Velório do ex-presidente Alan García reúne multidão no Peru
O ex-presidente do Peru Alan García García foi velado por uma multidão de aliados e apoiadores na sede de seu partido, a Aliança Popular Revolucionária, em Lima. O político se suicidou ontem em casa ao receber ordem de prisão pela polícia em um caso vinculado ao escândalo Odebrecht.
O secretário pessoal de García, Ricardo Pinedo, disse ontem que a sede do partido estaria aberta a todos que queiram prestar uma última homenagem. Assim, uma multidão com celulares e flores cercou o caixão do ex-presidente. O funeral acontecerá amanhã ao meio-dia.
O governo decretou três dias de luto nacional. Segundo o congressista Jorge del Castillo, a família de García rejeitou as honras de um funeral de Estado a que ele tinha direito por ser ex-governante do Peru. "A família tomou sua decisão e devemos respeitá-la", acrescentou Del Castillo.
Quando o ex-presidente foi levado ontem para o hospital, dezenas de simpatizantes foram ao local para expressar indignação e tristeza. García, que atirou contra a própria cabeça, chegou a ser submetido a uma cirurgia, mas teve três paradas cardíacas e não resistiu.
A polícia chegou à casa do ex-presidente por volta das 6h de ontem. Ao ser avisado da prisão, García pediu para ir ao quarto falar com seus advogados. Poucos minutos depois, os agentes ouviram o disparo de uma arma de fogo, encontraram o ex-presidente ferido e o levaram ao hospital.
O secretário particular do ex-presidente confirmou que García tinha entre quatro e cinco armas em casa que recebeu de presente do Comando Conjunto das Forças Armadas. "Eu mesmo cuidei das licenças", disse. De acordo com a polícia, o ex-dirigente utilizou uma dessas armas no suicídio.
"O presidente García tomou uma decisão de dignidade e de honra. Um ato de honra diante de uma perseguição fascista", destacou o congressista Mauricio Mulder, colega de partido de García
Reações
O atual presidente do Peru, Martín Vizcarra lamentou a morte no Twitter. "Consternado pelo falecimento do ex-presidente Alan García. Envio minhas condolências à família e entes queridos".
"Com muita tristeza recebo a notícia da trágica partida do ex-presidente Alan García Pérez", postou na mesma rede social Keiko Fujimori, líder da oposição, em prisão preventiva por 36 meses por causa do caso Odebrecht.
Ao ser informado sobre a morte de García, o presidente do Equador, Lenín Moreno, disse que "cada um escolhe a forma de viver e também a forma de morrer", numa declaração à imprensa em Washington, onde participa de uma sessão na Organização de Estados Americanos (OEA).
Caso Odebrecht
García era alvo de um pedido de prisão temporária, por dez dias. As autoridades buscavam coletar novos elementos na investigação diante de um eventual risco de fuga. Ele era investigado por supostos subornos pagos pela Odebrecht para obter um contrato de construção para a linha 1 do metrô de Lima durante seu segundo mandato. García ainda era investigado por ter recebido US$ 100 mil da empresa brasileira por uma palestra em São Paulo em 2012, mas sempre negou irregularidades.
Antes da emissão do mandado de prisão, o ex-presidente havia declarado na terça-feira que não ficaria isolado ou escondido. No ano passado, García tentou deixar o Peru e solicitou asilo no Uruguai, mas teve o pedido negado.
Além de García, o Peru tem outros quatro presidentes eleitos envolvidos em casos de corrupção --três deles nas investigações da Odebrecht. Um deles, Alejandro Toledo (2001-2006), é considerado foragido. Ollanta Humala (2011-2016), preso por nove meses, agora responde às acusações em liberdade. Já o ex-presidente Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018) foi preso na semana passada. Alberto Fujimori (1990-2000) cumpre pena por crimes contra a humanidade, mas também foi acusado e condenado por corrupção, sem ligação com a Lava Jato peruana.
(Com agências internacionais)
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