Brasileira morta em deserto nos EUA atuou contra a covid-19, diz irmão
A brasileira que foi encontrada morta em uma área de deserto nos Estados Unidos nesta semana havia atuado na linha de frente da covid-19 no Brasil, segundo a família. Lenilda dos Santos, 50, era técnica de enfermagem e trabalhava em dois hospitais em Rondônia. Ao UOL, o irmão disse que ela optou pela travessia para encontrar uma melhor qualidade de vida no novo país. No entanto, Lenilda foi deixada para trás e não sobreviveu às condições extremas do deserto.
"Ela trabalhava no hospital São Lucas, em Ouro Preto do Oeste [RO] e em um hospital público em Vale do Paraíso [RO], onde morava. Ela lutou muito, salvou muitas vidas", contou Leci Pereira. A profissional atuava havia cinco anos no ofício e tinha como desejo ver as filhas, de 22 e 29 anos, se formarem.
Atualmente, as jovens fazem faculdade de direito e a mais velha está grávida de cinco meses, a primeira neta de Lenilda. A notícia chegou quando ela já estava no deserto.
"Ela era muito querida por todo mundo. Todos estão de luto. O retrato do nosso país hoje é o de uma enfermeira, que trabalhou na linha de frente da covid-19 tentando salvar vidas arriscando a própria para ir trabalhar de faxineira nos EUA", disse o irmão.
Segundo Leci, Lenilda já havia tentado cruzar a fronteira dos Estados Unidos no início do ano, em abril, mas acabou sendo deportada após passar três meses detida. "Quando ela voltou ao Brasil, entrou em desespero, e tomou a iniciativa de ir pelo deserto."
O irmão afirma que tentou impedir a travessia, mas Lenilda acabou optando por seguir com três amigos de infância em agosto. Lenilda foi encontrada morta na quarta-feira (15). Ela conseguia se comunicar com a família por meio de mensagens no celular e a filha rastreava a sua localização durante a travessia. O irmão entrou em estado de alerta quando percebeu que ela não respondia mais as mensagens.
"Ela não aguentou e os amigos abandonaram ela no deserto. Na hora que ela mais precisou, eles foram covardes, dizendo que iriam voltar para buscá-la, mas ninguém voltou. Na segunda-feira [6], ela dormiu sozinha e no dia seguinte continuou caminhando sozinha. Ela chegou a pedir para levarem água e explicou onde estava", disse Leci.
"Na minha última conversa com ela, às 15h27 da terça-feira [7], eu perguntei se ela estava sozinha e ela disse que sim, mas ela não queria me preocupar. E depois não respondeu mais. Era 17h08 e ela mandou a localização, acho que já estava mal. Ela não saía do local e eu pedi para alguém ligar para a polícia. Poderiam prender ela, pelo menos ela estaria viva."
Hospital lamentou morte
O Hospital São Lucas de Ouro Preto do Oeste (RO) lamentou a morte de Lenilda em comunicado nas redes sociais.
"Sempre desempenhando suas atividades com dedicação, integridade e comprometimento, características de sua personalidade. Lenilda deixou bons amigos e admiradores de seu trabalho durante todos esses anos em que desempenhou sua função no Hospital São Lucas", diz o texto.
"Prestamos solidariedade aos amigos e familiares, por esta irreparável perda e rogamos para que Deus possa confortá-los nesse momento de grande dor, em que as palavras se apequenam e o espírito busca amparo na fé."
A prefeitura também publicou uma mensagem de pesar.
Convite e abandono
Segundo Leci, os três amigos que acompanharam a irmã conseguiram chegar até os Estados Unidos e pediram desculpas pelo ocorrido. "Eles tinham chegado ao destino e a minha irmã estava morta. Eles pediram desculpas, mas desculpa não vai trazer ela de volta", defende.
Agora, a família espera fazer o translado do corpo para o Brasil. Uma campanha no GoFundMe foi criada por amigos como forma de apoiar os familiares durante o processo.
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