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Coreia do Sul tem desafio diplomático ao receber irmã de Kim Jong-un e vice de Trump

8.fev.2018 - O vice-presidente dos EUA, Mike Pence, se encontra com o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, em Seul - AFP PHOTO / POOL / KIM Hee-Chul
8.fev.2018 - O vice-presidente dos EUA, Mike Pence, se encontra com o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, em Seul Imagem: AFP PHOTO / POOL / KIM Hee-Chul

Do UOL, em São Paulo

08/02/2018 16h02

Um dos maiores desafios do presidente sul-coreano, Moon Jae-in, na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pyeongchang será abrigar, no mesmo espaço, o vice de Donald Trump, Mike Pence, e a irmã de Kim Jong-un, Kim Yo-jong.

Além de Pence e Yo-jong, a cerimônia ainda terá Kim Yong-nam, chefe de Estado cerimonial norte-coreano e que normalmente representa o país em viagens ao exterior.

Segundo a agência Reuters, a organização sul-coreana tem enfrentado uma "dor de cabeça protocolar" para montar a logística e evitar desgastes entre os países em meio à retórica de guerra de Trump e Kim Jong-un.

"Quão perto devem ficar os assentos dos norte-coreanos e norte-americanos? E quem ficará com um lugar mais alto?", questionou o oficial da Coreia do Sul citado pela Reuters, que não teve seu nome revelado.

Apesar da intenção de Moon de reduzir as tensões com a presença norte-coreana, a estratégia pode não dar certo, segundo Lee Kang-rae, ex-assessor presidencial da Coreia do Sul para relações diplomáticas, citado pela Reuters. "Não seria legal se a Coreia do Norte e os EUA se sentassem lado a lado e tivessem uma interação gelada e de enfrentamento, com o mundo inteiro assistindo às imagens."

Pence ainda levará como convidado à cerimônia Fred Warmbier, pai de Otto Warmbier, estudante norte-americano que morreu em junho do ano passado depois de ficar preso na Coreia do Norte durante 17 meses. Na época da morte do estudante, o pai, emocionado, fez duras críticas ao regime de Kim Jong-un.

A abertura está marcada para as 20h locais (9h de Brasília) desta sexta-feira (9) no Estádio Olímpico de Pyeongchang, com capacidade para 35 mil pessoas. Ele foi construído apenas para os Jogos e será desmontado após o evento.

Intermediário

Como anfitrião dos Jogos, o governo de Moon Jae-in tem tentado, ao mesmo tempo, diminuir as tensões com Pyongyang e se manter ao lado dos EUA, seu aliado.

Com o vizinho do Norte, que tecnicamente ainda está em estado de guerra com Seul desde o fim do conflito armado, em 1953, várias marcas históricas serão derrubadas com a chegada da delegação de Pyongyang. Será a primeira visita de um membro da dinastia Kim e também de um chefe de Estado norte-coreano à Coreia do Sul desde o fim da guerra.

No sábado (10), o presidente sul-coreano almoçará com a delegação de Pyongyang, incluindo Kim Yo-jong e Kim Yong-nam, no que será a reunião de mais alto nível já realizada no Sul entre ambos os países.

A irmã de Kim Jong-un, Kim Yo-jong, acompanha o ditador em visita a uma base militar da Coreia do Norte em 2015 - Korean Central News Agency/Korea News Service via AP - Korean Central News Agency/Korea News Service via AP
Kim Yo-jong acompanha o irmãp em visita a uma base militar da Coreia do Norte
Imagem: Korean Central News Agency/Korea News Service via AP

As delegações dos dois países desfilarão juntas na cerimônia de abertura dos Jogos sob uma bandeira da Península Coreana unificada. Haverá ainda em Pyeongchang a participação de uma equipe conjunta de hóquei no gelo das duas Coreias.

Moon se encontrou com Pence nesta quinta-feira e afirmou que os Jogos serão uma oportunidade para "levar a Coreia do Norte a dialogar sobre desnuclearização e o estabelecimento da paz".

Pence concordou que o fim das armas nucleares na península é a questão mais importante nesse conflito e disse que os EUA estão "ombro a ombro" com a Coreia do Sul. Ao mesmo tempo, afirmou que o país fará "pressão máxima" para encerrar o programa nuclear norte-coreano.

Sem diálogo

Antes de chegar a Seul, Pence alternou seu tom nos recados à Coreia do Norte. Em Tóquio, na noite de quarta-feira, ele falou que os Estados Unidos anunciariam em breve "as mais duras e ofensivas sanções econômicas já adotadas contra a Coreia do Norte" e afirmou que o país não deixaria que a "propaganda norte-coreana sequestre a mensagem e a imagem dos Jogos de Inverno".

Horas depois, ao deixar a capital japonesa, Pence não descartou se encontrar com membros norte-coreanos em Pyeongchang. "Não solicitamos nenhuma reunião com representantes norte-coreanos, mas se tiver algum contato com eles em qualquer contexto durante os próximos dois dias, a nossa mensagem será a de sempre", disse Pence, pedindo à Coreia do Norte que "deixe de uma vez por todas as suas ambições nucleares e de mísseis balísticos".

A Coreia do Norte, por sua vez, disse que "claramente" não tem intenção de se reunir com os EUA em Pyeongchang.

"Nós nunca imploramos por diálogo com os Estados Unidos nem o faremos no futuro", disse o diretor-geral do Ministério de Relações Exteriores da Coreia do Norte, Jo Yong Sam, segundo a agência de notícias "KCNA", oficial do regime.

"Falando explicitamente, nós não temos nenhuma intenção de encontrar com o lado dos Estados Unidos durante nossa estada na Coreia do Sul. A visita da nossa delegação à Coreia do Sul é apenas para participar da Olimpíada e saudar sua bem-sucedida realização."

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AFP