A vida após Schengen: como seria uma Europa com fronteiras
Os europeus da região continental estão há tanto tempo -- duas décadas -- sem controles internos de fronteira que a geração mais jovem não sabe como é a vida com eles. Para ter uma ideia do passado e da mentalidade de fortaleza que se estabeleceu após os ataques terroristas em Paris, não é preciso ir muito além da fronteira da França com Luxemburgo.
Cinco dias após a onda de mortes em Paris, a rodovia para Luxemburgo parecia um estacionamento de caminhões, com uma espera de duas horas, enquanto a polícia parava e, ocasionalmente, efetuava buscas.
"Que chatice", disse Alban Zammit, 43, um caminhoneiro francês com a cabeça raspada que realiza viagens de ida e volta pela fronteira com cargas que vão desde baterias até sacas de açúcar. "Isto é só para dar às pessoas a impressão de aumento na segurança?".
Para compreender o custo econômico na sociedade do "tempo é dinheiro", imagine pessoas indo ao trabalho e caminhoneiros formando filas para verificações de passaporte a cada manhã para tomarem a ponte George Washington ou o Túnel Lincoln de Nova Jersey a Manhattan. O horário do rush já é lento o suficiente da forma atual.
Coração da Europa
Luxemburgo é central na história das fronteiras livres. O Grão-Ducado está no coração da Europa e todos os dias sua população de 550.000 incha em 157.000 com pessoas que tomam trem ou ônibus, dirigem ou pegam carona em cidades-dormitório na França, na Alemanha ou na Bélgica para irem ao trabalho.
Schengen, uma cidade de Luxemburgo do outro lado do rio Mosela, onde a Alemanha se encontra com a França, foi o local da assinatura do tratado de fronteiras abertas, em 1985. Os controles de fronteira foram totalmente abolidos em 1995, inicialmente entre sete países. Agora, a viagem com passaporte livre é a norma entre 26 países europeus, sendo as nações insulares da Grã-Bretanha e da Irlanda as exceções notáveis.
Cerca de 400 milhões de pessoas vivem na zona que torna as viagens dentro da Europa semelhantes àquelas entre estados americanos, nas quais apenas placas como "Bienvenue en France" denotam a mudança de país. A Comissão Europeia acredita que sejam realizadas 1,25 bilhão de jornadas transfronteiriças ao ano, mas como o sistema não tem supervisão, por natureza, o número real é desconhecido.
Antes dos ataques em Paris, cinco países haviam restabelecido temporariamente os controles de passaportes para lidarem com a onda sem precedentes de refugiados do Oriente Médio. A França seguiu o exemplo quando iniciou uma caçada aos culpados de Paris por toda a Europa.
O governo holandês estudou propor uma "mini" zona formada por um punhado de países, mas duvida que isso seja viável, reportou o serviço de notícias ANP, citando informações de autoridades não identificadas.
Patrulha de fronteira
Por enquanto, o plano é fazer um melhor uso do banco de dados de terroristas conhecidos e suspeitos, criminosos e pessoas desaparecidas. A coleta de dados de passageiros de avião que entram e saem da UE está em andamento e a proposta de criar uma patrulha de fronteira com a bandeira da UE deverá ser formalizada em dezembro.
Em uma reunião em Bruxelas, nesta sexta-feira, os ministros da justiça da UE estudarão leis que exijam verificações de passaporte completas de todos os viajantes que entram e saem da zona de Schengen. Atualmente, apenas cidadãos não-UE passam por esse controle, embora a Grã-Bretanha, empoleirada fora de Schengen, muitas vezes realize uma checagem plena nos bancos de dados sobre os cidadãos da UE.
Schengen viu crescerem numerosas áreas metropolitanas que se sobrepõem às fronteiras nacionais. No estreito de Öresund, uma ponte financiada pela UE transformou Malmö, na Suécia, em um subúrbio de Copenhague, na Dinamarca. Os semáforos e o congestionamento nos horários de pico nas estradas de acesso são as únicas barreiras para os quase 20.000 carros e caminhões que atravessam o trecho de água todos os dias; as verificações de passaporte não seriam boas para os negócios.
No centro da Europa, os líderes de Luxemburgo exortaram as pessoas que cruzam a fronteira para ir ao trabalho a tomarem o trem. Para isso, aumentaram em 2.500 assentos a capacidade da viagem de volta para casa do norte da França na quinta e na sexta-feira. Para os caminhoneiros parados na estrada, a única opção é tentar manter o bom humor.
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