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Prédio do Clarín, maior jornal da Argentina, é atacado com bombas

Grupo de pelo menos 9 pessoas (à dir.) jogou coquetéis molotov na entrada do prédio do Clarín - Reprodução/Twitter/Clarín
Grupo de pelo menos 9 pessoas (à dir.) jogou coquetéis molotov na entrada do prédio do Clarín Imagem: Reprodução/Twitter/Clarín

Do UOL, em São Paulo

23/11/2021 15h15Atualizada em 23/11/2021 16h35

Um grupo de pelo menos nove pessoas atacou a sede do Clarín na noite de ontem, em Buenos Aires, capital da Argentina. O prédio do jornal, o maior do país, foi atingido por pelo menos 7 ou 8 coquetéis molotov, segundo informações do próprio veículo.

A equipe de seguranças que vigiava o prédio detalhou que o grupo de suspeitos encapuzados parou em frente a um prédio vizinho, por volta de 23h05 de ontem. Pouco depois, eles voltam a caminhar já acendendo os coquetéis.

O explosivo de fabricação caseira é feito com uma garrafa de vidro cheia de algum combustível e com um pavio no topo.

Dois ônibus de passageiros passam pela via no mesmo momento, o que atrasa o ataque em alguns segundos, mas logo as pessoas envolvidas começam a jogar as garrafas contra a sede do Clarín. A primeira não explode. A segunda cai em uma árvore próxima à fachada e cria as primeiras chamas, com mais 5 ou 6 bombas sendo jogadas logo em seguida.

Os suspeitos conseguiram fugir, mas, apesar do susto, não houve feridos ou danos materiais. Os artefatos que atingiram a calçada ou o hall de entrada do prédio, causando um princípio de incêndio, deixaram apenas marcas escuras de combustível no chão, segundo o diário.

Os bombeiros chegaram a ir até o local, chegando por volta das 23h15, mas não precisaram intervir, já que as chamas haviam se apagado. O caso já é investigado por um juiz federal que definiu o delito como "intimidação pública".

Informações preliminares divulgadas pelo próprio jornal dão conta de que os peritos encontraram uma impressão digital em uma das garrafas que não explodiu.

Já as imagens adquiridas pelo jornal, flagrando o ataque, estariam "muito escuras" para o propósito da investigação, o que levou as autoridades locais a pedirem imagens das câmeras de vigilância dos prédios de todo o entorno, com o objetivo de traçar melhor o caminho de fuga e possíveis identidades dos suspeitos.

"Na noite de segunda-feira um grupo de pessoas atacou a sede do diário e do Grupo Clarín na rua Piedras, 1743, na cidade de Buenos Aires. Lamentamos e condenamos este grave incidente que a primeira vista parece ser uma expressão violenta de intolerância contra um meio de comunicação. Esperamos urgentemente esclarecismos e punições", declararam os donos do jornal em comunicado nas redes sociais.

Presidente do país condena "violência"

Alberto Fernández, presidente da Argentina, expressou "repúdio" pelo ataque ao Clarín, já na tarde de hoje. Em suas redes sociais, o político afirmou que episódios do tipo atrapalham a democracia.

"Quero expressar nosso repúdio ao episódio registrado em frente à sede do diário Clarín. A violência sempre perturba a convivência democrática. Esperamos que os acontecimentos sejam esclarecidos e que os autores sejam identificados pela investigação que está em curso".

O ex-presidente do país Mauricio Macri também condenou o episódio, definindo o ataque como uma tentativa de "amedrontar a imprensa".

"O ataque ao Clarín é uma tentativa gravíssima de amedrontar o veículo e toda a imprensa. Um fato inaceitável que lembra as práticas violentas do passado. Repudio essa agressão e envio minha solidariedade. Que o governo e a Justiça esclareçam o que ocorreu e detenham os responsáveis", escreveu ele em sua conta no Twitter.

O atual ministro da Segurança do país, Aníbal Fernández, também usou as redes sociais para destacar que confia "que os autores serão identificados e punidos". Já a Adepa (Associação de Entidades Jornalísticas da Argentina) afirmou que "condena energicamente o fato, que é uma expressão violenta de intolerância contra um grupo de meios de comunicação e configura um grave ataque à liberdade de expressão".

Sede também sofreu ataque em 1973

Essa não é a primeira vez que o prédio do Clarín sofre um ataque. Em 11 de setembro de 1973, membros da guerrilha ERP 22 de Agosto, que fazia oposição a Juan Domingo Perón e seus aliados, sequestrou um executivo do jornal com o objetivo de publicar matérias com conteúdo controlado pelo grupo, que tinha orientação trotskista.

Na época, o último governo de uma Ditadura Militar iniciada em 1966 havia sido deposto há menos de 4 meses, com a saída do presidente Alejandro Augustín Lanusse, e Perón era visto como o favorito nas primeira eleições democráticas.

No mesmo dia da publicação das notas da oposição, uma delas na capa, membros de um grupo peronista de extrema-direita, armados com metralhadoras e fuzis, invadiram a sede do jornal, agredindo funcionários, metralhando objetos do prédio e jogando coquetéis molotov no edifício, dando início a um princípio de incêndio, segundo arquivos do próprio Clarín.

O grupo ainda deixou bombas de alto poder de destruição ativadas, mas os artefatos não explodiram "por um milagre", detalha o site do jornal.

Ao contrário do episódio registrado ontem, houve feridos no ataque de 1973 - entre eles, uma garota de apenas 11 anos, Inés María Castro.