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Brasil condena violência de Maduro e acusa Venezuela de incentivar ação armada contra atos

Protestos na Venezuela - Ariana Cubillos/AP
Protestos na Venezuela Imagem: Ariana Cubillos/AP

Do UOL, em São Paulo

20/04/2017 20h31

Em nota divulgada nesta quinta-feira (20), o Itamaraty condenou a "violenta repressão pelas autoridades venezuelanas das manifestações realizadas ontem em defesa da restauração das liberdades democráticas" e pediu a libertação dos presos políticos do país

"A responsabilidade primária pela violência cabe ao governo venezuelano, por tratar a liberdade de expressão e de opinião como ameaça e por incentivar a ação armada contra manifestações", acrescenta o texto do Ministério de Relações Exteriores.

A diplomacia brasileira ainda pede que o governo de Maduro atue com moderação, criando condições para a pacificação e o diálogo. O Itamaraty pede ainda que o governo respeite o calendário eleitoral, fixando imediatamente a data das eleições regionais, "bem como a restaurar os direitos e liberdades fundamentais, reconhecer e assegurar a independência dos poderes e libertar todos os presos políticos".

Protestos pelo país

Milhares de opositores venezuelanos exigiram nesta quinta-feira, em Caracas, a saída do poder do presidente Nicolás Maduro, durante uma marcha dispersada pela tropa de choque com bombas de gás lacrimogêneo na terceira semana de protestos violentos que deixam oito mortos.

Agentes antidistúrbios e manifestantes se enfrentaram em uma intensa troca de bombas de gás lacrimogêneo, pedras e coquetéis molotov em Chacaíto, El Rosal e outros setores em vias de acesso à autoestrada estratégica Francisco Fajardo, que terminou com vários feridos e afetados pelo gás.

Após conseguir dispersar o protesto, a polícia e a militarizada guarda nacional usaram veículos blindados que disparavam gás lacrimogêneo e jatos d'água, chamados popularmente de rinoceronte e baleia, na direção de um grupo de jovens que os enfrentavam com os rostos cobertos com lenços e gorros.

"Não me importa engolir gás, não me importa morrer, mas temos que sair desta merda de governo assassino e repressor", disse à AFP Natasha Borges, de 17 anos, em meio ao caos.

Um helicóptero da polícia sobrevoava a área. Barricadas de lixo eram queimadas em diferentes pontos e algumas pessoas destruíram um outdoor para usar os restos de trincheira.

Gritavam palavras como "liberdade", mas também insultos, como "malditos" e "covardes" aos policiais, protegidos com coletes, capacetes e escudos antidistúrbios.

Em um episódio singular, um manifestante nu, usando apenas meias e tênis, caminhou em meio a uma nuvem de gás, subiu em um tanque militar, enquanto gritava: "Não atirem mais bombas".

Os principais distúrbios foram registrados em Caracas, embora também tenham sido reportados nas cidades de Maracaibo (noroeste), Valencia (centro) e San Cristóbal (oeste), um dia depois da mobilização multitudinária de quinta-feira, que deixou dois jovens e um militar mortos.

No fim da tarde, no leste de Caracas soavam panelaços, como encerramento deste dia de protestos.

Eleições na mira

A onda de protestos começou em 1º de abril, após as sentenças do máximo tribunal eleitoral, que retiraram a imunidade do Parlamento, único poder público controlado pela oposição.

Maduro, a quem a oposição acusa de afundar o país em uma das piores crises econômica e política de sua história, assegura que os protestos buscam derrubá-lo com o apoio dos Estados Unidos e realizar uma intervenção militar na Venezuela.

Seu aliado, o presidente boliviano Evo Morales, acusou Washington de planejar a derrubada de Maduro, cujo mandato termina em 2019.

Maduro diz querer logo a chegada das eleições para derrotar a oposição. As de governadores deveriam ter sido realizadas em 2016, mas foram suspensas e ainda não têm data. As de prefeito estão marcadas para este ano e as presidenciais para dezembro de 2018.

Segundo as pesquisas, sete em cada dez venezuelanos reprovam o governo, sufocados pela crise econômica, com uma severa escassez de alimentos e remédios, e uma inflação - a mais alta do mundo - que o FMI estima em 720,5% para este ano.

"A estratégia do governo parece ser se manter no poder a qualquer custo e evitar que haja eleições, porque a crise o tornou bastante impopular", opinou Moya-Ocampos.

A oposição afirma que a Maduro resta o apoio da cúpula da Força Armada, a quem deu enorme poder econômico e militar e que recebeu em troca "lealdade incondicional". (Com AFP)