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Eleições municipais viram termômetro para medir apoio a Maduro na Venezuela

Do UOL, em São Paulo

07/12/2013 06h01

No domingo (8), os eleitores venezuelanos vão às urnas pela segunda vez no ano. Desta vez, eles irão escolher prefeitos e conselheiros das cidades do país. Na prática, a eleição será um termômetro para medir se a população apoia o presidente Nicolás Maduro e suas medidas para resolver os problemas econômicos da Venezuela.

Sucessor de Chávez,  Maduro quase perdeu a eleição presidencial em abril para o candidato oposicionista Henrique Capriles, que está de olho no pleito de domingo para fortalecer ainda mais o grupo anti-chavista.

As eleições presidenciais dividiram de vez a Venezuela entre aqueles que apoiam Maduro e aqueles que acreditam que o país deve tomar outro rumo.

Maduro, um ex-sindicalista de 51 anos, retomou o discurso do seu antecessor e o intervencionismo do Estado na economia, mas não conseguiu ter a extraordinária conexão com os mais pobres venezuelanos do carismático Chavez.

Desde que assumiu o cargo, Maduro teve de lidar com a inflação que já toca os 55% ao ano, a escassez de produtos básicos como farinha ou papel higiênico, o fraco crescimento econômico e as falhas nos serviços públicos.

Para atacar o aumento dos preços e a suposta especulação, que segundo o governo é culpa dos empresários, o presidente ordenou nas últimas semanas a redução de preços em milhares de lojas e impôs  limites aos custos dos aluguéis comerciais.

Maduro acusa seus rivais de tentar desestabilizá-lo com uma "guerra econômica", mas a oposição diz que a situação é resultado de muitos anos de má gestão e que as recentes medidas adotadas pelo governo são insuficientes e populistas.

Além disso, nos últimos dias de campanha, o governo de Maduro teve de lidar com um apagão que deixou boa parte do país sem energia elétrica. Mais uma vez, o presidente afirmou que a Venezuela foi vítima de uma "sabotagem".

Segundo Maduro, por causa do apagão, alguns "setores da direita" queriam levá-lo "a decretar estado de emergência e suspender as eleições" municipais de domingo.

O presidente está apostando fortemente na eleição, incentivando as nomeações de homens de destaque do partido governista, como o ex-ministro das comunicações Ernesto Villegas para prefeito metropolitano de Caracas ou o ex-vice-presidente Jorge Rodríguez o governo do município de Libertador, que controla outra parte da capital.

Embora as pesquisas prevêem uma disputa apertada, algumas das medidas tomadas por Maduro poderiam dar vantagem para o partido do governo, de acordo com especialistas.

"Em termos de votos totais, as pesquisas até outubro mostraram uma situação fechada", disse o analista Luis Vicente León, do instituto de pesquisa Datanalisis, à Reuters. "No entanto, os recentes acontecimentos poderiam jogar a favor de Maduro em termos de popularidade", acrescentou.

Maduradas

A oposição acusa os chavistas de usarem dinheiro público e os canais de TV estatais para fazer campanha por seus candidatos. Além disso, Maduro faz de tudo para se apoiar em Chávez e na popularidade do líder morto neste ano.

Em relação à eleição, talvez a medida mais polêmica tenha sido o decreto que faz do domingo, data do pleito, "Dia da Lealdade à Chávez e do Amor à Pátria", conforme publicado no Diário Oficial do país.

Maduro defendeu o decreto sob o argumento de que o 8 de dezembro marca o primeiro aniversário da última aparição pública de Chávez, antes de viajar a Cuba, onde foi se tratar do câncer que o matou.

O presidente já havia antecipado o Natal de 25 de dezembro para 1º de novembro com o objetivo de trazer  "felicidade para todo o povo" e derrotar a amargura.

Economia vira tema central

As “maduradas” também ajudam a desviar o foco do principal tema das eleições municipais: a economia. Maduro evita o assunto e diz confiar em um triunfo.

"Preparem-se para os resultados de domingo; já está escrita a vitória da pátria no próximo domingo. O que falta é tocar no botão para imprimir os registros, porque está escrito no coração e na mente da maioria dos venezuelanos que nós queremos a paz, "disse o mandatário.

Capriles, enquanto isso, convocou seus seguidores a participar maciçamente nas eleições para transformar a disputa em um voto contra Maduro.

"Mesmo eles sabem que este país mudou e que eles sabem muito bem o que vai acontecer nas eleições de 8 de dezembro, se o povo sair para votar," previu Capriles.

Mas o tradicionalmente elevado índice de abstenção nas eleições deste tipo pode enfraquecer a proposta da oposição. No último pleito municipal, em 2008, a abstenção chegou a 34,1%, e os pesquisadores calculam que no domingo o índice seria de cerca de 40%.

 

Triunfo para ambos

Como haverá muitas maneiras de interpretar os resultados - percentual de municípios, cidades mais importantes e números de votos totais - é esperado que os dois lados cantem vitória.

Se o número total de prefeituras for considerado, o chavismo deve sair vencedor, de acordo com analistas. Mas a oposição poderia conquistar municípios adicionais aos 57 que controla hoje e ainda deve ganhar em várias grandes cidades.

No entanto, os trinta partidos da oposição agrupados na Mesa de Unidade Democrática (MUD) não podem declarar vitória se não levarem os dois troféus principais: Caracas e Maracaibo, as duas cidades mais populosas do país rico em petróleo.

Como Caracas conta com dois representantes (o prefeito maior e o prefeito do distrito de Libertador) e as pesquisas prevêem uma vitória para cada lado, o partido que vai vencer em Maracaibo terá mais argumentos para ser declarado vencedor. (Com Reuters)