Nunes é alvo em debate marcado por confrontos sobre Deus, drogas e machismo

Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) foram os principais alvos dos rivais em debate marcado por confrontos que envolveram Deus, drogas, corrupção e machismo. O evento foi promovido pelo UOL e pela Folha nesta segunda-feira (30).

O que aconteceu

Pablo Marçal (PRTB) colocou pressão sobre o prefeito insistindo para que ele falasse do B.O. registrado pela esposa. Por diversas vezes ao longo do debate o ex-coach perguntou a Nunes sobre qual era a razão para a sua esposa ter registrado um boletim de ocorrência contra ele. "Seja homem e fale por que a sua esposa registrou um boletim de ocorrência?". Nunes desconversou dizendo que é casado há 27 anos e que jamais agrediu a mulher.

Nunes desconversou dizendo que é casado há 27 anos e que jamais agrediu a mulher. "Ô, Pablo Marçal, o senhor repetiu essa pergunta sobre o boletim de ocorrência registrado, né. O Pablo Marçal repetiu de um jeito patético, como ele costuma fazer, com textos de internet."

O ex-coach concentrou as perguntas até Nunes não ter mais tempo para responder. Pelas regras do debate, cada candidato tinha 20 minutos de banco de tempo que precisava ser administrado por ele mesmo. "De novo, eu vou perguntar pela oitava vez: Por que a sua esposa registrou o boletim de ocorrência? Só isso que eu quero e não toco muito mais. Todo mundo sabe o que eles querem saber", provocou o influcienciador.

Já na saída do debate, o prefeito deu sua versão dos fatos sobre o B.O. da esposa. "Isso aconteceu em desentendimento há 14 anos, sem nenhum tipo de agressão física, nunca houve, nunca levantei um dedo para minha esposa. É uma pena que as pessoas utilizam isso para poder fazer esse jogo baixo na política. Eu até vou aproveitar aqui e pedir desculpa para minha esposa, que já sofreu tanto com isso", disse o prefeito ao UOL.

Deus e a Bíblia viram tema de discussão

Religião também entrou em disputa entre candidatos. Marçal usou discurso religioso para se colocar no debate. "Derrubaram as minhas redes sociais, mesmo assim as ondas continuaram, porque aí vem uma onda de perseguição e tudo, como diz a Bíblia, todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus e são chamados segundo seu propósito", disse.

Nunes aproveitou para entrar no assunto, mas em tom de crítica. "Pablo Henrique, essa coisa de querer falar de religião é muito ruim. Sabe o que fica feio pra você? Você ir lá na Assembleia de Deus, falar com um grande líder, e depois ficar apostando que ele apoia você e não te apoia. Ficar mentindo, isso é ruim", afirmou.

Tabata endossou o prefeito ao também afirmar que não gosta de fazer política em nome de Deus. "Sabe por que eu não fico esbravejando sobre a minha fé? Porque eu não preciso. A relação que eu tenho com Deus é com Deus, é com a minha comunidade, é com a minha igreja", afirmou. "E eu realmente não acho que essa instrumentalização da fé, ela é boa nem pra nós cristãos, nem pro que tá acontecendo."

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Ex-coach faz comentário machista para falar de Tabata

Em fala machista, Marçal disse que "mulher não vota em mulher". Primeiro, ele afirmou que a candidata do PSB esbravejava como "tia de colégio". Em seguida, afirmou que, "se mulher fosse votar" nela, Tabata "ganharia no primeiro turno". "Mulher não vai votar em mulher, mulher é inteligente. Ela tem sabedoria. Se fosse isso, pobre votava em pobre, negro ia votar em negro."

Boulos pediu a palavra para indicar que a fala era preconceituosa. "É triste ouvir isso de quem quer governar a maior cidade do Brasil", afirmou.

Tabata respondeu a Marçal dizendo que ele odeia as mulheres. "É importante dizer que Marçal não vai estar no segundo turno porque eu tive coragem de desmascará-lo", disse ela sobre vídeos de sua campanha com denúncias contra Marçal. "Deve ser por isso que ele odeia tanto as mulheres. Mas as mulheres e o povo estão vendo e a única coisa que dispara nessa eleição é a sua rejeição", disse ela. Segundo o último Datafolha, Marçal tem rejeição de 53% entre as mulheres.

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Boulos na mira

Deputado foi alvo de insinuação de uso de drogas. O ex-coach foi questionado pela jornalista da Folha Julia Barbon sobre a acusação que fez no começo da campanha de que Boulos usava cocaína. O jornal Folha de S.Paulo revelou que, na verdade, o processo que embasava essa acusação de Marçal era de um homônimo. Marçal preferiu não responder a pergunta.

Boulos revelou que foi internado com depressão aos 19 anos, sem relação com drogas, segundo ele. O deputado afirmou que passou "alguns dias" no Hospital do Servidor para tratar de uma depressão crônica e que disse ser a primeira vez que citou publicamente o assunto.

O candidato do PSOL reafirmou nunca ter usado cocaína e disse que "só usou maconha uma vez". Marçal perguntou a Boulos diretamente se ele nunca havia feito uso de drogas. Boulos foi taxativo em relação à cocaína, dizendo "nunca usei". "Maconha só, eu provei uma vez, mas na adolescência. Nunca mais. Deu uma dor de cabeça danada", disse.

Classe média e bolsonarismo

Nunes questionou Boulos sobre suposta declaração de que a classe média "é intolerante, homofóbica, racista". O prefeito ainda afirmou que agora o psolista procuraria o voto da mesma classe média, onde Boulos tem mais aprovação, segundo pesquisas.

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Boulos respondeu atrelando o prefeito ao bolsonarismo. "No fim do dia, representa o projeto bolsonarista da extrema direita para a cidade de São Paulo", afirmou.

Marçal afaga Tabata

Apesar da fala machista, Marçal tentou agradar Tabata ao longo do debate, de olho no voto feminino. "Ela fez uma leitura cirúrgica, inclusive quero deixar registrado que, avaliando o perfil comportamental de todos os candidatos aqui, a pessoa mais inteligente de todas é a Tabata Amaral", disse. "Nos outros debates, nenhum dos homens se direcionam a mim, não mandam perguntas e as mulheres são guerreiras", afirmou em referência ao isolamento imposto pelos adversários em debates anteriores.

No segundo bloco, Marçal chegou a convidar Tabata para ser secretária numa eventual gestão dele. "As propostas [dela] são boas, prometo carregar as que forem viáveis. Se ela deixar esse esquerdismo, esse partido que ela está, ela é convidada a ser secretária de Educação, que ela é brilhante nisso."

Boulos, que foi alvor de Tabata em debate no sábado, tentou se aproximar da adversária ao dizer que estavam do "mesmo lado". O deputado igualou Nunes a Marçal ao dizer que eles são próximos a ex-presidente Bolsonaro. "Meu enfrentamento é contra dois bolsonaristas. Acredito que você [Tabata] faz parte do campo progressista, e apesar das diferenças, acredito que estamos do mesmo lado."

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Rachadinha leva a troca farpas

Nunes e Boulos trocaram acusações envolvendo rachadinha. O psolista iniciou a provocação, dizendo que a gestão do prefeito é alvo de denúncias por corrupção. "Nunca tive indiciamento, nunca tive uma condenação, todas as minhas ações foram de combate à corrupção", afirmou Nunes antes de devolver o ataque. "Quem pôs a caneta lá foi o seu Guilherme Boulos para poder normalizar a questão da rachadinha", disse e emedebista. Ele se referia a um relatório de Boulos na Comissão de Ética da Câmara em que absolveu o deputado André Janones (Avante) da acusação de pedir parte do dinheiro de assessores para pagar dívidas eleitorais.

Boulos reagiu, citando Flávio Bolsonaro (PL), que apoia Nunes, como "rei da rachadinha". O senador foi denunciado por chefiar um esquema de desvio de recursos públicos em seu antigo gabinete de deputado estadual no Rio. "Me impressiona muito ele trazer esse tema aqui. Ele, que é aliado do Flávio Bolsonaro, o rei da rachadinha, é o rei do camarote — enquanto estava lá no camarote da Fórmula 1, em São Paulo 2 milhões de pessoas estavam sem luz", afirmou Boulos em referência ao apagão que atingiu a cidade, em novembro passado.

Boulos e Marçal usam melhor o tempo

Este foi o primeiro debate nas eleições 2024 com o formato de banco de tempo. O próprio candidato administrou a duração das falas em um limite de 20 minutos. Cada candidato pôde usar na mesma resposta um máximo de 5 minutos. O encontro teve quatro blocos ao longo de quase duas horas de debate.

Cada candidato tinha autorização para usar a palavra em qualquer resposta, mesmo que a pergunta não fosse dirigida a ele. Para isso, precisaram sinalizar com a mão que gostaria de intervir. Quando começava a falar, seu tempo era descontado. O cronômetro travava novamente quando ele encerrava sua fala.

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Boulos e Marçal foram os que melhor administraram seu tempo. Cada um deles chegou ao final com cerca de quatro minutos. Marçal, por exemplo, apoveitou para voltar a perguntar a Nunes sobre a suposta agressão à esposa. Sem tempo, Nunes reclamou por não ter como rebater as acusações.

O influenciador aproveitou para criticar o prefeito pelo mau uso do tempo no debate, dizendo que ele não pode ser "gestor da prefeitura". "Esse é o melhor debate até agora, que mostra a dinamicidade, mostra a gestão, a administração do tempo, e o Ricardo, vergonhosamente, foi o pior nesse debate", afirmou. "Você [eleitor] não viu, mas todo mundo aqui viu ele desesperado porque eu tenho 3 minutos e 40. Ele tem só 23 segundos."

Boulos usou seu tempo para mirar tanto em Marçal como em Nunes. Primeiro, rebateu o ex-coach, que afirmou que o psolista deveria voltar ao cargo de "funcionário público" — Boulos é deputado. "Eu, como prefeito, eu vou te ligar e vou pedir sua ajuda. Essas emendas que você tem lá, para de fato fazer o maior programa de habitação dessa cidade", disse Marçal.

Boulos respondeu ironizando um projeto habitacional de Marçal na África. "Em Angola, ele prometeu fazer 300 [casas]. Arrecadou dinheiro do jeito como ele costuma fazer, enganando as pessoas. Fez 30", ao citar um projeto que tem usado como exemplo para exemplificar como vai desfavelizar São Paulo.

Psolista retomou a relação de Nunes com o bolsonarismo, como fez durante boa parte do debate. "Não respondeu novamente se o Bolsonaro vai indicar a gente ou não na sua gestão. Qual é a conclusão que a gente pode tirar?", questionou.

O mais recente levantamento do Datafolha mostra estabilidade. Nunes tem 27%, Boulos 25% e Marçal, em terceiro, tem 21%. Tabata marcou 9% — o UOL e a Folha limitaram o convite ao debate aos quatro candidatos numericamente mais bem colocados na pesquisa. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

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* Participaram desta cobertura: Ana Paula Bimbati, Anna Satie, Bruno Luiz, Caíque Alencar, Fabíola Perez, Herculano Barreto Filho, Laila Nery, Lorena Barros, Rafael Neves, Saulo Pereira Guimarães, Wanderley Preite Sobrinho, do UOL, em São Paulo, e Letícia Polydoro, colaboração para o UOL

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