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Extrema-direita e esquerda vão disputar 2º turno das eleições no Chile

José Antonio Kast (Partido Republicano) e Gabriel Boric (Apruebo Dignidad), candidatos à Presidência - Claudio Reyes and Martin Bernetti/AFP
José Antonio Kast (Partido Republicano) e Gabriel Boric (Apruebo Dignidad), candidatos à Presidência Imagem: Claudio Reyes and Martin Bernetti/AFP

Do UOL, em São Paulo

21/11/2021 22h00Atualizada em 21/11/2021 23h54

O Chile realizou neste domingo (21) as eleições mais polarizadas e incertas de sua história recente, que escolherão o sucessor do presidente conservador Sebastián Piñera e renovarão toda a Câmara dos Deputados e parte do Senado.

Com 94,83% das urnas apuradas, os números confirmam uma disputa em segundo turno, no dia 19 de dezembro, entre o advogado de extrema-direita José Antonio Kast (foto acima, à esq.) e o deputado de esquerda Gabriel Boric (à dir.). Por volta das 23h45 (de Brasília, mesmo horário em Santiago), eles tinham 27,97% e 25,70% dos votos, respectivamente, segundo dados oficiais.

Nas próximas quatro semanas, eles devem buscar o apoio dos demais candidatos. Por ora, o candidato de direita Franco Parisi, do Partido do Povo, que mora nos Estados Unidos e fez a campanha remotamente, tem 12,93% dos votos, e o candidato governista Sebástian Sichel, do Chile Vamos, 12,65%.

Yasna Provoste, do Novo Pacto Social, nova designação da tradicional Concertação, de centro, tem 11,69%. À esquerda, Marco Enríquez-Ominami aparece com 7,60% e Eduardo Artés, 1,46%.

Cerca de 15 milhões de cidadãos do Chile, de uma população de 19 milhões, estavam aptos a votar. O pleito ocorreu em um contexto de crise social e política e de um processo constituinte que pretende enterrar os últimos resquícios da ditadura do general Augusto Pinochet (1973-1990).

A eleição também ocorre num cenário de inflação galopante, um sistema previdenciário descapitalizado e desigualdade acentuada pela pandemia de covid-19. O país ainda está há dois anos mergulhado na mais grave crise das últimas três décadas, quando em outubro de 2019 eclodiram os maiores protestos populares desde a era Pinochet.

Quem são Kast e Boric

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José Antonio Kast, de extrema-direita, candidato à presidência do Chile em 2021
Imagem: Ernesto Benavides/AFP

Kast, do Partido Republicano, assumiu a liderança da disputa apostando num forte discurso nacionalista anti-imigração, numa repetição de processos que ocorreram no Brasil e Estados Unidos, que também viram candidatos de extrema-direita ascenderem em momentos de desgaste da política tradicional.

Na campanha de 2017, quando foi candidato independente e recebeu quase 8% dos votos, Kast chegou ao ponto de dizer que, se Pinochet estivesse vivo, teria votado nele. Neste domingo, Kast afirmou que esta eleição era "crucial" para o futuro do país. "Vamos continuar trabalhando por um Chile livre e pacífico", disse.

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Gabriel Boric, de esquerda, candidato à presidência do Chile em 2021
Imagem: Claudio Reyes/AFP

Já Boric tem defendido um modelo de Estado semelhante ao de bem-estar social de alguns países europeus e a a criação de uma aposentadoria mínima de 250 mil pesos (cerca de R$ 1,7 mil).

"Esta eleição não é sobre uma pessoa, é sobre um projeto coletivo (...) e que somos capazes de construir um Chile digno", disse Boric neste domingo. Ele se tornou popular há uma década como líder estudantil e é o candidato da coalizão Apruebo Dignidad, formada pela Frente Amplio e pelo Partido Comunista.

Constituinte em andamento

Após os violentos protestos em outubro de 2019, que se opunham ao aumento do custo do transporte público, mas tinham como pano de fundo a desigualdade crescente e a impunidade da elite empresarial e política envolvida em múltiplos casos de corrupção, o Chile decidiu elaborar uma nova Constituição para substituir a atual, herdada da ditadura de Pinochet.

A Assembleia Constituinte, que iniciou seus trabalhos em 4 de julho, é composta por 155 delegados — na maioria, cidadãos progressistas —, entre os quais se incluem, pela primeira vez na história do país, 17 representantes dos dez povos indígenas.

Elisa Loncón, a professora universitária indígena que preside a Assembleia Constituinte, disse que "não importa quem ganhará", já que o próximo presidente deverá governar "na chave constitucional". "Quem vencer hoje [ou no segundo turno] será um governo de transição que no futuro deverá analisar como implementar a nova Constituição", afirmou.

A Assembleia Constituinte tem um ano para redigir uma nova Constituição, que será então submetida à votação popular em outro referendo.

(Com AFP, Deutsche Welle e EFE)