"Todos os papas são criticados, não existe unanimidade", diz dom Cláudio Hummes
Arcebispo emérito de São Paulo, dom Cláudio Hummes avalia que “todos os papas são criticados” por uma razão ou por outra e que “não existe unanimidade” sobre nenhum deles.
“Até mesmo João Paulo 2º tinha críticos”, disse dom Cláudio, rebatendo as críticas de que Bento 16, que anunciou a sua renúncia nesta segunda-feira (11), segue uma linha muito conservadora e pouco fez para combater os casos de abusos sexuais e pedofilia pelos padres.
ENTENDA O PROCESSO SUCESSÓRIO DO PAPA
Quando o chefe da Igreja Católica renuncia a sua função ou morre, seu sucessor é eleito pelos cardeais reunidos em conclave na Capela Sistina, onde ficam isolados do mundo exterior.
Cinco cardeais brasileiros deverão participar do conclave que se reunirá para eleger o sucessor do papa Bento 16. Segundo a última lista do Vaticano, atualizada há duas semanas, há um total de 119 cardeais aptos a votar no conclave.
Para poder votar na escolha do papa, o cardeal precisa ter menos de 80 anos. O Brasil tem um total de nove integrantes no Colégio Cardinalício do Vaticano, mas quatro deles já ultrapassaram a idade limite.
“Isso [a questão dos abusos] é um problema muito sério e que foi, de fato, enfrentado pelo atual papa, mas há muita coisa a ser feita ainda. É algo muito delicado que a Igreja deve enfrentar com muita lucidez”, afirmou ao UOL.
Ele disse ainda que os debates sobre a atuação da Igreja “são importantíssimos porque ajudam a aprofundar a discussão sobre o seu papel, para que vá por caminhos cada vez mais universais”.
Um dos cinco cardeais brasileiros aptos a votar na escolha do novo papa e também de ser escolhido para ocupar o posto, dom Cláudio Hummes afirmou que aguarda comunicação do Vaticano para saber qual será a programação do conclave.
“Estou à disposição para qualquer eventualidade, mas quero estar em Roma no dia 28 de fevereiro [dia em que Bento 16 entrega o cargo], porque fui por quatro anos seu colaborador imediato e gostaria de estar lá com ele neste momento.”
O arcebispo emérito de São Paulo disse que só soube da decisão de Bento 16 de renunciar ao papado hoje, mas não estranhou que ele não tivesse debatido o assunto antes com seus assessores.
“Ele fez bem em só contar agora, porque é muito complicado se discutir sem decidir. Até pelo fato de ser tão incomum, [a notícia da renúncia] iria causar um rebuliço monumental antes mesmo de acontecer.”
Segundo dom Cláudio, não havia nenhuma indicação de que Bento 16 renunciaria a não ser por dois indícios.
O primeiro por ele já ter mencionado no livro ‘Luz do Mundo’ sobre a possibilidade de um papa abrir mão do posto caso não se julgue apto, e o segundo pela sua saúde fragilizada.
“Despojar-se do prestígio e do poder que o cargo de papa confere a uma pessoa é um gesto de muita humildade e simplicidade.”
Em relação ao sucessor de Bento 16, o arcebispo emérito de São Paulo defende que a nacionalidade do candidato não seja fator dominante. “Os brasileiros têm tantas chances como qualquer outro.”
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