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Conflitos entre palestinos e israelenses são registrados após cessar-fogo

Forças de segurança israelenses e palestinos se chocam no complexo da mesquita de Al-Aqsa em Jerusalém - AHMAD GHARABLI / AFP
Forças de segurança israelenses e palestinos se chocam no complexo da mesquita de Al-Aqsa em Jerusalém Imagem: AHMAD GHARABLI / AFP

Do UOL, em São Paulo*

21/05/2021 09h36Atualizada em 21/05/2021 12h30

Novos conflitos eclodiram hoje entre palestinos e policiais israelenses na Esplanada das Mesquitas de Jerusalém Oriental, em Al-Aqsa. A ocorrência foi registrada horas depois do cessar-fogo firmado entre Israel e Palestina, que entrou oficialmente em vigor às 2h desta sexta-feira (20h de quinta-feira no horário de Brasília). Segundo a agência de notícias Reuters, médicos disseram que ao menos 20 palestinos ficaram feridos, e dois deles precisaram ser hospitalizados para receber tratamento.

Este foi o primeiro conflito depois do início do cessar-fogo após 11 dias de bombardeios que deixaram pelo menos 243 mortos, sendo 232 palestinos — incluindo 66 crianças — e 12 israelenses. Na manhã de hoje, cinco corpos foram encontrados em túneis subterrâneos da Faixa de Gaza. Autoridades médicas relatam cerca de 2 mil pessoas internadas na região com ferimentos resultantes do confronto iniciado na última semana.

Um vídeo (assista abaixo) divulgado pela rede de televisão Al Jazeera mostra policiais israelenses disparando gás lacrimogêneo contra uma multidão de palestinos. Os registros ainda mostram um homem sendo detido, fiéis sendo socorridos e diversas pessoas correndo na área externa da mesquita, que é considera o terceiro lugar mais sagrado do Islã.

Segundo a rede de televisão, pessoas que estavam dentro da esplanada relataram que após as orações, palestinos decidiram permanecer no local para comemorar o cessar-fogo firmado entre o Hamas e o governo israelense.

"Eles [palestinos] estavam cantando e gritando quando um contingente da polícia israelense [que estava] ao lado da esplanada entrou no complexo e começou a usar medidas de controle de multidão que eles usam o tempo todo, incluindo granadas de choque, bombas de fumaça e gás lacrimogêneo", declarou o jornalista Imran Khan, correspondente da Al Jazeera em Jerusalém Oriental.

O porta-voz da polícia israelense, Micky Rosenfeld, disse à AFP que os policiais foram alvos de palestinos que atiraram pedras contra os agentes e se começaram a se "revoltar" com as medidas de supressão da corporação na mesquita.

Israel usará 'novo nível de força'

Hoje, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu alertou o Hamas que seus militares responderão com "um novo nível de força" se o grupo iniciar disparos foguetes contra Israel, mesmo diante do cessar-fogo.

"Se o Hamas pensa que toleraremos uma garoa de foguetes, está errado", disse o líder israelense, acrescentando que os seus militares reagirão com "um novo nível de força contra qualquer expressão de agressão contra as comunidades ao redor de Gaza e qualquer outra parte de Israel".

"Alcançamos os objetivos, é um êxito excepcional", afirmou Netanyahu à imprensa no quartel-general do exército em Tel Aviv.

O conflito se agravou 10 de maio, quando o Hamas lançou foguetes contra Israel em solidariedade às centenas de palestinos feridos em confrontos com a polícia israelense na Esplanada das Mesquitas. Os distúrbios começaram após os protestos contra a possível expulsão de várias famílias palestinas, em benefício de colonos israelenses, de um bairro da Cidade Sagrada.

Depois dos lançamentos de foguetes, Israel iniciou uma operação para "reduzir" as capacidades militares do Hamas.

O Exército anunciou que matou "25 dirigentes do Hamas" nos bombardeios e que destruiu mais de 100 quilômetros de túneis e dezenas de edifícios. Segundo as Forças Armadas, estas infraestruturas eram usadas pelo grupo para "atividades terroristas".

De acordo com os militares do Estado hebreu, Hamas e Jihad Islâmica lançaram mais de 4.300 foguetes contra Israel. Mais de 90% deles foram interceptados pelo sistema antimísseis israelense.

Apesar da trégua, a situação é preocupante na Cisjordânia, onde os confrontos entre palestinos e as forças de segurança deixaram mais de 25 mortos em 11 dias.

Autoridades palestinas estimam o custo da reconstrução de Gaza em dezenas de milhões de dólares, e economistas disseram que o confronto pode prejudicar a recuperação econômica israelense dos impactos causados pela pandemia de covid-19.

Cessar-fogo delicado

O ministro da Defesa de Israel, Benny Gantz, afirmou que a situação, a partir de agora, será determinada pela "realidade na prática", deixando a entender que Israel continuará com sua política de manter a calmaria se o Hamas fizer o mesmo. Mas, segundo ele, se o grupo islâmico ou outras facções extremistas dispararem algum foguete, morteiro, míssil ou balão incendiário contra Israel, o exército "estará pronto para proteger os cidadãos israelenses".

Apesar de uma sensação de alívio em Israel, alguns líderes de direita criticaram a decisão de Netanyahu e da cúpula de segurança de aceitar um cessar-fogo incondicional. O líder do partido Nova Esperança, Guideon Sa'ar, por exemplo, expressou sua decepção, afirmando que Tel Aviv não obteve nenhuma vantagem tática contra o Hamas nos 11 dias de combates.

Poucos acreditam que a trégua de agora durará muito tempo, afinal, esse foi o quarto grande conflito entre Israel e o Hamas desde 2008. A julgar pela experiência do passado, as hostilidades podem ser retomadas em alguns anos - alternando momentos de mais tranquilidade com mais tensos.

É preciso esperar para saber se o conflito também deixará marcas indeléveis no relacionamento entre os cidadãos da maioria judaica e da minoria árabe de Israel. Nos últimos dias, cidadãos dos dois grupos entraram em confronto de forma inédita em meio a arruaças e tentativas de linchamento mútuas.

Autoridades internacionais defendiam trégua

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fez um apelo a favor de uma "desescalada" imediata. Porém, mesmo depois de conversar com Biden, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que estava decidido a continuar a operação militar em Gaza. "Estou decidido a continuar esta operação até que alcance seu objetivo: devolver a tranquilidade e a segurança aos cidadãos de Israel", disse.

Por outro lado, uma autoridade do Hamas disse anteontem que esperava que os dois lados chegassem a um acordo em até dois dias para encerrar a violência na fronteira. De acordo com o Ministério da Informação de Gaza, os danos materiais no lado palestino giram em torno de 250 milhões de dólares, (cerca de R$ 1.320.000.000).

Ontem, o chefe da diplomacia alemã, Heiko Maas, chegou à região. O ministro alemão expressou a "solidariedade" de seu país com Israel, mas também garantiu seu apoio aos "esforços internacionais em favor de um cessar-fogo".

A chanceler alemã, Angela Merkel, apoiou ontem a manutenção de "contatos indiretos" com o Hamas, considerado um grupo "terrorista" pela União Europeia (UE), indispensável para conseguir um cessar-fogo com Israel.

*Com informações da AFP, Reuters e RFI.