O que os tuítes de Trump neste começo de ano dizem sobre a política internacional em 2018?
O presidente americano, Donald Trump, começou o ano polemizando nas redes sociais. Com apenas dois dias passados desde o início de 2018, o político reconhecidamente afeito ao Twitter já fez mais de dez publicações na plataforma, ao menos três delas relevantes para os rumos da política internacional nas próximas semanas.
Trump estreou a maratona de alfinetadas acusando o governo paquistanês de apoiar terroristas. No mesmo dia, publicou algumas palavras de apoio aos manifestantes do Irã, algo que já vinha fazendo desde o dia 31 de dezembro. Já na terça-feira (2), dedicou-se à Coreia do Norte -- um dos assuntos mais delicados das relações internacionais da atualidade e, antes que o dia acabasse, dirigiu-se aos palestinos.
Entenda cada uma das polêmicas e o que as postagens de Trump dizem sobre elas:
Apoio do Paquistão ao terrorismo
Estados Unidos e Afeganistão acusam há alguns anos o Pasquitão de abrigar ou fazer vista grossa a terroristas que ameaçam os dois países.
Na segunda-feira (1º), Trump voltou ao tema ao acusar o país islâmico de dar abrigo a terroristas do Afeganistão, desperdiçando assim os mais de US$ 33 bilhões doados pelo governo americano ao Paquistão nos últimos 15 anos.
Como reação à mensagem do presidente americano, o governo paquistanês convocou o embaixador dos Estados Unidos no país para prestar esclarecimentos, segundo a mídia local. O primeiro-ministro do país, Shahid Khaqan Abbasi, também convocou uma reunião do Comitê de Segurança Nacional apenas para debater o tuíte, e ainda provocou Trump, sugerindo que contrate uma auditoria americana para checar o uso do dinheiro doado.
O que Trump tem a ver com isso?
Embora aliados, Estados Unidos e Paquistão mantém relações frágeis, devido ao suposto apoio dado por Islamabad a grupos terroristas, como a rede Haqqani, aliada do Talebã. Há anos fornecendo auxílio financeiro ao Paquistão, a casa Branca ameaça agora cortar a ajuda caso o país continue a apoiar ou fazer vista grossa em relação aos grupos terroristas.
Em 2016, o líder talibã Mullar Mansour foi morto por forças americanas em solo paquistanês. Cinco anos antes, o procurado extremista Osama bin Laden também foi encontrado e morto no país, por uma missão dos Estados Unidos. O Paquistão, por sua vez, nega qualquer apoio a terroristas.
Por que é importante?
Além de deixar as autoridades paquistanesas em alerta, a declaração de Trump provocou protestos de civis no país. Em nota, o governo de Islamabad afirmou que o americano estava “ameaçando a confiança construída ao longo de gerações entre as duas nações”, além de negar sacrifícios paquistaneses feitos nas últimas décadas.
A mensagem mobilizou também outros países, como Índia, Afeganistão, e China, acirrando as tensões políticas na região. Ao jornal britânico “The Guardian”, funcionários do governo disseram que as medidas americanas tendem a “empurrar o Paquistão para os braços da China", que pretende investir bilhões de dólares na região.
Protestos no Irã
Desde o dia 28 de dezembro milhares de manifestantes tomaram as ruas de diferentes cidades do Irã para protestar contra a situação política e econômica do país. Até agora, mais de 20 pessoas foram mortas e outras 400 presas.
O descontentamento é consequência de algumas medidas de austeridade adotadas pelo presidente Hassan Rouhani desde que chegou ao poder, em 2013. Entre elas está o aumento do preço de alimentos e combustíveis.
O que Trump tem a ver com isso?
A primeira manifestação de Trump sobre o tema foi feita ainda no dia 31 de dezembro. “Grandes protestos no Irã. O povo está finalmente se dando conta de como o dinheiro e o patrimônio estão sendo roubados e mal gastos com terrorismo”, escreveu na ocasião.
Logo após a virada do ano, Trump voltou ao Twitter para criticar o governo iraniano e a política adotada por seu antecessor, Barack Obama, em relação ao país. “O Irã está falhando em todos os sentidos, a despeito do acordo terrível feito com eles pela administração de Obama. O grande povo do Irã é oprimido há décadas. Eles têm fome de alimento e liberdade”, escreveu na ocasião.
Trump se referia ao acordo nuclear de 2015, assinado pelo Irã e pelos países que compõem o Conselho de Segurança da ONU. No acordo, constantemente criticado pelo presidente americano, o Irã se comprometia a frear seu programa de desenvolvimento de tecnologia nuclear, que causava temor às demais nações.
Os Estados Unidos e seus aliados, por sua vez, afrouxariam as sanções que prejudicavam economicamente o país persa. A revolta atual se deve em grande parte ao fato de a situação econômica iraniana não ter melhorado apesar do fim das sanções.
As declarações de Trump não são um bom sinal para as relações já frágeis entre os dois países. Nesta terça-feira (2), Teerã reagiu aos tuítes de Trump mandando-o se preocupar em resolver a fome e a violência armada em seu país em vez de se envolver nos assuntos internos da República Islâmica e de outras nações. Além disso, o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, acusou os “inimigos da República Islâmica de serem responsáveis pela situação”.
Khamenei não nomeou os "inimigo", mas analistas afirmam que ele poderia estar se referindo aos Estados Unidos, a Israel e à Arábia Saudita.
Desde que assumiu a presidência, Trump têm dificultado a obtenção de vistos para iraniano entrarem em seu país, além de aplicar novas sanções ao Irã, pondo em risco o acordo realizado em 2015.
Por que é importante?
O Irã é o terceiro maior exportador de petróleo entre os países da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), o que faz dele foco de atenções internacionais. Uma crise no país pode ter consequências para a economia internacional como um todo.
Além disso, conforme os protestos avançam, eles têm adquirido cada vez mais um caráter político. Muitos manifestantes têm se posicionado contra o establishment religioso do país, desestabilizando o regime em vigor desde 1979.
Um eventual colapso do regime poderia mudar profundamente a as relações geopolíticas na região.
A última grande onda de manifestações no Irã aconteceu em 2009 e foi estimulada pela reeleição do então presidente Mahmoud Ahmadinejad, acusado de fraude eleitoral. O episódio ficou conhecido como Movimento Verde.
Tensões entre Coreias
Em seu discurso de final de ano, o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, adotou um tom conciliador em relação à Coreia do Sul. Jong-un levantou a possibilidade de levar uma delegação à Olimpíada de Inverno, que acontecerá em fevereiro no país vizinho.
Seul, por sua vez, propôs um diálogo de “alto nível” entre os dois países, a ser realizado na terça-feira (9), em Panmunjom, zona desmilitarizada entre os dois territórios.
O que Trump tem a ver com isso?
No mesmo discurso em que sinalizou uma aproximação com a Coreia do Sul, Kim Jong-un adotou um tom ameaçador para falar dos Estados Unidos. “Todos os Estados Unidos estão ao alcance de nossas armas nucleares e há um botão nuclear permanentemente em meu escritório. Essa é a realidade, não uma ameaça”, disse o líder norte-coreano. Ainda assim, o mais recente tuíte do presidente Donald Trump sobre o país, feito na manhã desta terça-feira (2), adotava um tom mais positivo.
“Sanções e ‘outras’ pressões estão começando a ter um impacto na Coreia do Norte”, escreveu Trump. “Soldados estão fugindo perigosamente para a Coreia do Sul. O homem-foguete agora quer conversar com a Coreia do Sul pela primeira vez. Talvez isso seja boa notícia, talvez não - vamos ver!”
Por que é importante?
Nos últimos anos, a Coreia do Norte tem deixado o resto do mundo em estado de tensão constante devido aos testes nucleares que realiza -- que, se transformados em ataque, teriam o potencial de destruir populações inteiras do outro lado do planeta. Até 2017, seis testes foram realizados e 20 mísseis, lançados no mar. Os testes tiveram como consequência uma série de sanções econômicas ao país, apoiadas pelo Conselho de Segurança da ONU.
No discurso, Kim vangloriou-se de ser uma potência nuclear - no entanto, a disposição para o diálogo pode ser uma luz no fim do túnel no imbróglio. Caso o encontro de fato aconteça, será a primeira reunião entre as duas Coreias em mais de dois anos.
Questão palestina
Antes que a terça-feira (2) acabasse, Donald Trump lembrou-se da Palestina - possivelmente o ponto de maior atenção de sua política externa no primeiro ano de mandato. "Não apenas ao Paquistão pagamos bilhões de dólares por nada, mas também para muitos outros países. Por exemplo, pagamos aos palestinos centenas de milhares de dólares por ano e não temos em troca nenhuma apreciação ou respeito", escreveu o presidente. Para ele, os palestinos se recusam a negociar um acordo de paz para a região.
O que Trump tem a ver com isso?
São tempos turbulentos nos territórios palestinos ocupados e em Israel - e as tensões foram acirradas devido a mudança da política externa americana em relação à região.
Em dezembro de 2017, Trump tornou oficial a mudança da embaixada americana em Israel de Tel Aviv para Jerusalém. Na prática, isso significa o reconhecimento oficial da cidade - alvo de disputa entre israelenses e palestinos - como capital de Israel. Desde então, uma série de protestos palestinos contrários à mudança têm tomado as ruas da Cisjordânia e Gaza - mais de dez palestinos foram mortos até agora.
Israelenses reivindicam a cidade como sua capital única e indivisível. Os palestinos, por sua vez, pretendem tornar Jerusalém a capital de um futuro Estado palestino. A comunidade internacional não reconhece Jerusalém como capital de Israel e a decisão de Trump foi rejeitada pela Assembleia Geral da ONU.
Por que isso é importante?
O conflito na região se arrasta por décadas, tendo momentos de maior e de menor tensão. A decisão da mudança de embaixada tornou ainda mais improvável um acordo de paz - principalmente um que preveja a criação de dois Estados.
A suposta intenção de Trump de cortar a ajuda americana à Palestina é coerente com a mudança de postura adotada pelos Estados Unidos em relação ao conflito e piora ainda mais a situação na região.
(*Com Agências de Notícias)
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