Trump pode agir contra "hipocrisia do mundo" sobre Jerusalém, diz cônsul em SP
O israelense Dori Goren, 61, cônsul-geral do país em São Paulo, evitou fazer previsões sobre Donald Trump, que assume nesta sexta-feira (20) a Presidência dos Estados Unidos. Mas já há um aspecto positivo, segundo ele: a proposta de Trump de levar a embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém ajuda a combater a "hipocrisia inexplicável" dos países que não reconhecem a cidade oficialmente como a capital de Israel.
Em contato com o UOL, o novo cônsul-geral, que assumiu o cargo em julho de 2016, falou sobre a nomeação de Yossi Sheli para a Embaixada israelense em Brasília e, em uma análise global, considerou que a presidência de Trump pode ajudar Israel a consolidar sua capital em Jerusalém, não reconhecida pela ONU por causa da disputa territorial entre israelenses e palestinos.
A proposta de Trump empolgou o premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, mas a comunidade internacional reagiu. A França disse que o ato seria uma "provocação", e o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, chegou a escrever uma carta para o novo líder da Casa Branca tentando demovê-lo da ideia, dizendo que a mudança "teria consequências desastrosas para o processo de paz com Israel, para a viabilidade da solução de dois Estados e para a segurança e a estabilidade de toda a região".
"Acho que seria irresponsável fazer prognóstico sobre o governo de um presidente que ainda não começou seu mandato. Mas estudando as declarações antes da eleição, ele [Trump] foi amigável em relação a Israel e disse que levará a embaixada para Jerusalém. Tem de ser assim, porque Jerusalém é a capital de Israel, sede do governo e dos Poderes Legislativo e Judiciário. É uma hipocrisia inexplicável o mundo não reconhecer Jerusalém, até porque, na prática, acabam reconhecendo. As visitas oficiais [de chefes de Estado] são lá, os embaixadores se reúnem lá", afirmou o cônsul.
Novo embaixador no Brasil
Goren assumiu o Consulado-Geral em São Paulo no ano passado em meio a uma crise diplomática entre os dois países, depois de o Itamaraty, ainda durante o governo Dilma Rousseff, não conceder o aval para Dani Dayan, indicação pessoal de Netanyahu para a embaixada em Brasília.
Dayan foi representante dos assentamentos judaicos na Cisjordânia, reprovados pela ONU e que contrariam também a posição histórica do governo brasileiro, favorável à solução de um Estado israelense e outro palestino.
A questão só foi encerrada quando o Ministério das Relações Exteriores aceitou a indicação do empresário Yossi Sheli, também uma escolha pessoal do primeiro-ministro israelense, confirmado embaixador nesta terça-feira (17).
"Estamos contentes que finalmente voltaremos a ter um embaixador israelense e isso será positivo para as relações entre os países. Não é normal ficar sem um embaixador tanto tempo. Agora é um capítulo novo, para acabar a crise que começou depois que o Brasil não autorizou o outro candidato. Esse agora é um tema passado", disse o cônsul.
Segundo ele, o fato de Sheli não possuir uma carreira diplomática e ser uma escolha pessoal de Netanyahu "reflete a importância que o primeiro-ministro dá ao Brasil".
"Esse novo embaixador tem muita capacidade e muitos contatos. É um empresário e gerente, que teve cargos importantes no passado. Apenas 11 embaixadores de Israel no mundo não têm carreira diplomática. Sabemos que são pessoas de confiança do premiê", afirmou.
Goren também falou sobre o fato de o novo embaixador ter sido afastado do serviço público entre 2012 e 2015 por uma acusação de fraude e falso testemunho em 2008, quando atuava como diretor geral dos Correios do país e da prefeitura de Beer Sheva.
"Foi um caso menor, uma infração técnica de preenchimento de formulário. Recebeu uma pena mínima, e isso mostra o rigor do sistema israelense para cargos públicos. Temos que olhar adiante. O novo embaixador, com sua experiência, vai contribuir muito para fortalecer as relações entre Israel e Brasil."
O cônsul em São Paulo ainda disse que há planos para trabalhar em conjunto com a prefeitura da capital paulista, em projetos que vão de tratamento de água e lixo até um aplicativo para celular, desenvolvido por uma empresa israelense, que ajude o usuário a encontrar vagas nos estacionamentos paulistanos. "Temos muitas ideias e projetos de cooperação", afirmou.
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