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Família de Abedi, terrorista de Manchester, tem raízes no movimento radical líbio

Imagem de Salman Abedi divulgada por fonte anônima - AP
Imagem de Salman Abedi divulgada por fonte anônima Imagem: AP

Do UOL, em São Paulo

24/05/2017 17h56

Salman Abedi, 22, apontado como sendo o terrorista que promoveu o ataque em Manchester, e seus irmãos viviam em Manchester desde que seus pais, Ramadan Abedi e Samia Tabbal, voltaram a viver na Líbia, em 2011, ano da queda do ditador Muamar Gaddafi. A família, segundo fontes, teria laços com o movimento radical salafista jihadista, que originou tanto a Al Qaeda quanto o Estado Islâmico. 

O pai de Salman, Ramadan Abedi, trabalhava como oficial de segurança durante o regime de Muamar Gaddafi. Em 1993, a família fugiu da Líbia para a Arábia Saudita depois que Ramadan foi acusado de ajudar islamitas com dicas antes das batidas policiais.

Um ex-oficial de segurança da Líbia, Abdel-Basit Haroun, afirma conhecer Ramadan e diz que ele seria ligado a um dos grrupos líbios que combatiam o regime de Gaddafi na década de 1990, com relação com a Al Qaeda. Segundo Haroun, após o desmonte do grupo líbio, Ramadan se associou ao movimento salafista jihadista "Grupo Islâmico Combatente Líbio". Ramadan nega ter laços com quaisquer grupos radicais líbios.

Radaman - Facebook/Reprodução - Facebook/Reprodução
24.mai.2017 - Ramadan Abedi, pai de Salman Abedi, suposto autor do atentado em Manchester
Imagem: Facebook/Reprodução

Além disso, a família Abedi seria próxima dos parentes de Abu Anas al-Libi, veterano da Al Qaeda preso por forças de segurança dos EUA em 2013 e morto em 2015 sob custódia americana.

A mulher de Al-Libi, que já esteve na lista do FBI de terroristas mais procurados e seria ligado a atentados contra duas embaixadas americanas na África em 1998, teria confirmado que frequentou a universidade com a mulher de Ramadan, Samia. As duas também viveram juntas no Reino Unido por anos antes de as famílias retornarem para a Líbia.

A fuga da Líbia

Depois de viver menos de um ano na Arábia Saudita, Ramadan migrou para o Reino Unido com a mulher, onde conseguiram asilo político e viveram até 2011. A família viveu um tempo em Londres, mas logo se mudou para Manchester, onde o pai chegou a ser imã de uma das mesquitas da cidade.

Salman Abedi, suspeito de ser autor do atentado durante a saída de um show da cantora Ariana Grande, nasceu em Manchester. A cidade hoje é lar da maior comunidade de líbios no Reino Unido.

Durante a Primavera Árabe, antes da queda de Gaddafi, Ramadan e a mulher voltaram a viver na Líbia. Hoje, Ramadan é gerente administrativo da força central da segurança e vive na capital, Tripoli.

Ele foi preso com um dos filhos, Hashim, de 20 anos, irmão mais novo de Salman. Segundo as forças de segurança, Hashim admitiu que Salman e ele eram integrantes do Estado Islâmico.

Hashim - Ahmed Bin Salman, Special Deterrent Force via AP - Ahmed Bin Salman, Special Deterrent Force via AP
24.mai.2017 - Hashim Abedi aparece ao lado do logo da força antiterrorismo da Líbia após sua prisão em Trípoli
Imagem: Ahmed Bin Salman, Special Deterrent Force via AP

O irmão mais velho de Salman, Ismail (23), também foi preso, mas no Reino Unido. Eles têm ainda uma irmã que viveria em Manchester, Jomana. Mas a imprensa não tem informações sobre ela.

Em entrevista antes de ser preso, o pai afirmou que Salman não tinha ligação com o atentado e estava se preparando para a peregrinação em Meca, na Arábia Saudita, para onde ele partiria em poucos dias.

Ele confirmou que o filho visitou a Líbia há cerca de um mês e meio e só voltou para Manchester depois de ganhar uma passagem econômica para iniciar a peregrinação. Ele ainda negou os relatos de que seu filho teria visitado a Síria.

A Líbia está mergulhada no caos desde a queda do regime de Muamar Gaddafi, em 2011, apoiada por uma coalizão internacional. O governo de Unidade Nacional de Trípoli é apoiado pela ONU, os países ocidentais e alguns da África, mas não é aceito pelas autoridades do leste do país.

Além disso, grupos armados radicais lutam pelo controle enquanto traficantes de pessoas se aproveitam do vácuo de poder para lançar milhões de refugiados nas águas do Mediterrâneo. Além da Al Qaeda, o Estado Islâmico ganhou terreno no país, usando campos de treinamento que supostamente preparariam planos contra alvos europeus.

Família era conhecida na comunidade

Um amigo da família, entrevistado pelo jornal britânico "The Times", afirmou que os Abedi eram conhecidos entre a comunidade líbia da cidade e que Salman era visto como um homem "normal". Outro amigo, citado pelo jornal "Telegraph", lembra que os Abedi eram "muito religiosos".

De acordo com um vizinho do jovem ouvido pelo "New York Times", Salman Abedi ficou nervoso em 2015 com um discurso de um imã da mesquita que frequentava, no qual o religioso condenou o terrorismo e assassinatos em nome de uma causa política. O sermão teria irritado outros membros da mesquita.

Nessa mesma época, Salman Abedi abandonou a Universidade de Salford, onde estudava administração de negócios, segundo os vizinhos. Ele ficou enfurecido após a morte do amigo Abdul Wahab Hafidah, também descendente de líbios, em um crime ligado a gangues, de acordo com os relatos.

Pessoas próximas a Salman disseram que ele era um jovem comum, mas voltou completamente diferente desde que esteve na Líbia em 2011, ano em que seus pais voltaram a viver no país. 

A família viveu próxima de um grupo de opositores de Gaddafi que tinham sido membros do salafista "Grupo Islâmico Combatente Líbio".

Entre os moradores estava Abd al-Baset Azzouz, pai de quatro filhos, que deixou o Reino Unido para liderar uma rede terrorista na Líbia comandado por Ayman al-Zawahiri, sucessor de Osama bin Laden na Al Qaeda. Azzouz, 48, um proeminente fabricante de bombas, foi acusado de comandar a rede no leste da Líbia.