De olho na reconstrução da Síria, Brasil quer reabrir embaixada em Damasco
O Brasil planeja reativar sua embaixada e restaurar relações diplomáticas plenas com a Síria na esperança de participar da reconstrução do país devastado pela guerra.
"Nosso desejo é reativar completamente a embaixada e enviar um embaixador residente a Damasco", disse o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Aloysio Nunes Ferreira, em entrevista em Brasília, acrescentando que o presidente Michel Temer o instruiu a avaliar a viabilidade do projeto. Avaliações preliminares feitas pela Abin e pelo Ministério da Defesa são positivas, disse o ministro. Ele afirmou que o governo tomará uma decisão nos próximos dias.
O Brasil retirou todos os seus diplomatas de Damasco em 2012, mas mantém em funcionamento um edifício da embaixada no qual funcionários locais tratam de assuntos consulares. Um encarregado de negócios com base em Beirute viaja ocasionalmente a Damasco para contato com autoridades sírias. O Brasil chegou a endossar o coro das condenações internacionais contra o presidente Bashar Assad, mas sempre evitou manifestar qualquer apoio aos grupos insurgentes respaldados por países ocidentais e árabes durante o conflito.
Ao avaliar por que o Brasil deve expandir sua presença diplomática na Síria, Aloysio Nunes Ferreira disse que o país árabe é um "ponto quente da política mundial" e abriga uma comunidade brasileira estimada em 1.500 pessoas. O ministro também afirmou que aumentar o nível de representação seria bom para os negócios. Quando a guerra terminar, as empresas brasileiras poderão participar da reconstrução, acrescentou.
O Brasil, maior economia da América Latina, abriga uma grande comunidade de origem síria e libanesa. Um de seus representantes mais famosos é o presidente Michel Temer.
Ao longo da última década, o Brasil procurou ampliar o comércio com o Oriente Médio, mas esforços para fechar acordos com o Irã vem esbarrando nas sanções impostas a Teerã pelo Tesouro dos EUA.
O Brasil é um país amigo e suas empresas são bem-vindas, disse o encarregado de negócios da Síria em Brasília, Mohamad Khafif, em entrevista. "Nossas forças retomaram a maior parte do território, incluindo nossa capital industrial, Aleppo, que está tão movimentada agora que parece um formigueiro", disse ele. "Há enormes oportunidades para empresas estrangeiras privadas e públicas e também para joint ventures."
Com o apoio do governo Temer, empresas brasileiras participaram de duas feiras de negócios recentes em Damasco. Entre essas empresas esta a Prime, um grupo de cosméticos que instalou um estande na Damascus International Fair, em agosto.
"Hesitei antes de ir, mas o que vi foram grandes possibilidades", disse Alessandro Chimentão, diretor internacional da Prime. Ele afirmou que empresas sírias já pediram que ele enviasse documentos para um contrato e que considerasse a possibilidade de abrir uma fábrica de produtos para cabelo. "É preciso paciência para fazer negócios em países que estão se recuperando de conflitos", disse Chimentão, que também exporta para o Iraque e a Argélia. "Mas quando as coisas dão certo, você tem retorno espetacular. E o pessoal local te trata como se fossemos uma divindade."
Outra empresa brasileira, o grupo farmacêutico EMS, foi citada pela imprensa estatal síria porque estaria negociando a construção de uma fábrica com parceiros locais. Em comunicado à Bloomberg, a EMS preferiu não detalhar os planos, mas reconheceu que tinha participado da feira Re-Build Syria, em setembro, como parte da estratégia de expansão internacional da empresa.
Já a Cecil, metalúrgica especializada em cobre e latão que estaria em conversas com autoridades sírias em Damasco, não respondeu a vários pedidos de comentário. Vários empresários brasileiros foram recebidos por funcionários sírios, incluindo ministros.
Mas há pedras no caminho das empresas brasileiras interessadas no mercado sírio. A começar pelas sanções norte-americanas a bancos ocidentais que fazem negócios com a Síria. Este foi um dos temas abordados em recente encontro entre o encarregado de negócios sírio e o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn. "Conversamos sobre maneiras de envolver instituições financeiras brasileiras na reconstrução da Síria", disse Khafif, sem dar detalhes. Chimentão, da empresa de cosméticos Prime, prevê fazer transações por intermédio do Líbano caso feche negócios na Síria.
Além disso, a violência continua, e o governo sírio ainda não recuperou o controle de áreas importantes, como a cidade de Deir Ezzor e a província de Idlib.
O Brasil também compete com países que cultivam relações políticas e econômicas muito mais intensas com a Síria, como Irã, Rússia e China. "É claro que alguns países saem na frente, mas há espaço para as empresas brasileiras também", disse Michel Alaby, diretor-geral da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, que esteve na Síria duas vezes neste ano. Nomear um embaixador residente em Damasco é um passo fundamental em favor das empresas brasileiras, segundo Alaby.
--Com a colaboração de Donna Abu-Nasr e Luisa Marini
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