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Ex-presidente francês Jacques Chirac morre aos 86 anos

Jacques Chirac, em março de 2001 - Charles Platiau/Reuters
Jacques Chirac, em março de 2001 Imagem: Charles Platiau/Reuters

Do UOL, em São Paulo

26/09/2019 07h23

O ex-presidente francês Jacques Chirac morreu nesta manhã aos 86 anos, de acordo com a agência France Presse. A causa da morte não foi divulgada pela família.

Ele governou o país entre 1995 e 2007, foi primeiro-ministro e também prefeito de Paris.

O anúncio da morte de Chirac foi feito pelo genro dele, Frédéric Salat-Baroux, marido de Claude Chirac. "Morreu cercado por familiares. Pacificamente", declarou ele à agência.

De acordo com o jornal francês Le Parisien, a Assembleia Nacional fez um minuto de silêncio após o anúncio da morte. O presidente Emmanuel Macron fará um pronunciamento às 20h do horário local para comentar a morte. Marine Le Pen, da Frente Nacional, "declarou que "apesar das diferenças políticas, reconhece a importância do governo de Chirac ao se opor à Guerra do Iraque em 2003".

Desde que sofreu um derrame, em setembro de 2005, quando ainda era presidente da França, os problemas de saúde de Jacques Chirac se sucederam. Depois que deixou o governo, em maio de 2007, foi hospitalizado várias vezes, segundo a RFI.

Em janeiro de 2014, sua mulher, Bernadette Chirac, disse que o marido, que sofria de "problemas de memória", não falaria mais em público. No final do ano passado, o ex-presidente passou duas semanas internado para tratar de um quadro geral de fraqueza.

Nos últimos anos, ele fazia raras aparições públicas. A última vez que Chirac apareceu oficialmente foi em novembro de 2014, em um evento da fundação Chirac ao Serviço da Paz, que ele fundou em 2008. Enfraquecido, apoiado por um segurança, ele foi muito aplaudido quando chegou à cerimônia.

Chirac se casou em 1956 com Bernadette, com quem teve duas filhas e adotou uma terceira. A morte de Laurence, sua filha mais velha, em 2016, aos 58 anos, o abalou profundamente, segundo a imprensa local.

Líderes repercutem

Diversos políticos lamentaram morte do político francês. Chirac deixará "para sempre sua herança na França e na União Europeia", declarou a porta-voz do chefe da Comissão Europeia, que se declarou "afetado e devastado" pela morte do ex-presidente francês.

"Foi para nós, alemães, um parceiro formidável e um amigo", assegurou no Twitter a porta-voz da chanceler alemã, Angela Merkel.

O presidente interino do governo espanhol, Pedro Sánchez, lembrou que "como primeiro-ministro, prefeito de Paris e presidente da República Francesa, se vai um líder que marcou a política europeia".

Boris Johnson, primeiro-ministro britânico, lembrou de Chirac como um "líder formidável que modelou o destino" da França. "De Jacques Chirac fica a coragem de ter reconhecido a responsabilidade do Estado francês na deportação de judeus durante a ocupação da França pela Alemanha nazista", entre 1940 e 1944, disse o primeiro-ministro belga Charles Michel.

Fora da União Europeia, o presidente russo Vladimir Putin elogiou um líder "sábio e visionário". O francês foi apontado pelo russo como o líder estrangeiro que mais o impressionou. "Os libaneses e os árabes sentem hoje a perda de um homem que marcou profundamente suas consciências por vários anos", declarou o primeiro-ministro libanês Saad Hariri.

À margem do mundo político, o jornalista francês Georges Malbrunot, ex-refém no Iraque, prestou homenagem a Chirac ao enfatizar que "provavelmente lhe devia sua vida". Malbrunot e o jornalista francês Christian Chesnot ficaram sequestrados no Iraque por 124 dias, de agosto a dezembro de 2004. "Ele soube dizer não à louca aventura dos Estados Unidos no Iraque em 2003. Pessoalmente, provavelmente lhe devo a vida", tuitou Malbrunot.

Uma vida dedicada à política

Jacques Chirac nasceu em Paris, em novembro de 1932. Ele cresceu na Corrèze, na região centro-oeste, mas se formou em Paris no prestigioso Instituto de Estudos Políticos e na Escola Nacional de Administração. Sua carreira política começou como vereador de Sainte-Féréole en Corrèze,em 1965, mas logo ele ocupou vários cargos importantes em ministérios, foi eleito deputado, até ser nomeado primeiro-ministro de Valéry Giscard d'Estaing, em 1974.

Em março de 1977, Chirac é eleito prefeito de Paris, cargo que conservou até sua primeira eleição presidencial em 1995, substituindo o socialista François Mitterrand. Em 2002, ele foi reeleito para um segundo madato após uma eleição que marcou a história recente francesa. Para surpresa geral, o presidente da Frente Nacional, Jean-Marie Le Pen, chegou ao segundo turno e Chirac obteve 82,21% dos votos.

Depois de François Mitterrand, que ficou 14 anos no poder, ele vem em segundo como o chefe de Estado a ocupar por mais tempo o cargo, com 12 anos na função.

Herança chiraquiana

Internacionalmente, Jacques Chirac entrou para a história como o presidente que ousou resistir aos Estados Unidos e não entrar na guerra no Iraque em 2003. Ela também foi o primeiro presidente da República a reconhecer a responsabilidade do Estado francês na deportação dos judeus durante a Segunda Guerra Mundial.

A França da era Chirac foi um dos primeiros países desenvolvidos a apoiar a candidatura do Brasil a uma cadeira do Conselho de Segurança da ONU. Esse apoio, aliás, foi ressaltado durante sua visita à Brasília, em maio de 2006, quando foi recebido pelo presidente Lula. Foi também durante seu último mandato que foi realizado, em 2005, o bem sucedido "Ano do Brasil na França", que comemorou os laços históricos entre os dois países.

Em relação a Europa, a política de Chirac é mais contrastada. Sua indefinição é apontada como responsável pelo não francês ao referendo de 2005 sobre a Constituição europeia. Mas o ex-presidente também defendeu a entrada de outros países, principalmente do do leste europeu, no bloco.

O ex-presidente também tem uma mancha em seu histórico político. Chirac foi o primeiro chefe de Estado francês a ter sido condenado pela Justiça. Em 2011, depois que tinha perdido sua imunidade como presidente, ele foi condenado a dois anos de prisão, com direito a sursis, por empregos-fantasmas quando era prefeito de Paris, entre 1977 e 1995. Já sofrendo da doença degenerativa, ele obteve autorização para não comparecer ao tribunal.

(Com informações da RFI)