Cameron diz que respeita opinião do Parlamento e que não haverá ação militar na Síria
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, disse aos parlamentares britânicos nesta quinta-feira (29) que irá respeitar a decisão do Parlamento e que não haverá ação militar na Síria.
“Está claro para mim que o Parlamento britânico e o povo britânico não desejam ver a ação militar; eu entendo isso e agirei de acordo”, disse o premiê.
Por 285 votos a 272, foi rejeitada a moção do governo defendendo a intervenção na Síria.
Os parlamentares também rejeitaram, por 332 a 220, uma emenda da oposição que pedia mais evidências de que forças do regime do presidente sírio, Bashar al-Assad, usaram armas químicas contra civis na capital Damasco, na última quarta-feira (21).
O debate durou cerca de seis horas na Câmara dos Comuns e ambos os lados expressaram dúvida sobre a necessidade do envolvimento do Reino Unido na crise síria.
Enquanto defendia ataques “restritos” ao país, em apoio à proposta dos Estados Unidos de “dar um sinal” rápido ao regime de que o uso de armas químicas é proibido por leis internacionais, o premiê Cameron chegou a dizer que não estava “100% certo” de que Assad estava por trás dos recentes ataques químicos a civis, mas que isso era “muito provável”.
Cameron enfatizou que a intervenção na Síria cessaria as atrocidades contra os direitos humanos, enquanto os representantes do Partido Trabalhista (oposição) exigiram mais provas da culpa de Assad antes de interferir na guerra civil que se arrasta há dois anos e que já teria provocado 100 mil mortes.
No decorrer das discussões, foram feitas várias referências à invasão do Iraque em 2003, que terminou com a queda de Saddam Hussein, mas sem que houvesse provas da existência de armas de destruição em massa --que serviram de justificativa para a ação militar ordenada pelo então primeiro-ministro britânico, Tony Blair.
Assim que Cameron foi incentivado a responder aos parlamentares sobre como agiria daqui por diante, um dos presentes teria gritado “renuncie” no momento em que o primeiro-ministro afirmava que não participaria de um possível ataque.
Reunião do Conselho de Segurança da ONU termina sem resultados
A reunião do Conselho de Segurança da ONU realizada hoje, antes da sessão no Parlamento Britânico ser encerrada, terminou sem que se chegasse a uma posição definitiva sobre a crise na Síria. Os cinco membros permanentes do Conselho e com direito a veto --China, França, Reino Unido, Rússia e EUA-- voltaram a se encontrar, a pedido da Rússia, para discutir o suposto ataque químico na Síria.
A reunião durou pouco menos de uma hora, e os diplomatas se recusaram a fazer comentários para jornalistas ao fim do encontro. Sob anonimato, um diplomata disse que não ficou claro por que a Rússia convocou uma reunião em que nenhuma novidade surgiu.
A Rússia se mantém em oposição à interferência estrangeira, alegando que não há provas de que o governo sírio foi o responsável pelos supostos ataques químicos contra a população, e é acompanhada pela China.
Os EUA e seus aliados europeus já deixaram claro que acham necessária uma retaliação, afirmando que os ataques foram cometidos pelo regime Assad.
A ONU prometeu divulgar no próximo sábado (31) sua avaliação a partir do trabalho de inspeção feito por sua equipe em Damasco –os agentes deverão retornar aos EUA amanhã.
Se preciso for, EUA terão como justificar intervenção
Ainda nesta quinta, o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, já havia informado a jornalistas, na sede do governo norte-americano, que o presidente Obama ainda não tinha chegado a uma conclusão sobre uma possível ação na Síria, mas que assim que houver uma decisão, o governo saberá justificar a medida.
"Quanto o presidente decidir a resposta apropriada... e (se) uma justificativa legal for necessária para apoiar essa decisão, nós mesmos vamos apresentá-la", disse Earnest.
O porta-voz falou ainda que o presidente ficou "desapontado" com a postura do governo russo contra a intervenção, mas afirmou que a oposição de Moscou não influenciará nas decisões de Washington.
Dois anos e 100 mil mortos
A guerra na Síria já dura mais de dois anos e deixou milhares de mortos --mais de 100 mil, segundo a ONU. Começou na esteira da Primavera Árabe, onda de levantes populares que pediu mudanças no governo em países como Tunísia, Líbia e Egito.
Como em outros países, a reação do governo sírio foi reprimir com violência os protestos por democracia. Desde o início, a postura do regime do presidente vitalício Bashar al-Assad foi a de desqualificar os opositores como meros terroristas e culpá-los pelas mortes ocorridas nos confrontos.
No dia 21 de agosto, a guerra síria ganhou outra dimensão quando gás tóxico foi usado para bombardear uma área de Damasco, causando a morte de pelo menos 355 pessoas, segundo a ONG Médicos Sem Fronteiras. A ONG estima ter realizado mais de 3.600 atendimentos de pessoas que inalaram o gás. A oposição fala em mais de mil mortos no ataque e acusa o regime Assad pela matança; o governo sírio culpa os rebeldes pelo massacre e afirma que achou um depósito com produtos químicos usado pela oposição.
(Com agências)
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