Quem são os 'Justiceiros da Fronteira', que 'assinam' mortes de brasileiros
A assinatura dos "Justiceiros de la Frontera" tem sido recorrente em bilhetes deixados ao lado de pessoas assassinadas entre Pedro Juan Caballero, no Paraguai, e Ponta Porã (MS). Entre as vítimas estão cidadãos brasileiros mortos, geralmente a tiros, e tachados pelo grupo como suspeitos de crimes na região. Um deles foi achado com o recado: 'Não roubar na fronteira'. Desde o sábado (25), já foram quatro casos, mas o número pode passar de cem no total - a maior parte, em território brasileiro.
Segundo a polícia paraguaia, a organização criminosa começou a atuar no país em 2014 e ficou "algum tempo" sem agir. Mas, nos últimos dois meses, diversas ocorrências foram atribuídas a membros do grupo.
Apesar de possíveis integrantes ainda não terem sido identificados, a suspeita é de que os "Justiceiros" façam parte de grandes quadrilhas que atuam na região de fronteira e que buscam "tranquilidade" para continuar suas atividades ilícitas, como venda de drogas e armas em grande escala, sem pequenos crimes paralelos, avaliou o general aposentado Carlos Liceras, em entrevista à TV paraguaia Telefuturo, em agosto deste ano.
Eles já estão associados a cerca de 100 homicídios, segundo estimativas das autoridades locais: 60 do lado brasileiro da fronteira e 40 do lado paraguaio.
Entre os crimes estão os assassinatos de Robson e Jeferson Martinez de Souza, de 19 e 21 anos, respectivamente, baleados com 29 tiros, no dia 1º de agosto, em Pedro Juan Caballero, e o casal de brasileiros Luiz Mateo e Anabel Centurión, também baleados na cidade e abandonados com o bilhete: "Por favor, não roubar".
No sábado, a vítima foi Rogério Laurete, de 26 anos, cujo corpo estava ao lado do recado: "Não roubar na fronteira".
Outro grupo teria prometido "resposta" a Justiceiros
Já na manhã de ontem, foi confirmada a morte de mais um brasileiro na cidade fronteiriça, pelo lado paraguaio. O paulista Carlos Limar de Souza Lima, de 38 anos, foi encontrado na tarde de segunda-feira (27), próximo ao quartel do Exército paraguaio, com um bilhete junto ao corpo.
Mas, dessa vez, a assinatura pertencia ao grupo "O Crime", que prometeu responder à ação dos "Justiceiros" na área. Segundo os registros policiais, o corpo da vítima foi deixado por um carro em um terreno localizado a 5 km da fronteira com o Brasil. Ele tinha sinais de tortura, um corte no abdômen, havia sido decapitado e a cabeça estava em um saco plástico.
No local, ainda foi achado um bilhete escrito à mão que dizia: 'Nós do crime estamos deixando claro que não iremos mais admitir covardias cometidas por esses justiceiros, seja quem for. Assinado: O crime'
Sem documentos, a vítima foi identificada com a ajuda de tatuagens espalhadas pelo corpo, entre elas, a de um palhaço, o que fez a investigação acreditar que ela seria integrante da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). A suspeita é que o brasileiro tenha sido capturado no último sábado, junto a outro rapaz, que não teve a identidade revelada e ainda não foi localizado.
A polícia paraguaia trabalha com duas hipóteses: a primeira é que o bilhete tenha sido deixado para despistar as investigações e a segunda é que Carlos tenha sido uma vítima do novo grupo criminoso da fronteira.
Essa facção teria sido criada para disputar território com os "Justiceiros da Fronteira". O UOL entrou em contato com o Itamaraty para buscar detalhes sobre o acompanhamento dos grupos por parte das autoridades brasileiras, mas, até o momento, não obteve resposta. A representação afirmou, sobre os casos isolados de execuções dos últimos dias, que presta apoio aos familiares.
*Com colaboração de Simone Machado
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