Santos Cruz: Fui ao Haiti por 8 anos e não há melhora nas condições de vida
O general da reserva do Exército Brasileiro Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-comandante da missão militar da ONU no Haiti entre 2007 e 2009, observou durante o UOL Debate que o assassinato do presidente do Haiti, Jovenel Moise, acontece em meio a uma falta de melhora nas condições de vida da população do país e de uma grande instabilidade política junto à interferência dos Estados Unidos.
"A interferência estrangeira no Haiti está presente ao longo de toda história. Você teve o Jean-Bertrand Aristide que foi eleito, depois foi deposto e depois retornou, sempre pela interferência dos EUA. Depois você tem as outras eleições. Teve um período de estabilidade razoável com o René Preval (presidente entre 2006 e 2011), mas na eleição dele você tem que realizar um ajuste matemático para que ele pudesse realizar o governo dele. Mas ele conseguiu tocar com o minimo de harmonia com a missão da ONU presente", explica Santos Cruz.
"Naquele tempo as gangues de rua, que é o crime organizado, dominando áreas que ficou sem presença do estado, isso foi neutralizado. O comércio de rua voltou, então ele veio se acomodando. Eu fui ao Haiti seguidamente por uns oito anos e você não vê as melhorias das condições de vida", continua.
Santos Cruz diz que o população do Haiti é "extremamente dócil" e que os índices de violência na segurança pública não são ruins. A ansiedade pela mudança política e nas condições de vida no país são exploradas de forma nefasta em sua visão.
"Eu peguei ali a fase onde conseguimos neutralizar as gangues. Onde a comunidade internacional passou a investir na polícia do Haiti. As forças armadas tinham sido banidas da organização do país e o presidente Jovenel foi assassinado e voltou com essa ideia. Para os haitianos as forças armadas são um símbolo. É um país que não tem recursos."
"É uma população boa que sofre em todos os aspectos que forem analisar. Então é nesse contexto que acontece o assassinato do presidente", conclui.
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