Israel vigia palestinos com sistema de reconhecimento facial na Cisjordânia
Os militares israelenses aumentaram seus esforços de vigilância na região ocupada na Cisjordânia, por meio de um sistema de reconhecimento facial para monitorar os cidadãos palestinos.
Lançado nos últimos dois anos, a tecnologia chamada Blue Wolf envolve uma rede de câmeras e smartphones que captura fotos de rostos de palestinos, que são vinculadas a um banco de dados de imagens. O aplicativo do telefone traz notificações em cores diferentes para alertar os soldados se uma pessoa deve ser detida, se já foi presa ou se não apresenta ameaça.
Para construir o banco de dados usado pela Blue Wolf, soldados israelenses fotografaram vários palestinos no ano passado, incluindo crianças e idosos.
Além do Blue Wolf, os militares israelenses instalaram câmeras de varredura facial na cidade de Hebron, no sul da Cisjordânia, para ajudar os soldados nos postos de controle a identificar os palestinos antes mesmo de apresentarem suas carteiras de identidade. Uma rede mais ampla de câmeras de circuito fechado de televisão, apelidada de "Hebron Smart City", fornece monitoramento em tempo real da população da cidade.
Em anonimato, ex-militares contrários à ocupação israelense afirmaram em uma reportagem do The Washington Post, publicada nesta segunda-feira, que essas iniciativas são esforços para aumentar a capacidade de defender Israel contra terroristas, além de controlar possíveis suspeitos.
De acordo com a reportagem, representantes das Forças de Defesa de Israel afirmaram que esse método de vigilância faz parte de suas "operações de segurança de rotina " para evitar ataques de grupos extremistas e melhorar a qualidade de vida da população palestina na Cisjordânia.
Outros recursos de vigilância
Um dos combatentes afirmou ao The Post que o banco de dados do Blue Wolf é uma versão reduzida de outro vasto sistema, chamado Wolf Pack, que contém perfis de praticamente todos os palestinos na Cisjordânia, incluindo fotos dos indivíduos, suas histórias de família, educação e uma classificação de segurança para cada pessoa.
As fotos tiradas por cada unidade totalizaram centenas a cada semana, segundo relatos de um ex-soldado dizendo que a unidade deveria tirar pelo menos 1.500. E acrescentou também que os militares de todos os cantos da Cisjordânia competiriam por prêmios, como uma noite de folga, se tirassem a maior quantidade de fotos.
O grande esforço para construir o banco de dados da Blue Wolf com imagens diminuiu nos últimos meses, mas as tropas continuam a usar a ferramenta para identificar palestinos.
Um aplicativo para smartphone, conhecido como White Wolf, foi desenvolvido para uso de colonos judeus na Cisjordânia. Embora esses civis não tenham autoriação para deter pessoas, os voluntários da segurança podem usar o White Wolf para escanear a carteira de identidade de um palestino antes que a pessoa entre em um assentamento, por exemplo, para trabalhar.
Ataque à Privacidade
Em diversos países ocidentais, semelhantes tecnologias de vigilância estão sendo calorosamente questionadas por infringirem direitos constitucionais de liberdade e privacidade das pessoas.
O uso oficial da tecnologia de reconhecimento facial foi banido por pelo menos uma dúzia de cidades americanas, incluindo Boston e São Francisco, segundo um estudo do Surveillance Technology Oversight Project. Mas um estudo realizado recentemente pelo Escritório do Governo dos EUA descobriu que 20 agências federais usam esse recurso para identificar pessoas suspeitas de infringir a lei durante protestos e confrontos entre civis.
E neste mês, o Parlamento Europeu reivindicou a proibição do uso de reconhecimento facial pela polícia em locais públicos. E a Information Technology and Innovation Foundation, um grupo comercial que representa as empresas de tecnologia, contestou o pedido, alegando que isso prejudicaria os esforços da aplicação da lei para "responder efetivamente ao crime e ao terrorismo".
Dentro de Israel, há uma proposta para policiais introduzirem câmeras de reconhecimento facial em espaços públicos, mas a medida atraiu oposição substancial de parte dos civis. E a agência governamental encarregada de proteger a privacidade se manifestou contra a proposta.
"Enquanto os países desenvolvidos ao redor do mundo impõem restrições à fotografia, reconhecimento facial e vigilância, a situação descrita [em Hebron] constitui uma grave violação dos direitos básicos, como o direito à privacidade, já que os soldados são incentivados a coletar o máximo de fotos de palestinos homens, mulheres e crianças", disse Roni Pelli, advogado da Associação pelos Direitos Civis de Israel, em entrevista ao The Washington Post, após ser informado sobre o esforço de vigilância.
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