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Em defesa no Congresso, presidente do Peru diz que democracia está em risco

21.dez.2017 - O presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, acompanha sessão do Congresso que pode votar pela sua destituição, em Lima - Mariana Bazo/ Reuters
21.dez.2017 - O presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, acompanha sessão do Congresso que pode votar pela sua destituição, em Lima Imagem: Mariana Bazo/ Reuters

Do UOL, em São Paulo

21/12/2017 14h03

O presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, voltou a negar acusações de irregularidades antes da votação da moção de impeachment no Congresso do país, nesta quinta-feira (21). Diante dos parlamentares, ele fez sua defesa e afirmou que o futuro da jovem democracia do país pode sofrer caso ele seja destituído.

Kuczynski, 79, tem contra si um Parlamento dominado pelo partido Força Popular, da ex-candidata presidencial Keiko Fujimori, que o acusa de ser "moralmente inábil" para governar, após a descoberta de que ele tinha conexões empresariais com a empresa brasileira Odebrecht. 

O partido de Keiko tem 71 dos 130 assentos parlamentares, sendo que 87 votos são necessários para derrubar Kuczynski. Na semana passada, 93 parlamentares votaram a favor da abertura do processo que pode destituir o presidente.

"Não está em jogo a minha permanência no cargo. Está em jogo a democracia, que tanto custou ao Peru recuperar, a estabilidade de um país próspero. Não apoiem uma destituição sem sustentação porque o povo não esquece, e nem perdoa", disse PPK ao encerrar sua defesa no Congresso.

"Não se somem a essa estratégia. Não se deixem confundir. Aqueles que me acusam não aceitam que suas denúncias sejam submetidas a um debate, ao devido processo, que são os pilares da democracia."

Em seu discurso no Congresso unicameral, Kuczynski afirmou que sua empresa de consultoria Westfield Capital, que trabalhou em certas ocasiões com a Odebrecht, nunca firmou contrato com o Estado e que nunca incorreu em nenhum conflito de interesses.

"Jamais favoreci nenhuma empresa ou pessoa durante minha gestão como ministro de Energia e Minas, ministro da Economia ou primeiro-ministro. Tampouco o fiz desde que sou presidente", disse.

"Confesso que não fui prolixo, mas não sou corrupto. Peço muitas desculpas, com clareza na mente e dor no coração", disse Kuczynski a respeito do manejo dos documentos relacionados às consultorias nas quais colaborou ocasionalmente. 

No domingo passado, ele já havia dito que não mentiu nem tentou ocultar as consultorias que a Westfield Capital fez para a Odebrecht e pelas quais a construtora pagou mais de US$ 782.000 entre 2004 e 2007, quando era ministro no governo do ex-presidente Alejandro Toledo.

Durante a apresentação do mandatário ao Congresso surgiu a informação de que o ex-presidente preso Alberto Fujimori, pai de Keiko, solicitou sua libertação a uma comissão presidencial comandada por Kuczynski.

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Pouco antes de apresentar sua defesa, PPK disse à emissora Blu Radio que contestou todas as críticas no curso de várias reuniões e apresentações sobre o contrato assinado pela sua empresa Westfield Capital com a Odebrecht.

"Acredito que estas críticas são completamente injustificadas no sentido de que uma vacância presidencial (destituição) não se faz com base em informação de 12 ou 15 anos atrás", argumentou. "O que se está buscando é um pretexto para me destituir e concretizar um golpe de Estado."

Ele, no entanto, previu que continuará no cargo. "O Congresso não vai me destituir. Não têm os 87."

'El Gringo' no Peru, prestigiado internacionalmente

Ex-banqueiro de Wall Street e empresário, o economista, de 79, é chamado de "el gringo" por seu sotaque estrangeiro, herança de uma educação nos Estados Unidos e Grã-Bretanha. Ele se formou em Política, Filosofia e Economia em Oxford e em Administração Pública na Universidade de Princeton.

O fato de ter nacionalidade americana - da qual teve de abrir mão para disputar a Presidência - deu a ele uma aura de estrangeiro em seu próprio país. No Peru, é chamado de PPK, suas iniciais, já que seu sobrenome é impronunciável para muitos compatriotas.

Casado duas vezes, ambas com americanas, Kuczynski tem quatro filhos. Desde 1997, sua mulher é Nancy Lange.

Favorável ao livre mercado, Kuczynski assumiu rapidamente um perfil regional de crítico ao protecionismo comercial, bandeira do presidente americano, Donald Trump. Ao mesmo tempo, concorda com Washington nas condenações ao governo de Nicolás Maduro na Venezuela.

Paradoxalmente, Kuczynski é mais bem-visto no exterior. Para muitos, passa a imagem de um presidente que parecia viver em um mundo paralelo, sem lutar com os adversários para acabar seu mandato e encerrar o que parecia uma brilhante trajetória de vida, tanto pública quanto privada.

Percebido como um homem frio e com um senso de humor cáustico, suas piadas fora de propósito começaram a incomodar o imaginário peruano, com uma população dividida entre os problemas de segurança, a corrupção e as frágeis instituições do país.

Como PPK integrou diretorias de várias empresas, os críticos afirmavam que defenderia interesse particulares. "São bobagens. Minhas mãos estão limpas", respondeu Kuczynski. "Não sou político. Sou um economista que quer fazer algo por seu país."

Sua biografia oficial tem um capítulo especial dedicado ao pai Max Kuczynski, médico que, depois de fugir com a família da Alemanha nazista em 1936, assumiu a direção do leprosário de Iquitos, na Amazônia peruana, quando a lepra era temida como uma maldição.

Nascido em Lima em 3 de outubro de 1938, PPK passou grande parte da infância neste ambiente. Dessa maneira, forjou sua personalidade e resistência, que enfrentam agora um teste definitivo. (Com agências internacionais)