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Talibã diz que não formará governo com a presença dos EUA no Afeganistão

Do UOL, em São Paulo

23/08/2021 09h48Atualizada em 23/08/2021 10h31

Os talibãs não anunciarão a formação de um novo governo no Afeganistão enquanto houver soldados americanos no país, afirmou à agência AFP uma fonte do movimento islamita.

"Decidimos que a formação do governo (...) não será anunciada enquanto restar um soldado americano no território do Afeganistão", disse uma fonte do grupo.

A informação foi confirmada posteriormente por outro líder do movimento islamita.

O cofundador e número dois do Talibã, mulá Abdul Ghani Baradar, chegou a Cabul no sábado (21) para conversas com outros membros do movimento e políticos para estabelecer um novo governo afegão.

Outros líderes do Talibã foram vistos na capital nos últimos dias, incluindo Khalil Haqqani, um dos terroristas mais procurados pelos Estados Unidos do mundo, que prometeu uma recompensa de US$ 5 milhões por informações que permitissem sua captura.

Grupo ameaça reagir se EUA não retirarem tropas

O grupo fundamentalista islâmico ameaçou hoje reagir se os Estados Unidos e o Reino Unido prorrogarem o prazo para concluir a retirada de suas tropas do Afeganistão.

A declaração chega poucos dias após o presidente dos EUA, Joe Biden, ter dito que os militares podem seguir em território afegão além de 31 de agosto para terminar a retirada de americanos e refugiados.

"Haverá consequências se os EUA ou o Reino Unido tentarem ganhar tempo para continuar as evacuações do Afeganistão", declarou Suhail Shaheen, um dos porta-vozes do Talibã, em entrevista à emissora britânica Sky News. "O dia 31 (de agosto) foi uma linha vermelha", acrescentou.

Ele relembrou que Biden havia dito que as tropas estariam fora até essa data, e estender isso significava estender a ocupação do Afeganistão.

"O presidente Biden anunciou que em 31 de agosto terá retirado todas as tropas americanas. Então se estenderem o limite significa que estarão prorrogando a ocupação", disse Shaheen, acrescentando que isso representaria uma "quebra de confiança" e provocaria uma "reação".

Ontem, quando questionado sobre o prazo para retirada dos americanos do Afeganistão, Biden disse que não há expectativa de estender o prazo de 31 de agosto, mas que o plano será reavaliado com o andamento da operação.

Desde que tomaram o poder no Afeganistão, em 15 de agosto, os talibãs tentam convencer a população que eles mudaram e que o novo regime será menos brutal que o precedente (1996-2001). Mas as promessas não convencem parte da população e milhares de pessoas tentam deixar o país.

Na semana passada, centenas de pessoas tentaram entrar à força em aviões que saíam da capital do Afeganistão, dominada pelo Talibã desde o dia 15. Ao menos 20 pessoas morreram na confusão no aeroporto e seus arredores, incluindo civis que se agarraram na parte externa de um avião militar, mas caíram após a decolagem.

Imagens também mostram mães jogando bebês sobre a cerca de arame farpado do aeroporto de Cabul, pedindo a soldados britânicos que os peguem. Na quinta-feira (19), imagens de outros bebês afegãos sendo entregues a soldados americanos, sem acompanhamento dos pais, chocaram o mundo.

Cerca de 30,3 mil pessoas já foram retiradas do país pelos americanos desde 14 de agosto, informou a Casa Branca. Ao todo, Washington espera resgatar 15 mil americanos e entre 50 mil a 60 mil afegãos. Outras potências ocidentais também participam das operações. A Alemanha já retirou do Afeganistão mais de 2,5 mil pessoas e o Reino Unido, mais de 5,7 mil.

Reunião do G7

O prazo para retirada das tropas de ocupação deve ser um dos temas da reunião virtual dos líderes do G7 convocada para amanhã pelo primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson.

O governo britânico defenderá ante os Estados Unidos que se prolongue as operações de retirada no aeroporto de Cabul, que está sob controle dos militares dos EUA, para além da data-limite de 31 de agosto, informou o governo hoje.

No momento, a presidência rotativa do G7 está com o Reino Unido. O grupo também é formado por Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão e Estados Unidos.

Enquanto isso, o aeroporto de Cabul segue sendo palco de tensões. Pelo menos um soldado afegão morreu e outros três ficaram feridos hoje em um tiroteio em uma das entradas do local, para onde milhares de pessoas se dirigem na tentativa de encontrar lugar nos voos de evacuação.

* Com informações da AFP, Ansa e RFI