Maior traficante da Colômbia será extraditado para os Estados Unidos
O narcotraficante colombiano líder do "Clã del Golfo", Dairo Antonio Úsuga David, conhecido como Otoniel, foi preso no último sábado (23). Segundo o ministro da defesa da Colômbia, Diego Molano, o próximo passo é atender ao pedido de extradição para os Estados Unidos. O governo americano oferecia US$ 5 milhões por informações que levassem à sua captura, e o colombiano cerca de US$ 800 mil.
"Contra Otoniel pesa uma ordem de extradição", afirmou Molano, em entrevista ao jornal El Tiempo. "O principal é que o 'clã do Golfo' se tornou uma das maiores ameaças do narcotráfico com planos de expansão por todo o país. Com sua captura, esses planos de expansão são truncados", completa.
Molano também destacou que a captura do narcotraficante foi realizada por meio do trabalho coordenado, que conseguiu retirá-lo de sua zona de segurança.
"Há cerca de um mês, com as informações de inteligência, percebemos que ele estava utilizando práticas como e-mails humanos, há muito tempo não mantinha comunicação por rádio ou celular. Além disso, devido aos golpes da Força Pública para suas estruturas, ele já havia começado a sentir carência. O que ele disse aos membros da Polícia e das Forças Especiais que o estavam levando no helicóptero foi 'eles me venceram, me ganharam'", comenta Molano.
Captura
O megaoperação para colocar atrás das grades o traficante mais procurado da Colômbia acabou após quase uma década de intensas buscas.
Otoniel, de 50 anos, foi detido sozinho no município de Necoclí, no noroeste da Colômbia, em uma operação conjunta da qual participaram mais de 300 soldados do Exército, Força Aérea e Polícia Federal da Colômbia, transportados em mais de vinte helicópteros.
"É o golpe mais duro que já foi infligido ao narcotráfico neste século em nosso país. Esse golpe só é comparável à queda de Pablo Escobar nos anos 1990", disse o presidente da Colômbia, Iván Duque, comemorando a notícia.
Escobar (1947-1993), lendário chefe do cartel de Medellín, foi de longe o traficante de drogas mais famoso do mundo. Mas a comparação não parece exagerada, pelo menos do ponto de vista do esforço feito pelo governo colombiano para capturar Otoniel.
Em 2015, as autoridades colombianas já tinham feito uma tentativa de captura Otoniel com cerca de 1.200 soldados, pertencentes aos grupos de elite mais bem preparados do país - isso é mais do que o dobro dos 500 que rastreavam Escobar nos anos 1990.
Molano disse que o "Clã del Golfo" - uma organização criminosa paramilitar de extrema-direita -, se tornou "a maior ameaça" nos últimos anos porque "a maior quantidade de toneladas de coca que a Colômbia enviou para os mercados dos Estados Unidos e para a Europa foi administrada" por esta organização criminosa.
Segundo a imprensa colombiana, Otoniel também era procurado pela Interpol por diversos homicídios, sequestros, formação de quadrilha e outros crimes. Ele é réu em mais de 120 processos judiciais na colômbia.
História Otoniel
Otoniel nasceu em Antioquia no início dos anos 70. Aos 16 anos ingressou na extinta guerrilha Exército de Libertação Popular (EPL) com seu irmão Juan de Dios Úsuga David, o "Giovanni".
Mais tarde, ingressou nas FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colombia) e depois em outro grupo no extremo posto do espectro político, o grupo paramilitar Autodefesas Unidas da Colômbia.
Em 2005, o grupo se desmobilizou, largando as armas. Os irmãos então se juntaram ao chefe do narcotráfico Daniel Rendón Herrera, conhecido como "Don Mario". Quando Don Mario foi capturado em 2009, Otoniel e Giovanni ficaram no comando da organização.
Otoniel se tornou o líder máximo quando seu irmão foi morto pela Polícia Nacional durante uma batida em uma festa de fim de ano, em 1º de janeiro de 2012.
Cartel
Considerado um grande cartel, o Clã del Golfo era inicialmente conhecido como Urabeños, pela região de Urabá onde opera. Mas o grupo tinha braços em grande parte do país e em outros países - membros do grupo foram capturados no Brasil, na Argentina, no Peru, na Espanha e em Honduras.
O núcleo de poder do cartel é composto não só por Otoniel e Giovanni, mas também vários primos e outros parentes próximos dos dois.
Por exemplo, Francisco José Morelo Peñata, conhecido pelo apelido de "El Negro Sarley", teve um relacionamento amoroso com uma das irmãs de Otoniel, segundo a polícia, e se tornou o segundo na organização após a morte de Giovanni. Peñata foi morto em uma operação policial em abril de 2013.
O responsável pelas finanças do grupo era a namorada de Otoniel, Blanca Senobia Madrid Benjumea, a "La Flaca", que foi capturada em 2015. E quem fazia o contato com cartéis mexicanos e coordenava o narcotráfico para a América Central era o sobrinho de Otoniel, Harlison Úsuga, o "Pedro Arias" , também preso em 2015.
Em agosto de 2020, o governo colombiano autorizou a extradição para os Estados Unidos de Alexander Montoya Úsuga, conhecido como 'El Flaco', primo de Otoniel que havia sido capturado em 2012 em Honduras.
O Departamento de Justiça dos Estados Unidos descreveu o Clã del Golfo como "uma das organizações transnacionais do crime organizado mais importantes" entre as ameaças ao país.
Por outro lado, desde os tempos em que eram conhecidos como Urabeños, o Clã del Golfo distribuía panfletos que se autodenominavam Autodefensas Gaitanistas da Colômbia, o que é considerado pela imprensa colombiana um estratagema para ocultar seus verdadeiros objetivos.
* Com informações da BBC
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