Baixo desempenho no Datafolha aproxima Datena do pior patamar do PSDB em SP

José Luiz Datena é o candidato do PSDB com a menor intenção de votos na história do Datafolha, ao lado de Fabio Feldmann na reta final da campanha de 1992. Na época, o partido ainda era recém-criado e não tinha destaque.

O que aconteceu

O PSDB disputou todas as eleições em São Paulo como cabeça de chapa desde a criação da legenda, em 1988. Elegeu três prefeitos: José Serra, em 2004, João Doria, em 2016, e Bruno Covas, em 2020.

Datena começou bem. Após a chapa tucana ser oficializada, o primeiro levantamento realizado pelo Datafolha, entre 7 e 8 de agosto, mostrava o candidato com 14% das intenções de voto. É mais que o registrado por Geraldo Alckmin em 2000 (11%) e João Doria em 2016 (5%), nas primeiras pesquisas dos respectivos pleitos. Alckmin acabou perdendo, mas Doria foi eleito.

Quase todos os tucanos avançaram nas intenções de voto ao longo da campanha, mesmo os que não foram eleitos. Em 2000, por exemplo, Geraldo Alckmin, hoje vice-presidente e filiado ao PSB, iniciou a disputa com 11% das intenções de voto e terminou com 17%. Marta Suplicy (PT) foi eleita naquele ano.

Datena, ao contrário, vem caindo. Na última pesquisa Datafolha, divulgada nesta quinta-feira (19), ele registrava 6%, menos da metade do obtido na primeira pesquisa.

Até os tucanos que caíram ao longo de suas campanhas registraram desempenho melhor que o de Datena. Em 1996, Serra começou com 18% das intenções de voto e terminou com 14%. Celso Pitta (PPB) venceu naquele ano.

A exceção é Fabio Feldmann, em 1992. Ele começou com 3% em 1992, chegou a subir para os mesmos 6% que Datena tem hoje e registrou 4% no último Datafolha. No final, recebeu 5,83% dos votos. Naquele ano, Paulo Maluf (PDS) foi eleito no segundo turno.

Foi de um tucano o feito inédito de vencer uma eleição em São Paulo no primeiro turno. João Doria começou as pesquisas em 2016 marcando 5% e registrava 38% no último Datafolha. No final, venceu sem necessidade de segunda etapa, com 53,29% dos votos.

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A queda de Datena é gradativa. Na primeira pesquisa, ele aparecia tecnicamente empatado com Pablo Marçal em segundo lugar, atrás apenas de Guilherme Boulos (PSOL) e do atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB). Mas já havia caído para 10% no próximo Datafolha, cujos dados foram coletados em 20 e 21 de agosto, empatado tecnicamente com Tabata Amaral (PSB) em terceiro lugar.

Com apenas um mês do primeiro Datafolha, Datena já tinha menos intenções de voto que Tabata. A parlamentar, que um dia quis o tucano como seu vice, ultrapassou o apresentador no levantamento de 3 e 4 de setembro. Ela tinha 9% das intenções de voto, e o apresentador, 7% —metade do registrado no mês anterior.

Antes da cadeirada em Pablo Marçal, Datena já havia caído mais um pouco, para 6% das intenções de voto. Esse Datafolha foi divulgado em 12 de setembro, três dias antes do debate da TV Cultura. A equipe reclamava de restrições de impulsionamento de conteúdo impostas pela Meta, dona do Instagram. Como o candidato tem apenas 25 segundos na televisão e 35 segundos no rádio, aposta na campanha pelas redes sociais.

A equipe de Datena avaliava que o episódio da cadeirada o colocaria de volta na disputa. A agressão teria "aberto os ouvidos" da população para o projeto de governo dele.

O Datafolha divulgado ontem, porém, não mostra a reação esperada. Datena continua com 6% de intenção de voto, e sua rejeição cresceu. O índice de eleitores que não votariam no apresentador de jeito nenhum era de 32% na semana passada, antes da cadeirada, e passou para 35%. A oscilação está dentro da margem de erro, de três pontos percentuais para mais ou para menos, mas é a maior para o candidato desde o primeiro levantamento (31%). A pesquisa divulgada ontem foi feita após a agressão.

Se eu não for eleito prefeito de São Paulo, para mim, acabou a política. Espero ser eleito. Eu ainda tenho esperança de ir para o segundo turno.
José Luiz Datena, em entrevista ao UOL

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Pior momento do partido

Queda do apresentador nas pesquisas reflete enfraquecimento do PSDB. Enquanto os tucanos negociavam com Datena a confirmação da sua candidatura, em março, vereadores do partido iniciaram debandada. Antes de 5 de abril, quando chegou ao fim o prazo da janela partidária, o partido estava esvaziado —os oito vereadores que compunham a bancada pediram desfiliação.

O diretório tucano em São Paulo se opõe ao atual prefeito, enquanto parte do partido insistia em uma aliança com ele. O desentendimento entre vereadores e o atual diretor, José Aníbal (PSDB) -agora vice na chapa com Datena—, se deu, inclusive, na contrariedade com o lançamento de uma candidatura própria.

A saída deles [vereadores] não significou nada. Apenas tinham aderido, incondicionalmente, ao atual prefeito e foram incapazes de formular qualquer política pública, do interesse da população
José Aníbal, presidente do PSDB-SP e vice de Datena

Apesar dos números baixos, Datena é considerado por Aníbal a "esperança" do PSDB. Em sabatinas, o vice já disse que o "PSDB está sem nenhum protagonismo em São Paulo". O tucano diz acreditar que o partido depende de Datena para se reconstruir.

Para Aníbal, foi a ascensão do bolsonarismo que colocou o PSDB nessa situação. "Bolsonaro é um antípoda do PSDB", afirmou. Ele diz que o partido deve continuar defendendo a democracia, como está no estatuto da legenda, e deposita esperanças no episódio da cadeirada para que as propostas de governo do PSDB voltem a ser ouvidas.

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