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Brasileira morta em Portugal estava assustada antes de sumir, diz irmã

Angelita Seixas Alves Correia tinha 31 anos e estava desaparecida desde 1º de janeiro - Reprodução
Angelita Seixas Alves Correia tinha 31 anos e estava desaparecida desde 1º de janeiro Imagem: Reprodução

Felipe Munhoz

Colaboração para o UOL, em Lençóis (BA)

13/01/2021 04h00Atualizada em 13/01/2021 13h29

A irmã da brasileira Angelita Seixas Alves Correia, 31 anos, encontrada morta ontem na praia de Matosinhos, distrito do Porto, em Portugal, afirmou hoje ao UOL que, no dia do desaparecimento, a vítima foi visitar uma amiga e, ao sair do local, fez uma chamada em vídeo que deixou a família preocupada. Em seguida, ela conversou com uma sobrinha e, segundo a irmã, "estava assustada e ficava olhando para os lados".

"Ela saiu para ir a casa de uma amiga e não foi mais vista. Assim que saiu da casa da amiga, fez uma live e ficamos preocupados. Foi tudo bem rápido. Entendemos que estava falando de alguém. Em seguida, a minha sobrinha ligou para ela. Estava assustada e ficava olhando para os lados. Eu enviei mensagens, tentamos ligar e perdemos o contato", lembrou, emocionada, a irmã da vítima, Suzana Alcântara, 41.

Angelita, que tinha acabado de se formar para ser personal trainer e era instrutora de dança do fitdance Portugal, desapareceu na madrugada do dia 1° de janeiro.

O comandante local da Polícia Marítima de Leixões, Santos Amaral, informou ao UOL que pertences da vítima foram encontrados na praia no dia seguinte do desaparecimento. Amaral também disse que um surfista avistou um corpo boiando ontem e contatou as autoridades.

Suzana não acredita que a irmã tenha tido alguma desavença ou se envolvido em alguma confusão. "A minha irmã era alegre, alto astral. Fez muitos amigos no Porto. Era querida por todos. Estamos aguardando respostas da polícia. Ainda não terminaram o trabalho deles", destacou.

"Estamos arrasados", diz sobrinha

Barbara Laise Alves Correa, 25 anos, sobrinha de Angelita, disse à reportagem que a tia era a base da família de Goiânia (GO) e que não sabe como seguirão em frente sem ela.

"Estamos arrasados. Nunca esperávamos por isso. Ela sempre foi o alicerce da nossa família. Era ela quem cuidava de mim, da minha avó, da minha tia e minha prima. Meu maior medo sempre foi de algo acontecer com ela. E, agora que aconteceu, não sei como será daqui para frente", desabafou a jovem.

A sobrinha tinha a tia como uma mãe e afirmou que tentará seguir o desejo de Angelita, que era manter a família unida.

"Ela sempre foi uma mãe para mim. Éramos muito apegadas. Estou aqui na casa da minha avó cuidando dela e fazendo companhia. Faremos a vontade da Angelita, de manter a família unida sempre. Ela é o maior exemplo da minha vida. Nunca vi ninguém mais decidida e focada como ela. [Nos] ajudava de todas as formas. Família era tudo para ela", exaltou Barbara.

Silêncio do Itamaraty

Suzana disse que está tentando embarcar para Portugal para acompanhar as investigações e resolver os trâmites legais, mas afirmou que a família não tem condições de trazer o corpo da personal trainer para o Brasil e que não recebeu, até o momento, nenhum suporte do Itamaraty.

"[Não recebemos] nada. De ninguém. Não temos condições financeiras de pagar o translado. Ainda não comprei a passagem. Estou atrás disso. Fiz o teste ontem [de covid-19 — obrigatório para entrar na Europa]. Espero que eu consiga embarcar", contou, esperançosa.

O UOL contatou o Itamaraty para saber se o órgão foi comunicado, se prestará algum suporte aos familiares e acompanhará as investigações, porém, não obteve resposta direta sobre o caso.

O Ministério das Relações Exteriores apenas afirmou, em nota, que presta assistência em caso de morte de cidadão brasileiro no exterior e no translado de restos mortais. A pasta também cita o Decreto 7.724/2012, que diz que há restrições para passar informações pessoais.

O cônsul-adjunto do Consulado-Geral do Brasil no Porto, Fábio Simão Alves, informou ao UOL por e-mail que tomou conhecimento do caso e que acompanha com atenção as investigações em curso, a cargo da Polícia portuguesa.

"O Consulado-Geral foi contatado por familiares da senhora Angelita Correia no último dia 9, sábado. A pedido da família, o Consulado-Geral solicitou ao governo português autorização excepcional que permitirá à irmã da nacional viajar para Portugal a fim de acompanhar o caso. A autorização foi concedida pelas autoridades migratórias na noite de ontem, 12, e a família da nacional foi imediatamente comunicada a respeito", diz o texto. "O Consulado-Geral está pronto para prestar à família toda a assistência cabível", finalizou.

Veja a nota do Itamaraty na íntegra:

O Ministério das Relações Exteriores, por meio de sua rede consular em Portugal, presta toda a assistência legal e materialmente possível a brasileiros naquele país, respeitando os tratados internacionais vigentes e a legislação local, conforme estabelecido pela Convenção de Viena sobre Relações Consulares, o Regimento Interno da Secretaria de Estado das Relações Exteriores e o Manual de Serviço Consular e Jurídico do Itamaraty.

Em caso de óbito de cidadão brasileiro no exterior, como parte do serviço de assistência a nacionais, as embaixadas e os consulados brasileiros prestam aos familiares orientações gerais, no sentido de apoiá-los em suas decisões relativas, por exemplo, ao traslado dos restos mortais, auxiliam seus contatos com autoridades locais, com vistas a obter todos os esclarecimentos necessários sobre os fatos, e, por fim, cuidam da expedição de documentos, como o atestado de óbito brasileiro. Em casos de morte em circunstâncias suspeitas, a assistência consular também inclui o acompanhamento das investigações junto às autoridades locais.

Nos termos do artigo 31 da Lei 12.527/2011 e do artigo 55 do Decreto 7.724/2012, informações pessoais que se referem à intimidade, vida privada, honra e imagem são protegidas por sigilo e não podem ser divulgadas sem "previsão legal ou consentimento expresso da pessoa a que elas se referirem", ou, "caso o titular das informações pessoais esteja morto ou ausente", não podem ser divulgadas sem o consentimento do cônjuge ou companheiro, dos descendentes ou ascendentes.