Candidato mais rico do país é acusado de estelionato por empresário nos EUA
Um empresário do ramo açucareiro dos EUA acusa João Pinheiro (PRTB), candidato mais rico do país, de descumprir um contrato no valor de US$ 6,8 milhões (R$ 36,9 milhões) e não entregar uma carga. Pinheiro concorre a prefeito em Marília (a 440 km da capital paulista) e afirma que tenta solucionar o impasse.
O que aconteceu
O empresário Andrew Choi registrou BO por estelionato. Todas as informações do registro policial foram confirmadas pela SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo).
Caso foi enviado para a delegacia de Marília. O processo levou alguns dias, já que o boletim foi registrado online, a partir de outro país, e inicialmente faltaram informações no documento, feito no dia 23 de setembro. Segundo a SSP, os dados foram complementados posteriormente.
Candidato declarou R$ 2,8 bilhões em bens à Justiça Eleitoral. O valor é quase 80% maior do que o orçamento de 2024 da prefeitura do município no interior paulista. A cidade vai administrar cerca de R$ 1,6 bilhão.
Pagamento adiantado. Choi disse para a polícia ter feito um contrato com a empresa de João Pinheiro, a Sugar Brazil, e pago adiantado US$ 2,04 milhões (R$ 11,09 milhões na cotação atual), ou seja, 30% do valor total do contrato, por 20 mil toneladas de açúcar. No entanto, segundo o registro, a carga não foi entregue.
Candidato não devolve o dinheiro nem entrega o açúcar. Segundo o BO, ao qual o UOL teve acesso, João Pinheiro "se recusa a devolver o dinheiro e não conseguiu fornecer o produto que contratamos". "Já se passaram mais de quatro meses e ele deveria entregar os produtos há três meses." O destino final seria a China, segundo Choi.
Encontros em festa do peão e restaurante. Em conversa com a reportagem via mensagem, Choi afirmou que conheceu Pinheiro por recomendação de um colega do setor açucareiro. Disse que veio ao Brasil duas vezes para se reunir com o candidato, a fim de fechar o negócio, e enviou para a reportagem fotos dos dois juntos. Eles foram a um restaurante em São Paulo e a uma festa de peão, no interior do estado, que teve como uma das patrocinadoras a empresa do candidato.
A primeira visita foi em maio de 2024. Fiquei pouco menos de uma semana. A segunda visita foi três semanas depois para confirmar o produto. Ele [João Pinheiro] me levou para uma usina de açúcar e uma fábrica de frango. Nenhum dos locais tinha meus produtos, mas ele tinha desculpas na época.
Andrew Choi, empresário, sobre João Pinheiro
Atraso no câmbio. Segundo o empresário, Pinheiro disse ter havido atrasos na compensação de dólares para reais do adiantamento, e isso teria protelado o processo por 35 dias. Também contou que havia sido marcada uma nova data para o embarque da mercadoria.
Viagem adiada e nada de açúcar. Choi afirma ter comprado passagens para vir novamente ao Brasil para acompanhar o carregamento no porto de Paranaguá, mas Pinheiro teria dito para ele adiar a vinda. "Dois dias antes da minha partida, ele me disse para não vir porque o açúcar não estava no porto e não estava pronto para embarque. Desde então, ele não forneceu uma data de carregamento atualizada ou qualquer atualização em relação ao meu açúcar", contou.
De acordo com ele, o restante do pagamento seria efetuado após o recebimento da carga e de todos os documentos da transação. "Tenho comprovante de todos os meus pagamentos de transferências bancárias para a conta bancária da Sugar Brazil. João Pinheiro recusa-se a cooperar na devolução do meu dinheiro. Ele não forneceu nenhum dos produtos. Já pedi diversas vezes o dinheiro de volta e ele não colaborou", diz um trecho do registro na polícia.
O que diz João Pinheiro
Pinheiro confirma que não entregou mercadoria. O candidato à Prefeitura de Marília afirmou para o UOL, por mensagem e por ligação telefônica, que o empresário chegou a ver uma parte da carga no Brasil e que, como Choi não havia pago o restante do valor, não fez o embarque.
Justificativa vaga. Ao ser questionado sobre o motivo de não ter cobrado do empresário a suposta dívida, ele afirmou apenas que o mercado de exportação é "complexo". A reportagem insistiu que o comprador apresentou um documento de cancelamento do contrato, porque o acordo de pagar parte antecipadamente e outra após a entrega, não foi cumprido, mas Pinheiro manteve seu posicionamento.
Sem dados no porto. O UOL procurou o porto de Paranaguá, para onde deveria ir o carregamento, segundo o empresário. A assessoria disse que não é possível identificar a carga apenas com o nome dos envolvidos e que precisaria de mais informação, como a de qual navio levaria a carga para o exterior.
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Quero receberJoão Pinheiro alegou sigilo. Ao ser questionado pela reportagem, ele respondeu que não poderia passar essa informação. "É questão empresarial mesmo, é questão de logística, questão de preço, questão de sobrevivência de mercado, se é que você me entende. São informações que essas aí eu não posso passar, não, tá?"
Empresa de embarque fala em carga à espera de destino. O UOL, no entanto, teve acesso aos documentos depois. Neles, a Bravelog é apontada como a responsável pela movimentação da carga. O proprietário David Muller disse que uma comitiva de João Pinheiro visitou a empresa neste ano, mas sem a presença dele nem de Andrew Choi. Segundo Muller, a Bravelog faz negócios com Pinheiro há mais de cinco anos. Ele afirmou também que possui uma carga de 50 toneladas à espera para ser embarcada, em nome do empresário de Marília, mas que ainda não tem informação sobre o destino.
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