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Indicado à embaixada nos EUA é aprovado em sabatina tranquila no Senado

O diplomata Nestor Forster Junior foi aprovado por unanimidade dos 12 senadores presentes no colegiado - DIDA SAMPAIO/ESTADÃO CONTEÚDO
O diplomata Nestor Forster Junior foi aprovado por unanimidade dos 12 senadores presentes no colegiado Imagem: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO CONTEÚDO

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

13/02/2020 13h05Atualizada em 13/02/2020 14h11

Resumo da notícia

  • Um dos mais importantes postos do Itamaraty, cargo está vago desde abril de 2019
  • Nestor Forster foi escolhido por Bolsonaro depois de presidente não conseguir emplacar filho Eduardo
  • Próximo passo para ratificação é a análise do plenário do Senado, que ainda não tem data para acontecer

O diplomata Nestor Forster Junior, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como embaixador do Brasil nos Estados Unidos após a desistência do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) por falta de apoio, foi aprovado hoje em sabatina na Comissão de Relações Exteriores do Senado.

Ele foi aprovado por unanimidade dos 12 senadores presentes no colegiado. Agora, seu nome precisa ser analisado pelo plenário do Senado para que seja ratificado como o novo embaixador nos Estados Unidos — votação ainda sem data prevista.

Na prática, como o encarregado de negócios, Forster já atua como o embaixador do Brasil nos Estados Unidos desde a saída do diplomata Sergio Amaral do posto em abril do ano passado.

A sabatina transcorreu com tranquilidade e afagos dos senadores a Forster, sendo o momento de maior questionamento ao diplomata quando o senador Carlos Viana (PSD-MG) lhe perguntou sobre a compra de parte comercial da Embraer pela Boeing e a Base de Alcântara.

Forster disse que a iniciativa entre as empresas não prejudicará a soberania nacional ou as vendas de aviões militares, pois o acordo se foca nas aeronaves comerciais. Sobre a Base de Alcântara, disse existir fila de empresas que procuram a embaixada em Washington D.C. interessadas em lançar satélites no local.

Não vejo subserviência aos EUA, diz

Em outro momento, o senador Jaques Wagner (PT-BA) afirmou se preocupar com uma ideologização da diplomacia brasileira. Mesmo assim, elogiou a trajetória de Forster e desejou sucesso a ele no cargo.

Questionado sobre um suposto alinhamento automático do Brasil aos posicionamentos dos Estados Unidos, Forster confirmou que o Brasil busca uma aproximação com o país e haver uma relação entre "dois grandes países com desnível de poder", por exemplo, militar, mas enxergar essa situação como natural.

"Não vejo subserviência alguma", declarou, ao acrescentar haver setores em que ambos os países são fortes concorrentes, como o agropecuário.

O diplomata disse enxergar a expressão de alinhamento automático com "certa implicância", porque o fato é impossível, avaliou. Ele defendeu que todos os países que deram saltos sociais e econômicos nos últimos 50 anos, como Japão e Coreia do Sul, mantiveram excelentes relações com os Estados Unidos.

O senador e ex-presidente Fernando Collor de Mello (Pros-AL) afirmou que o Brasil não deve perder o papel de interlocutor na questão ambiental e de direitos humanos em um momento em que os Estados Unidos deixarão o Acordo de Paris para o clima.

Peregrinação pelo Senado

Ontem, Forster já havia percorrido por gabinetes no Senado a fim de conversar com os parlamentares e reforçar o apoio a seu nome.

Em fala, Forster ressaltou que o Brasil mantém com os Estados Unidos a relação mais longeva dentre os demais países e que esse relacionamento sempre foi de cooperação, ainda que por vezes mais fraca ou forte. Os Estados Unidos, por exemplo, foram o primeiro país a reconhecer a independência do Brasil.

Se for confirmado como embaixador, o diplomata reforçou que vai priorizar dar forma concreta ao que chamou de "excelente química" entre Bolsonaro e o presidente norte-americano Donald Trump neste relacionamento bilateral.

Flávio Bolsonaro cumprimenta o diplomata Nestor Foster, indicado para o cargo de embaixador do Brasil nos Estados Unidos -  -
Flávio Bolsonaro cumprimenta o diplomata Nestor Foster, indicado para o cargo de embaixador do Brasil nos Estados Unidos

De favorito a preterido

Quando Bolsonaro fez uma visita oficial a Trump em março de 2019, Forster era o favorito a assumir o posto, um dos mais importantes do Ministério das Relações Exteriores, mas acabou sendo preterido por Eduardo Bolsonaro.

À época, Forster buscou reforçar o próprio nome por meio da articulação da viagem e da participação em eventos tanto oficiais, como jantar da delegação brasileira, quanto extraoficiais. Ele também é próximo do professor de filosofia online, Olavo de Carvalho, que inspira a família Bolsonaro e o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.

Entre os resultados concretos já firmados entre os dois chefes de Estado, Forster destacou hoje o apoio dos EUA à entrada do Brasil na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), a designação do Brasil como aliado preferencial extra-Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), reativação de fórum de executivos, acordo de salvaguarda tecnológica para a Base de Alcântara e o lançamento do projeto-piloto para a entrada do Brasil no programa de facilitação de vistos Global Entry.

Parte de políticos e estudiosos critica as concessões que o governo brasileiro teve de fazer para atingir tal apoio dos Estados Unidos, como a isenção de visto para americanos entrarem no Brasil e a renúncia ao status de país em desenvolvimento com a consequente perda de benefícios em algumas negociações comerciais.

Próximo desafios

Como desafios à frente da embaixada, Forster elencou o aprofundamento de cooperações na área de ciência e defesa, negociar termos para evitar a bitributação, debater um acordo comercial com os EUA e definir a estratégia a ser seguida em negociações com outros países em paralelo ao Mercosul (Mercado Comum do Sul).

Ele ainda afirmou ser preciso não perder o foco do que pode ser realizado antes das eleições norte-americanas, que se estende até novembro deste ano, e mapear o que pode ser afetado em setores mais sensíveis a mudanças políticas.

Forster informou haver 1,3 milhão de brasileiros vivendo nos Estados Unidos e disse que a comunidade no país é "ordeira e trabalhadora".

Ex-chefe de gabinete de Gilmar Mendes

Forster nasceu em 1963 em Porto Alegre (RS), é casado e tem duas filhas e dois netos. Ele é formado em letras clássicas e vernáculas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e entrou no curso de preparação à carreira diplomática no Instituto Rio Branco em 1985.

O diplomata atingiu a posição mais alta dentro do Itamaraty, de ministro de primeira classe, em junho de 2019. No Brasil, trabalhou não só no Ministério das Relações Exteriores mas também na Presidência e na Advocacia-Geral da União, quando foi chefe de gabinete do então advogado-geral da União e hoje ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes. Com este, escreveu o manual de redação da Presidência da República em 1991.

Veja as missões permanentes no exterior que Forster já integrou:

  • Embaixada em Washington, Encarregado de Negócios, a.i., (desde 11/07/2019)
  • Embaixada em Washington, Ministro Conselheiro (17/01/2017).
  • Consulado-Geral em Nova York, Cônsul-Geral Adjunto, Chefe do Setor Consular (16/02/2016 a 13/01/2017).
  • Consulado-Geral em Hartford, Cônsul-Geral Adjunto, Chefe do Setor Consular (29/10/2009 a 01/02/2013).
  • Embaixada em Washington, Chefe do Setor Financeiro (04/01/2003 a 15/12/2006).
  • Embaixada em São José, Chefe do Setor Político e Econômico, Conselheiro comissionado e Encarregado de Negócios (12/08/1998 a 25/06/2000).
  • Embaixada em Ottawa, Chefe do Setor Econômico (05/09/1995 a 27/07/98).
  • Embaixada em Washington, Chefe do Setor de Política Comercial (03/04/92 a 20/08/95).

Indicado à embaixada no Líbano também é aprovado

Também foi sabatinado e aprovado hoje na comissão do Senado o indicado para assumir a embaixada do Brasil no Líbano, Hermano Telles Ribeiro.

Questionado sobre seu posicionamento se o Brasil fosse chamado a negociar um acordo de paz entre israelenses e palestinos, ressaltou os tratados internacionais ratificados pela ONU (Organização das Nações Unidas) que o Brasil segue e disse que o país teria plenas condições para auxiliar um eventual novo acordo, mas é preciso que os interessados queiram negociar.

"Não é o que acontece hoje", disse.