Supremo diz que recontagem manual de votos na Venezuela é "impossível"
A recontagem manual de votos "é algo impossível" na Venezuela, cujas leis obrigam que o escrutínio e todo o processo eleitoral seja automatizado, advertiu nesta quarta-feira (17) a presidente do TSJ (Tribunal Supremo de Justiça), Luisa Morales.
Morales afirmou que "se enganam aquelas pessoas que acreditam que essa contagem possa ser feita", o que "incentiva que se comece uma luta de rua sem fim".
"Eles insistem em uma contagem manual, e os sistemas não são auditados através de cédulas", com exceção dos 50% dos votos, acrescentou.
A declaração foi feita no mesmo dia em que opositores disseram ter provas de irregularidades durante a eleição que justificam a necessidade da recontagem dos votos.
Nesta quarta, o candidato oposicionista Henrique Capriles, derrotado na eleição presidencial por Nicolas Maduro, apresentou um pedido formal ao CNE (Conselho Nacional Eleitoral) de impugnação do resultado da eleição de domingo (14).
Oposição quer recontagem
Capriles exige a recontagem de 100% dos votos emitidos, o que implicaria a abertura de todas as urnas eletrônicas que contêm os comprovantes físicos dos votos transmitidos ao CNE. Capriles disse que fará o pedido com base em uma série de irregularidades que, segundo ele, ocorreram durante o dia da votação e que calcula ter incluído “mais de 1 milhão de votos”.
Os resultados do CNE deram a Maduro a vitória com 50,8% dos votos, frente aos 49% para Capriles. Esse cálculo seria muito além da diferença de votos entre os candidatos que, segundo o CNE, contabilizou uma diferença de 272 mil votos entre o vencedor e o oposicionista. Maduro venceu com 7.575.506 votos (50,78 %), 1,83% acima de Capriles que recebeu 7.302.641 (48,95 %).
O prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, que faz oposição ao governo, disse nesta quarta-feira que tem mais de 5.000 incidências que justificam a recontagem de votos.
“Neste momento somos um povo que está lutando por seu destino, com uma liderança de oposição e convencidos de que ganhamos no domingo passado, porque somos a maioria”, disse durante entrevista a emissora de rádio colombiana Caracol.
Os Estados Unidos também deram força aos apelos por recontagem nesta quarta, depois que o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, declarou que ainda não decidiram se reconhecem Maduro como presidente da Venezuela, à espera de um esclarecimento da controvérsia sobre a recontagem dos votos.
"Outros países e a OEA (Organização dos Estados Americanos) também pediram uma nova apuração, portanto veremos o que ocorre", disse Kerry.
Maduro rebateu a afirmação de Kerry, dizendo que não se importa com o reconhecimento norte-americano.
Mortes chegam a 8
Ainda nesta quarta-feira, Maduro confirmou a morte da oitava vítima ocorrida em meio aos protestos contra o resultado das eleições. A mulher foi identificada como Rosiris del Valle Reyes, de 44 anos. Ela foi atingida por uma bala na região da coluna dentro de uma clínica onde médicos cubanos atuam em Caracas.
"Nos informaram sobre o falecimento de uma compatriota que estava ferida no hospital de Llanito (no município de Baruta, a leste de Caracas)", disse Maduro durante encontro com governadores chavistas no Palácio Miraflores, sede do governo em Caracas, transmitida pelo canal oficial VTV.
Até ontem o governo venezuelano confirmava a morte de sete pessoas nos confrontos e pelo menos 61 feridos.
Maduro responsabilizou Capriles pelas mortes, pelo fato de o oposicionista ter convocado um panelaço no dia seguinte das eleições que reivindicaria a recontagem dos votos.
Capriles rechaçou as acusações e ontem pediu para os manifestantes protestarem "em paz".
Chavistas pedem destituição de Capriles
Cerca de 200 simpatizantes do governo, por sua vez, se manifestaram do lado de fora da sede do governo do Estado Miranda para pedir a destituição de Capriles do cargo de governador nesta quarta.
Os simpatizantes chavistas exibiam cartaz em apoio ao presidente eleito Nicolás Maduro, em manifestação convocada pelo governo, dentro da crise política desatada pelo não reconhecimento por parte de Capriles dos resultados das eleições e sua convocação a mobilizações de ruas que, segundo o governo, deixaram 7 mortos na segunda-feira.
Como o governo, os manifestantes responsabilizaram também Capriles pelos atos de violência registrados nos protestos convocados por Capriles contra a vitória de Maduro.
O clima entre oposição e governo está tenso desde domingo. Apesar de exigir uma ação legal contra Capriles e chamá-lo de fascista, Maduro, no entanto, disse que ele seria protegido.
"Eu sou um homem de paz e de palavra. Eu pedi à (agência estatal de inteligência) Sebin para manter a proteção do ex-candidato da direita, embora ele tenha se livrado de quem o estava protegendo", declarou Maduro via Twitter. (Com agências internacionais)
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