Funcionário do Facebook nos EUA se demitiu por causa de live de Bolsonaro
A revista New Yorker desta semana publicou reportagem sobre como uma live do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) levou um especialista em ciber-segurança da sede do Facebook, na Califórnia, Estados Unidos, a se demitir. Ele não se conformou com a decisão da empresa de manter no ar um vídeo do presidente com o que ele considerou discurso "desumanizador" contra indígenas.
Na transmissão ao vivo em janeiro deste ano, em uma de suas lives semanais de quinta-feira, Bolsonaro disse que o índio "é cada vez mais um ser humano igual a nós". David Thiel passou então a travar uma batalha dentro da empresa para tentar tirar o conteúdo da plataforma.
O primeiro passo foi mandar uma mensagem na rede corporativa para denunciar o conteúdo. O vídeo teria sido passado para especialistas em Dublin, na Irlanda, e em Brasília, e não foi retirado, já que a avaliação foi de que as diretrizes não foram violadas.
O especialista de Brasília escreveu que o "presidente Bolsonaro é conhecido por seu discurso controverso e politicamente incorreto".
"Ele está se referindo, na verdade, aos indígenas se tornarem mais integrados à sociedade (em vez de isolados nas tribos)", avaliou.
Descontente com a decisão, Thiel apelou e conseguiu que alguns membros da equipe de políticas de conteúdo o ouvissem por meio de videoconferência. Para isso, ele fez uma apresentação de slides explicando por que o discurso de Bolsonaro desumanizava os índios.
Em um dos slides, ele usou uma fala do próprio criador do Facebook para fortalecer o argumento. "Sabemos pela história que desumanizar pessoas é o primeiro passo para incitação à violência. [...]Eu levo isso muito a sério e trabalhamos duro para tirar isso da nossa plataforma", disse certa vez Mark Zuckerberg.
Entretanto, apesar do apelo, o vídeo não foi retirado. "Em algum momento, alguém do Facebook poderia ter dito 'nós continuaremos a abrir exceções sempre que os políticos violarem nossas regras'", falou Thiel.
Em março, ele decidiu pedir demissão e postou um texto dizendo que o Facebook está se alinhando cada vez mais com políticos e ricos poderosos para abrir exceções. Depois disso, houve uma proposta para que ele voltasse, dizendo que o vídeo seria excluído, mas ela não foi aceita.
Procurado pelo UOL, o Facebook afirmou que proíbe o discurso de ódio dentro da plataforma.
"Aplicamos nossas regras de conteúdo globalmente, independentemente da posição ou afiliação política de quem publicou. Sabemos que temos mais a fazer, mas estamos progredindo na forma como aplicamos nossas regras", disse a empresa, em nota.
O Facebook ainda disse que os processos internos são auditados com frequência para garantir precisão e imparcialidade e citou casos em que conteúdos de Bolsonaro ou seus apoiadores foram excluídos, como ocorreu em março deste ano.
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