Putin e a Rússia sóbria: como o Kremlin usa esporte para seu sucesso político
O presidente russo, Vladimir Putin, é faixa preta em judô, não bebe álcool e faz natação todos os dias. Ele se transformou no maior exemplo para uma nova geração de russos que não bebe, não fuma e que faz atividades físicas regularmente.
"Putin poderia ser meu pai ou meu avô. Ele tem uma alma jovem e nos inspira. A gente quer mudar o estereótipo de que os russos bebem muito. Isso tem que ficar no passado", diz Dima Sokolov, 24.
O estilo de vida de Dima ainda é minoritário na Rússia, mas não para de crescer. Ele faz parte do projeto "Rússia Sóbria", do governo federal. O projeto foi lançado em abril de 2012 com o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos cidadãos russos através da redução do consumo de álcool e tabaco e a promoção da prática de esportes.
Dima diz que faz algum tipo de exercício físico todos os dias e dá palestras contra o consumo -- mesmo recreativo -- de álcool e cigarro. "Eu bebia muito quando era adolescente e mais jovem. Agora, me sinto livre. Minha vida melhorou, tenho uma namorada. Antes, eu andava com pessoas erradas e bebia até durante a semana. Eu quero ser o modelo correto para a nossa juventude"
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Nikita Titov, de 25 anos, também faz parte do que ele chama de "geração sábia e sóbria". Nikita é professor de matemática, mas dá aula de artes marciais, gratuitamente, no subúrbio de Moscou.
"Nós já tivemos líderes que nos envergonhavam e que sempre apareciam na televisão bêbados. Eu me lembro dessa imagem na TV quando eu era criança."
Ele se refere a Boris Ieltsin, presidente da Rússia entre 1991 e 1999, lembrado em todo o mundo pelas suas gafes públicas devido ao consumo exagerado de álcool.
O jovem completa: "Putin não bebe nem mesmo para brindar. E a imagem que temos dele é de uma pessoa saudável, com uma estrutura física impressionante para a idade. Eu sei que muita gente no Ocidente ri e critica a imagem de Putin sem camisa, mas é esse o tipo de modelo que todos nós nos precisamos. No mundo".
Sobre as acusações de doping generalizado entre os atletas russos, Nikita desconversa: "Eles deveriam checar com atenção os atletas do mundo inteiro. Essa é uma questão política e não tem a ver com esporte. Não deveriam misturar esporte com Politica".
Mas esporte e política andam de mãos dadas. E não é diferente na Rússia.
Muitos dos membros do projeto Rússia Sóbria participam ativamente da vida política russa. Os discursos patrióticos e nacionalistas são evidentes. No início de março, os jovens do movimento participaram de um comício político em apoio a Vladimir Putin, no estádio Estádio Lujniki, em Moscou. É o maior estádio da Rússia e que também vai receber a abertura da Copa do Mundo.
"Eu vou aos encontros políticos do (partido governista) Rússia Unida e apoio a reeleição de Putin, claro. Nunca ninguém fez tanto pela Rússia como Putin fez, está fazendo e continuará a fazer".
A associação com o Komsomol, a organização jovem do Partido Comunista da União Soviética, é inevitável. O Partido Comunista da União Soviética engajava os jovens entre 14 e 28 anos em atividades de saúde, esportes e educação.
Viktor Sidorov, especialista em ciência política da Universidade Federal de Kazan, acredita que "para o governo russo, o esporte é o símbolo da identidade nacional e da legitimidade do funcionamento do Estado".
Se os atletas russos tiverem um bom desempenho, isso refletiria diretamente numa aprovação (ainda maior) do governo russo.
"É crucial (para o governo) apresentar bons resultados em todos os esportes. Isso funciona com qualquer país, mas para países como a Rússia, isso é fundamental. Para a identidade nacional, as vitórias no esporte são importantes. Com a bandeira russa, todos se tornam russos, mesmo com tantas etnias diferentes no país. E tudo isso é bom para o governo."
Internamente, Putin enxerga a Copa do Mundo como uma maneira de promover um estilo de vida saudável entre os jovens russos e usa isso de maneira política para conter a perda de popularidade da sua presidência nessa faixa etária. A juventude russa é hoje a base da oposição no pais.
Internacionalmente, o megaevento esportivo poderia consagrar a redefinição de um mundo multi-polarizado.
"Da mesma forma que os Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, a Copa do Mundo da Fifa é uma ferramenta para melhorar a imagem danificada da Rússia, para mostrar que somos um pais normal e confiável", diz Sidorov.
O sucesso político interno do governo russo, para a sorte do Kremlin, não depende do sucesso da Rússia no futebol.
No início deste março, a Rússia amargava a 61ª posição no ranking de seleções da FIFA. Entre os 32 participantes da Copa do Mundo de 2018, apenas a Arábia Saudita tem uma posição pior, ficando em 64ª entre 206 seleções
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