a vida da população paulistana em nome de seu projeto pessoal de poder."

Tabata Amaral (PSB) disse que Nunes "desonra o trabalho" do prefeito Bruno Covas (PSDB). Em publicação no Instagram, a candidata a prefeita chamou o prefeito de "medíocre e oportunista" e questionou se "vale tudo pela eleição".

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