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Em Montevidéu, líderes do Mercosul discutem espionagem dos EUA e retorno do Paraguai

Do UOL, em São Paulo

12/07/2013 06h00

A espionagem dos Estados Unidos, o incidente diplomático envolvendo Evo Morales e o retorno do Paraguai vão dominar as discussões dos líderes durante a cúpula do Mercosul, nesta sexta-feira (12), em Montevidéu. Com isso, apesar de estarem previstas na pauta do evento, as negociações para um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia devem ser bastante ofuscadas.

A presidente Dilma Rousseff participa da cúpula, que ocorre na capital uruguaia. Ela se reúne com os líderes do Uruguai, José Mujica, da Argentina, Cristina Kirchner, e da Venezuela, Nicolás Maduro.

Também participam os presidentes da Bolívia e do Equador, que negociam sua incorporação ao grupo como membros plenos, e da Guiana e do Suriname, como associados.

Atualmente sob o comando do Uruguai, a presidência temporária do bloco será repassada para a Venezuela, já que o Paraguai, país que assumiria a liderança interina do bloco segundo a ordem alfabética, está suspenso.

A reincorporação do país será um dos temas debatidos durante o evento. A previsão é que isso ocorra a partir de 15 de agosto -- data da posse do presidente eleito, Horácio Cartes.

Membro fundador do Mercosul, o país foi suspenso em julho do ano passado depois que o Congresso destituiu o então presidente Fernando Lugo. Os países vizinhos condenaram o “impeachment relâmpago”, por ter ocorrido em um prazo de apenas 48 horas. Na época, Lugo foi substituído por seu vice, Federico Franco.

Os venezuelanos ingressaram no bloco quando o Paraguai já havia sido suspenso, perdendo temporariamente direito a voto no grupo regional.

Assim que foi eleito, Cartes defendeu a reintegração do Paraguai ao Mercosul o quanto antes. Porém, recentemente, disse que seu país não aceita que a Venezuela exerça a presidência temporária do grupo.

Criado em 1991, o Mercosul representa atualmente cerca de 80% do PIB, 72% do território e 65% do comércio exterior regional da América do Sul, de acordo com o Ministério das Relações Exteriores.

Asilo a Snowden

O ministro de Relações Exteriores brasileiro, Antônio Patriota, afirmou na quinta-feira (11) que os chanceleres dos países do Mercosul negociam os termos da concessão de asilo a Edward Snowden, que prestava serviços à NSA (Agência Nacional de Segurança) dos Estados Unidos. O pedido foi feito para Venezuela, Bolívia e Equador.

"A situação do senhor Snowden está sendo debatida. É possível que haja uma decisão à parte e estamos coordenando os termos desta concessão de asilo", disse o chanceler, sem revelar para onde iria o ex-técnico da CIA.

Patriota disse também que os chefes de Estado que participam da cúpula do Mercosul vão votar medida no sentido de repudiar atos de espionagem, como os surgidos nos últimos dias.

"Há um consenso regional de repudiar tais atos e buscar uma forma de que os Estados tenham uma proteção e que os direitos à privacidade dos cidadãos sejam honrados", afirmou.

O Mercosul poderá promover ações em organismos multilaterais e no âmbito de convenções internacionais de direitos humanos contra os programas de espionagem norte-americanos, antecipou Patriota.

"Vamos recorrer ao sistema multilateral. Há áreas nas quais já se pode prever uma ação dentro de certos marcos jurídicos como a Convenção de Viena", detalhou.

Incidente com Morales

Os países do Mercosul emitirão um desagravo ao presidente boliviano, Evo Morales, a quem alguns países europeus fecharam o espaço aéreo.

No último dia 2, Morales foi impedido de sobrevoar o espaço aéreo de Portugal, Espanha, França e Itália por causa da suspeita de que Snowden estaria a bordo de seu avião.

Snowden é procurado pelo governo norte-americano após ter revelado monitoramento de dados de cidadãos - norte-americanos e estrangeiros - pelos Estados Unidos. 

“As desculpas apresentadas pelos países europeus foram insuficientes [em relação ao episódio de Morales]”, declarou o chanceler do Uruguai, Luis Almagro.

"É algo inaceitável na região e também fora dela. Vivemos em Estados democráticos em que se pode circular livremente", afirmou Antônio Patriota. (Com Agência Brasil, Estadão Conteúdo e AFP)