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Líbano sabia há 6 anos dos riscos do nitrato de amônio em Beirute, diz TV

Do UOL, em São Paulo

05/08/2020 08h41

Autoridades libanesas tinham conhecimento do armazenamento do nitrato de amônio há pelo menos seis anos e, apesar de alertas, pouco fizeram em relação a isso, de acordo com cartas obtidas pela emissora de TV Al Jazeera. Uma explosão na região portuária de Beirute deixou mais de 100 mortos e milhares de feridos, ontem, e a substância é a principal suspeita de causar o incidente.

Se a população em sua maior parte desconhecia a presença de 2,75 mil toneladas de nitrato de amônio, - material usado em bombas e fertilizantes -, autoridades locais tinham conhecimento que a carga estava armazenada em um armazém da cidade.

De acordo com a Al Jazeera, o material estava armazenado do porto de Beirute há seis anos. A carga teria chegado ao Líbano em setembro de 2013, em um navio russo, com bandeira de Moldova.

A embarcação Rhosus ia da Geórgia para Moçambique, mas teve problemas técnicos enquanto navegava e teve de parar em Beirute. A Al Jazeera cita informações do site Fleemont, que acompanha o movimento de embarcações no porto libanês, e afirma que as autoridades libanesas não permitiram que o navio seguisse viagem após a parada.

A embarcação teria sido, então, abandonada pelos donos e pela tripulação, com sua carga de risco sendo armazenada em um armazém. Em junho de 2014, uma carta foi enviada pelo responsável pela alfândega local, pedindo soluções urgentes para o problema.

Novas correspondências foram enviadas em cinco ocasiões, entre 2014 e 2017, pedindo auxílio para lidar com a carga. As soluções propostas foram exportar o nitrato de amônio, dar ao Exército local ou vender a uma companhia de explosivos.

"Tendo em vista o sério perigo de deixar este material em um armazém, em condições climáticas inadequadas, nós pedimos mais uma vez para que a Marinha reexporte estes materiais imediatamente, para preservar a segurança do porto e dos que por lá trabalham, ou que vejam como vendê-lo", diz uma carta.

Em 2017, Badri Daher, então diretor da administração alfandegária, escreveu a um juiz falando do "perigo de manter esse material onde está, e aos que trabalham por lá".

Reações do governo

Após a explosão de ontem, o primeiro-ministro Hassan Diab declarou que o incidente foi "um grande desastre nacional" e prometeu que "todos os responsáveis por esta catástrofe pagarão o preço".

O presidente Michel Aoun disse que a falha ao lidar com a carga de nitrato de amônio foi "inaceitável" e pediu "punições duras" aos responsáveis. Investigações foram iniciadas e as autoridades terão cinco dias para a divulgação das primeiras descobertas.

Atingido por uma crise humanitária, o Líbano enfrenta dificuldades para lidar com o grande número de vítimas da explosão ocorrida ontem na região portuária de sua capital Beirute. O país vive hoje os efeitos da sua mais grave crise econômica desde o fim da guerra civil, em 1990.

O país do Oriente Médio corre o risco de não conseguir lidar com a enorme demanda de serviços médicos para os feridos. "Na situação atual do Líbano, não há como atender os feridos. Por conta da crise econômica, os serviços públicos estão entrando em colapso", alerta Maurício Santoro, professor do Departamento de Relações Internacionais da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).

Até o momento, o Líbano vinha tendo relativo sucesso em conter o avanço do novo coronavírus —desde fevereiro, quando registrou o primeiro caso, o país teve 65 mortos e 5.062 casos oficiais de covid-19, segundo o painel global sobre a pandemia mantido pela Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos.