Com Datena, PSDB tem seu pior resultado na história para a Prefeitura de SP

O PSDB registrou nas urnas o seu pior resultado na história em disputas à Prefeitura de São Paulo desde que lançou o primeiro candidato para concorrer, em 1988.

O que aconteceu

Datena alcançou 1,84% de votos na disputa à administração municipal de São Paulo — o que significa 112.344 votos. "Foi péssimo [o meu desempenho]. Foi horrível, foi muito abaixo da crítica", afirmou o candidato tucano. "Mas acho que, se eu tivesse mais tempo para estudar o que é a política... Você viu que eu fui melhorando", disse.

Historicamente a votação mais expressiva do PSDB foi a de João Doria em 2016. Ele foi eleito em primeiro turno com 53,29%. Contudo, o então prefeito deixou a Prefeitura de São Paulo, após um ano e três meses à frente do cargo, para disputar o governo do estado de São Paulo. O vice de Doria, Bruno Covas, assumiu o posto e depois se candidatou à prefeitura.

Morte de Bruno Covas deixou a sigla paulista 'órfã' de lideranças políticas. Em 2020, Covas venceu Guilherme Boulos (PSOL) no segundo turno. Em maio de 2021, ele morreu aos 41 anos, vítima de um câncer no sistema digestivo.

Partido também não elegeu vereadores neste ano pela primeira vez. Em 2020, os tucanos fizeram uma bancada de oito vereadores, mas perderam todos eles na janela partidária deste ano, após a sigla decidir não apoiar a reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB).

Racha interno

Disputas internas por poder, erros de estratégia do PSDB e migração de eleitores de direita para o bolsonarismo são fatores que explicam derrocada da sigla. Para o professor de ciência política do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) Fernando Guarnieri, a inviabilidade da candidatura de Datena em São Paulo foi "consequência de erros anteriores do partido".

Disputas internas impulsionaram declínio gradual do PSDB na capital, avalia professor. De acordo com Guarnieri, o partido está "rachado" desde 2008, quando Gilberto Kassab (DEM), apoiado por tucanos influentes à época, como o próprio Serra, enfrentou na eleição paulistana Geraldo Alckmin, uma das principais figuras do PSDB no estado de São Paulo até então. Naquele ano, a disputa municipal se deu com troca de ataques entre os dois. "Esse racha que começou lá atrás foi reproduzido em todas as eleições da capital até agora", diz o professor.

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Duas alas do partido protagonizaram "racha" interno. "De um lado, havia um grupo preocupado em manter posições de poder dentro da máquina. Do outro, uma ala com ambições nacionais, como Serra, Alckmin e João Doria, usando a candidatura em São Paulo para se eleger presidente. Alckmin saiu, mas os grupos continuam se digladiando dentro do partido", diz Guarnieri.

"Furacão Doria" e ascensão da direita bolsonarista

"PSDB passou por furacão Doria e pouco restou dele", diz analista político. Na avaliação do cientista político e professor-adjunto do Departamento de Gestão Pública da FGV, de Marco Antônio Teixeira, o ex-prefeito e ex-governador de São Paulo João Doria tentou construir um "projeto de poder próprio" que não vingou, "mas se chocou com a estrutura de poder até então existente no PSDB".

Partido virou "satélite" de Ricardo Nunes (MDB), afirma Teixeira. "O Bruno Covas (PSDB) herdou a prefeitura quando Doria virou governador do estado. Mas, quando ele morreu, o partido ficou à deriva e virou uma espécie de satélite do governo Nunes. Depois, à medida que os tucanos se dividiram e a maioria optou por não apoiar o Nunes, o partido praticamente desapareceu em São Paulo".

Bolsonarismo enfraqueceu tucanos principalmente fora da capital até 2020. "Na eleição de 2018, o candidato do PSDB [Geraldo Alckmin] foi dizimado pela candidatura de Bolsonaro. Já em nível municipal a gente continuou tendo uma hegemonia tucana, com Doria eleito em 2016 e, Covas, em 2020", diz o professor da UERJ.

Nessas eleições, o partido acabou enfraquecendo. Brigas internas fizeram com que o eleitor que buscava votar em um candidato de direita não enxergasse no PSDB uma candidatura viável contra a esquerda.
Fernando Guarnieri, professor de ciência política do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ

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A aposta em Datena

Partido apostou em popularidade do apresentador em meio à ascensão de candidatos de direita na capital, avalia professor. Para Guarnieri, "em termos de pretensões políticas, o que Datena tinha a oferecer era sua popularidade". No entanto, afirma, "o eleitor não parece tê-lo identificado como alguém que representasse a direita que o Nunes, de um lado, e o Marçal, do outro, representam".

Presidente nacional do PSDB chegou a reconhecer aposta em popularidade de Datena. Em entrevista ao UOL ainda durante a campanha pré-primeiro turno, Marconi Perillo afirmou: "O Datena, por ser tão conhecido e pela força de comunicação que tem, é claro que ajuda no futuro do partido".

Perillo também admitiu que eleição de Datena poderia decidir o futuro tucano. "Qualquer candidato a prefeito que o PSDB tivesse em São Paulo teria influência no futuro da sigla", disse. "O mesmo vale para os outros partidos, porque São Paulo é a maior cidade do país e provavelmente a única eleição municipal que chama atenção da população no Brasil todo", afirmou em agosto.

Não há mais lideranças do partido em São Paulo, diz professor. Para Marco Antônio Teixeira, da FGV, "a aposta do PSDB era a candidatura de Datena para tentar restaurar alguma força política na cidade e eleger uma bancada. Mas não deu certo, desidratou, e chegou quase morta ao primeiro turno. Agora, se olharmos do ponto de vista concreto, quem é a liderança do PSDB hoje em São Paulo capaz de transferir e influenciar votos? Nenhuma".

O tucanato paulista, que já reinou no país todo, que governou o país durante os anos FHC, hoje padece de força e, portanto, tem pouca capacidade de influenciar os rumos políticos da cidade.
Marco Antônio Teixeira, cientista político e professor-adjunto do Departamento de Gestão Pública da FGV

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Poucos recursos e tempo de TV

Com pouco recurso, PSDB reduziu número de candidatos pelo Brasil para apostar em Datena. Com o menor fundo eleitoral de sua história, o partido viu o total de postulantes a prefeito despencar 47% no país — de 1.332, em 2020, para 712 neste ano. No estado de São Paulo, foram 64 candidatos a prefeito, ante 407 há quatro anos. Em 2020, a sigla lançou 7.989 candidatos a vereador em todo o estado. Em 2024; são 3.192, segundo o TSE.

Tucanos perderam tempo de TV em 2024. Com apenas 13 deputados federais, o partido perdeu tempo de televisão e participação no fundo partidário, conforme mostrou reportagem do UOL. Hoje, tem à disposição R$ 147,9 milhões para distribuir entre todos os candidatos, o equivalente a 2,8% do fundo deste ano, de R$ 4,9 bilhões. Em 2020, o "fundão" era bem menor (R$ 2 bilhões), mas o PSDB detinha 6,4% dele: R$ 130 milhões.

Mesmo com menos dinheiro, PSDB destinou R$ 8 milhões do fundo partidário a Datena. Proporcionalmente, considerando a diminuição do valor do fundo, é mais do que os R$ 14,8 milhões da campanha vitoriosa de Bruno Covas em 2020.

Errata:

o conteúdo foi alterado

  • Diferentemento do informado no primeiro parágrafo e na tabela de resultados com candidatos do PSDB, o primeiro político a receber votos foi José Serra, em 1988, com 6,89% dos votos. A informação foi corrigida.

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