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Russomanno diz que vacina para covid-19 deve ser testada em quem já está doente

06 out. 2020 - Celso Russomanno (Republicanos) disse que a vacina contra o novo coronavírus deveria ser testada em quem já está doente - FÁBIO VIEIRA/FOTORUA/ESTADÃO CONTEÚDO
06 out. 2020 - Celso Russomanno (Republicanos) disse que a vacina contra o novo coronavírus deveria ser testada em quem já está doente Imagem: FÁBIO VIEIRA/FOTORUA/ESTADÃO CONTEÚDO

Paula Reverbel

Em São Paulo

03/11/2020 13h41Atualizada em 03/11/2020 15h35

O deputado federal Celso Russomanno (Republicanos), candidato à Prefeitura de São Paulo, disse na manhã de hoje que a vacina contra o novo coronavírus deveria ser testada em quem já está doente, além de ser testado em crianças e idosos. A afirmação foi dada durante evento na Associação Paulista de Imprensa.

"A vacina está sendo testada em adultos sãos, nenhum com covid. Não está sendo testada em crianças, não está sendo testada nos idosos e não está sendo testada nos doentes. São as etapas por onde uma vacina deve passar. Isso não está acontecendo", afirmou.

"Os efeitos colaterais imediatos a gente pode prever, mas os a longo prazo, não. Toda vacina tem que passar por esse processo. Eu quero muito, todos aqui querem uma vacina. Mas se ela é tão boa assim, mas se essa vacina é tão boa assim, vai lá, começa na China, aplicando nas pessoas", concluiu.

A afirmação vai contra o propósito básico de uma vacina, que é um imunizante, e não um medicamento. Isto é, ela previne uma doença, não cura.

O fato de começar com adultos, e não crianças e idosos, também segue o ritmo comum de testes, segundo especialistas.

"Isso mostra o absoluto desconhecimento de como funciona um ensaio clínico", afirmou ao Estadão o médico infectologista Jamal Suleiman, do Hospital Emílio Ribas, sobre a ideia de testar vacinas em pessoas que já têm a doença.

De acordo com o especialista, os testes são sempre iniciados em adultos não idosos antes de passarem a incluir crianças e pessoas de idade. "Idosos vão perdendo a sua capacidade de resposta imunológica, um fenômeno conhecido há pelo menos um século", explicou Suleiman, sobre o motivo de testes em pessoas de idade ficarem para um segundo momento.

Em seu discurso, Russomanno disse ser contra fazer com que a população de São Paulo "seja cobaia", linha adotada por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), cabo eleitoral do candidato do Republicanos. "Eu não sou negacionista não, pelo contrário. Quero a vacina o mais rápido possível, agora não quero que a população de São Paulo seja cobaia de nada", afirmou.

Falta de banho e resistência

No mês passado, outra afirmação do candidato do Republicanos relacionada ao coronavírus causou polêmica. Russomanno sugeriu que a falta de banho deixa moradores de rua resistentes à covid-19.

Bolsonaro x Doria

O estado de São Paulo é palco de uma polêmica sobre a vacina envolvendo Bolsonaro e seu rival político, o governador João Doria (PSDB), aliado do atual prefeito Bruno Covas (PSDB), que disputa a reeleição. A disputa entre ambos envolve o CoronaVac, imunizante desenvolvido pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan e que aguarda análise de registro da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

No último dia 21 de outubro, Bolsonaro afirmou, em entrevista à rádio Jovem Pan que não comprará a Coronavac mesmo se ela receber registro da Anvisa. O imunizante está na última etapa de testes clínicos no Brasil. Naquele mesmo dia, ele havia desautorizado o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e vetado a compra de 46 milhões de doses do produto pelo Ministério da Saúde.

De acordo com pesquisa Ibope/Estadão/TV Globo divulgada na sexta-feira (30) dois terços dos paulistanos discordam do veto do presidente.