Disputa por voto evangélico em SP envolve tour em igrejas e jejum de 7 dias
A disputa pelo voto evangélico na capital paulista tem se intensificado na reta final do primeiro turno entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo. Segundo o Datafolha, esse eleitorado corresponde a 23% dos paulistanos.
O que aconteceu
Candidatos têm apostado em estratégias diferentes para atrair votos desse segmento. Guilherme Boulos (PSOL) aposta em conversas com lideranças progressistas, mas também tenta se aproximar dos fiéis. Pablo Marçal (PRTB) usa discurso em que mistura tom messiânico com o vocabulário de autoajuda. Ricardo Nunes (MDB) fortaleceu relações com pastores de igrejas com maior representação na cidade.
Enquanto Nunes visita grandes igrejas, Marçal acena aos eleitores evangélicos em discursos. Em declarações públicas, ele explora a teoria da prosperidade, "os valores da família" e o fato de ter se casado virgem. Já o candidato à reeleição tem intensificado as agendas em templos pela cidade.
Com maior resistência entre esse eleitorado, Boulos foca o eleitor que frequenta denominações da periferia para buscar votos. "É onde a gente tem espaço para crescer. A gente quer trabalhar com a capilaridade das pequenas igrejas", afirma o deputado estadual Paulo Fiorilo (PT-SP), responsável pela interlocução com o segmento na campanha.
José Luiz Datena (PSDB) e Tabata Amaral (PSB) exploram ligação pessoal com a Igreja Católica. A candidata do PSB conta também com o apoio do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) nas interlocuções. Já o apresentador sempre recorre a termos cristãos e iniciou a campanha em visita a Aparecida do Norte, no Vale do Paraíba, onde fica o Santuário Nacional de Nossa Senhora da Aparecida.
O ex-coach lidera numericamente a intenção de votos nesse eleitorado com 30%, segundo Datafolha divulgado na quinta-feira (26). Nunes marcou 29% e Boulos 16%. A margem de erro é de cinco pontos para mais ou para menos.
Briga acirrada na direita com Nunes e Marçal
O candidato à reeleição intensificou as agendas em igrejas após a subida de Marçal nesse segmento. Em setembro, Nunes participou de ao menos dez compromissos em templos evangélicos. Tarcísio de Freitas (Republicanos) tem papel importante nessa estratégia. Segundo um interlocutor, o governador tem feito reuniões "dia sim, dia não" com até 100 lideranças religiosas por vez em busca de apoio a Nunes. O partido de Tarcísio é ligado à Igreja Universal.
Prefeito aposta na aproximação com evangélicos por intermédio de pastores. Recentemente, um grupo de lideranças religiosas, como o apóstolo Estevam Hernandes, da igreja Renascer em Cristo, gravou um vídeo em apoio à reeleição de Nunes. Candidatos a vereadores ligados à igreja também aparecem nas imagens.
Num primeiro momento, as estratégias da campanha de Nunes surtiram efeito e as intenções de voto do prefeito nesse eleitorado aumentaram. Na semana passada, entretanto, o ex-coach voltou a liderar numericamente nesse segmento, segundo o Datafolha. A fórmula de Nunes não é bem vista pela maioria dos paulistanos, mostra pesquisa Datafolha. Para 56%, o pastor da igreja não deve apoiar candidato durante o período eleitoral. A indicação é vista negativamente por 70% dos entrevistados.
Aliados de Marçal afirmam que a "aderência evangélica à campanha é orgânica". O ex-coach conquistou o eleitorado pelo discurso da prosperidade que mistura tom messiânico. Os interlocutores afirmam que o candidato do PRTB assume ser evangélico — em diferentes ocasiões, entretanto, antes da campanha, ele disse não ser religioso.
Nas últimas semanas, o discurso mudou. Passou a visitar igrejas, deixou o discurso mais alinhado ao mundo gospel, com referências bíblicas, e anunciou um jejum de sete dias — disse que só beberia água. A prática repete a ação anunciada por Michelle Bolsonaro (PL) nas eleições de 2022.
Recentemente, ele se envolveu em uma polêmica após visitar a Assembleia de Deus Ministério Belém, na zona leste de São Paulo. Marçal publicou vídeos nas redes sociais para dizer que recebeu o apoio da igreja, que depois foi a público negar e dizer que apenas orou pelo candidato. A igreja é do pai da vereadora Rute Costa (PL), da base de Nunes, e, portanto, apoia o atual prefeito. Dois dias depois, Nunes visitou o templo e aceitou a Jesus — mesmo sendo católico.
Nos debates e discursos, Marçal e Nunes se atacam sobre o tema. Durante o debate UOL/Folha, o ex-coach acusou o candidato à reeleição de decorar trechos bíblicos escolhidos por sua equipe. A campanha do emedebista já explorou na propaganda eleitoral falas antigas de Marçal para enfraquecê-lo com o público evangélico.
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A campanha de Boulos tem apostado em se aproximar dos evangélicos pelos pastores de igrejas nas periferias. O psolista conta também com a interlocução de vereadores com esse público. Com presença constante, o deputado pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ) tem reforçado o apoio em suas redes sociais. Aliados dizem que a presença do candidato em templos poderia não fazer sentido e defendem a aproximação dele através das propostas.
Em um evento com lideranças evangélicas progressistas, o candidato associou o trabalho social da igreja com o de movimento sociais. Boulos falou do Cozinhas Solidárias, do MTST, seu berço político. "O que tem de evangélico e evangélica na luta pela moradia em São Paulo não tá escrito", disse ele, na ocasião.
Pessoas próximas da campanha dizem que a chegada de Marçal dificultou a inserção de Boulos entre os evangélicos. Ele e Tabata, que tem 6% das intenções de voto desse eleitorado, estão longe de liderar esse segmento. A candidata do PSB flerta com os mais religiosos em seus discursos ao mencionar sua ligação com a igreja Católica.
O cenário político paulistano com evangélicos repete 2022. A esquerda enfrenta dificuldades para furar a bolha de líderes progressistas. Na época, fake news de que Lula (PT) fecharia igrejas se espalharam, apesar da tentativa do então candidato petista em reafirmar que foi o responsável pela lei que criou o Dia Nacional da Marcha para Jesus.
O PT solicitou ficar responsável pela interlocução com evangélicos na campanha de Boulos. O partido chegou a lançar este ano uma cartilha para auxiliar os candidatos nesse diálogo. O documento é uma espécie de guia contra preconceito e estereótipos. O UOL apurou, no entanto, que a cartilha não foi considerada na estratégia da campanha de Boulos.
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